Começou como uma piada.

Perguntaram ao candidato quais as mudanças seu plano de governo propunha para a economia.

Ele, como não fazia a menor ideia do que responder, pediu aos jornalistas que perguntassem ao seu recém apontado ministro:

– “Pergunta no Posto Ipiranga!” — numa referência ao filme comercial do posto de gasolina que tem de tudo.

Todos riram.

Brincadeira ingênua, só para quebrar o gelo.

Durante algumas semanas, o presidente repetiu a mesma piada, para diversos assuntos.

Sempre com o mesmo efeito.

Divertido, esse presidente, todos pensavam.

E assim foi.

Se elegeu.

Em janeiro de 2019, o presidente assumiu o cargo.

A cerimônia, como sempre muito pomposa, com autoridades locais e internacionais.

Ao final, um jornalista conseguiu se infiltrar e, em rede nacional, disparou uma pergunta simplória:

– E aí presidente? Está feliz?

– Opa! Sabe como é, “O Primeiro Sutiã A Gente Nunca Esquece!”, né verdade?

O jornalistas se entreolharam, rindo amarelo, tentando entender a piada.

Analistas sugeriram que o presidente pretendia ampliar os investimentos na área têxtil.

Mas a verdade é que foi aí que a coisa começou a encrencar, para os mais observadores.

Porque sempre que era confrontado com alguma dúvida da imprensa, o presidente se saia com um slogan publicitário.

Não importava o assunto.

Uma pergunta séria como:

– Tudo bem com a mudança da embaixada, presidente?

Resultava num enigmático:

– Opa! “Amo muito tudo isso!”

Alguns jornalistas queriam acreditar que aquela estratégia passaria com o tempo. Que era apenas uma tentativa de se familiarizar com os meandros do poder, evitando declarações polêmicas.

Mas o presidente não estava nem aí.

Era uma metralhadora de frases publicitárias.

Todas as perguntas que lhe faziam, a resposta vinha do mesmo jeito: slogans. Velhos, novos, não importa.

Uma coisa raríssima.

– Presidente, o senhor acha que o Lula tem que continuar preso?

– Claro! Curitiba é “Lugar de Gente Feliz”.

– E o reajuste do salário mínimo, presidente?

– “Abuse e Use!”

Um jornalista foi mais fundo na questão.

Perguntou ao ministro da Justiça como eram as reuniões internas no Planalto.

– Nessas reuniões o presidente se expressa normalmente? Ou também só fala em slogans?

O ministro nem se deu ao trabalho de responder. Apenas revirou os olhos.

Aquilo tinha virado uma obsessão. Um T.O.C., sei lá.

Pior. Alguns cujo convívio com o presidente era mais frequente, estavam assimilando o vício também.

O vice-presidente, sem papas na língua, quando assumiu o governo numa viagem do presidente, foi questionado se estava tranquilo para ocupar o cargo temporariamente:

– “Deu Duro, Tomo Um Dreher!”

A primeira dama numa viagem pelo interior, mostrou o novo programa de alimentação para comunidades carentes:
– “Vale por um bifinho!”

Quatro anos se passaram e a estratégia de falar por slogans do presidente parecia ter dado resultado.

Economia aquecida, corrupção tinha praticamente desaparecido, índices de violência mais baixos que nunca.

Foi chegando o período da eleição e o país estava de vento em popa.

O presidente chamou, então, uma reunião onde — todos sabiam – pretendia se lançar candidato à reeleição e queria contar com o apoio de todos os ministros:

– Afinal, “Quem pede um, pede bis!”. — não perdeu o hábito.

Todos aplaudiram efusivos.

Estavam com o presidente para o que desse e viesse.

Menos o ministro da Justiça.

Esse já estava por aqui dessa palhaçada e tinha planos bem diferentes.

Esperou que todos saíssem da sala e no seu jeito muito discreto e reservado, revelou:

– “Eu Sou Você Amanhã”, presidente.