Algumas das sanções que os americanos e a União Europeia querem impor a Vladimir Putin podem representar um tiro no pé. Isso se refere, especialmente, ao fato da tentativa de se excluir a Rússia do sistema internacional de pagamentos, o chamado Swift. Ocorre que a Alemanha compra dos russos a metade do gás que abastece suas residências, escritórios e empresas e precisa desse serviço bancário mundial para pagar pelo produto que recebe. Se não pagar, o abastecimento do gás russo será cortado por Putin, que já fez ameaças nesse sentido. Ou seja, sem o gás, os alemães vão morrer de frio (calefação) e fome (o gás russo abastece suas cozinhas e empresas). E isso não é mera questão de retórica. É fato incontestável. Tanto que o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz está morrendo de medo que essa sanção seja realmente efetivada.

Essa questão do gás russo no abastecimento da Alemanha, e muitos outros países da Europa, como a Itália e até o Reino Unido, já havia sido levantada pelo governo americano. Biden havia alertado para essa extrema dependência dos russos, mas os alemães, da época da primeira-ministra Ângela Merkel e do presidente Frank-Walter Steinmeier, não levaram esse risco em conta. Gastaram uma fortuna para bancar o primeiro gasoduto Nord Stream, ligando a Rússia à Alemanha, e recentemente empenharam mais uma outra fortuna para construir o Nord Stream 2, ligando São Petesburgo (Rússia) ao leste alemão, com os dutos passando por baixo do Mar Báltico, sem cruzar pelo território ucraniano. Esse novo gasoduto duplica a capacidade de fornecimento do produto. Será que Putin já planejava anexar a Ucrânia quando aceitou construir o gasoduto gigantesco até a Alemanha? É provável.

Alemães poderão morrer sem o gás russo

O fato é que agora a Alemanha não tem o que fazer. Depende da Rússia para o fornecimento da metade de suas necessidades de gás/energia. A outra metade, os alemães obtêm de energia alternativa, como eólica e solar, por exemplo (as usinas nucleares estão sendo desativadas por lá). Agora, a Alemanha está num mato sem cachorro. Se apoiar a União Européia para cancelar a Rússia do sistema Swif pode estar assinando o atestado de óbito de milhares de alemães. Putin pode ser do mal, mas é um gênio do mal, formado na KGB. Planejou o ataque para a tomada da Ucrânia com muita paciência e antecedência, como faziam os enxadristas russos, grandes campeões no passado de glórias, como Karpov e Kasparov.

Putin planejou cada detalhe dessa invasão, mas se sairá vencedor, isso já é outra questão. A guerra dura quatro dias e ele ainda não conseguiu tomar a capital Kiev, embora a esteja cercando a cidade. E também não conseguiu depor Volodymyr Zelensky, como gostaria de ter feito. Por ele, o líder ucraniano já estaria preso e executado. Ninguém se iluda. Putin pretende matar Zelensky e colocar um pau mandado seu na presidência da Ucrânia, que, fatalmente, será anexada à Rússia, assim como fez em 2014 com a Criméia, em seu sonho megalomaníaco de reconstruir a velha União Soviética. Foi por isso que Biden ofereceu ajuda para tirar Zelensky de Kiev, mas ele disse que não precisava de uma carona, mas de armas para resistir à invasão. E está resistindo, da maneira que pode, armando pessoas de 18 a 60 anos, e com coquetéis molotov atirados contra os tanques russos. Um pesadelo, pois a cada 10 russos, três têm familiares na Ucrânia. É uma luta fratricida.

Zelensky conseguirá resistir? É improvável

De fato, há países mandando mais armas à Ucrânia, como os EUA, Inglaterra e Canadá, mas dificilmente Zelensky conseguirá evitar o pior. É questão de dias. Ocorre que a relação de forças é incomparável. A Rússia possui 900 mil solados na ativa e 2 milhões na reserva, enquanto a Ucrânia tem 196 mil soldados na ativa e 900 mil na reserva, embora o armamento russo seja mais efetivo e moderno. Enquanto a Rússia gastou no ano passado US$ 45,8 bilhões em defesa, a Ucrânia gastou apenas R$ 4,7 bilhões, um décimo do que Putin gastou. O massacre acontece também na quantidade de armamentos. A Ucrânia tem 3.309 peças de artilharia (tanques e blindados), enquanto a Rússia tem 15.857. A Rússia tem 1.391 aviões de guerra e a Ucrânia apenas 132. Os russo têm 948 helicópteros e a Ucrânia apenas 55. Em matéria de submarinos a covardia é maior. A Rússia tem 49, inclusive nucleares, e a Ucrânia não tem nenhum.

Portanto, a ocupação total da Ucrânia será uma questão de dias. Neste domingo, 27, os russo já haviam praticamente tomado Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, e cercado Kiev. Só não deram o xeque mate porque está faltando óleo diesel para mover os tanques russos, enquanto Zelensk mandou colocar cadáveres da guerra, inclusive dos soldados russos (ele fala na morte de 1.500 invasores) para obstruir a passagem dos tanques invasores. Infelizmente, o mundo assiste assustado a uma guerra insana, provocada por um ditador com mania de se eternizar no poder, embora já seja o imperador russo há 20 anos.

Alô, bolsonaristas e não bolsonaristas, o que Bolsonaro, amiguinho de Putin, também sempre quis, foi se perpetuar no poder e por isso tentou golpes de estado no ano passado. Deus queira que Putin seja considerado um pária internacional, isolado da comunidade internacional, seja lá o que acontecer na Ucrânia. O ideal é que o mundo conseguisse se unir contra esse pulha. Por enquanto, só há intenções, mas pouca ação efetiva para escorraçar esse facínora da face da terra.