Responsáveis por polinizar vários tipos de plantas e frutas, as abelhas ainda produzem mel, própolis, pólen, geleia real, cera e uma boa variedade de alimentos. A extinção dessa espécie no planeta provocaria um desequilíbrio no ecossistema da natureza de consequências imprevisíveis. Pois um estudo acende um alerta para essa possibilidade, risco impensável tempos atrás: segundo pesquisadores da Universidade Nacional do Comahue, em Bariloche, Argentina, houve uma redução de 25% na população de abelhas em todo o mundo entre 1990 e 2010. Os autores, Eduardo Zattara e Marcelo Aizen, utilizaram o banco de dados do GBIF (Sistema Global de Informação sobre Biodiversidade) para realizar o levantamento.

A plataforma engloba informações de museus de história natural de todo o mundo. Inclui ainda documentação que vem desde o século 18, além de armazenar registros fotográficos e analíticos feitos por cientistas internacionais. A inédita pesquisa argentina analisou o declínio real na diversidade de abelhas retratado pelos dados do GBIF e compara esses dados com informações sobre outros insetos. Trabalhos anteriores eram feitos apenas em nível regional, sem abordar toda a variedade que envolve as mais de 300 espécies de zangões.

A principal causa para a redução da quantidade de abelhas na natureza é a ação humana, responsável pelas mudanças climáticas, a fragmentação e o desmatamento das áreas com vegetação nativa e o uso excessivo de agrotóxicos. Em relação aos agrotóxicos, o Brasil é um dos maiores culpados pois permite o uso de produtos já banidos nos EUA e na Europa. Para Ricardo Orsi, professor da Unesp de Botucatu e especialista sobre os efeitos de agrotóxicos nas abelhas, os inseticidas, fungicidas e herbicidas interferem diretamente na sobrevivência das colônias. “Esse produtos comprometem importantes vias fisiológicas e comportamentais desses insetos”, afirma. A toxicidade aguda dos agrotóxicos é facilmente percebida por quem trabalha diretamente com abelhas. “A vida acaba onde são aplicados esses venenos: os insetos morrem e até as pessoas são afetadas”, afirma Elói Viana, presidente da Associação Paulista de Apicultores. O declínio da população de abelhas pode representar um desastre para biodiversidade e para a agricultura não apenas no Brasil, mas em todo o planeta.