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FERA Neguin está confiante: "Sou bom em todos os fundamentos"

Com a cabeça e as mãos apoiadas no chão, o dançarino flexiona o quadril e movimenta as pernas. Uma parte do corpo fica na vertical e a outra, na horizontal. De cabeça para baixo. Difícil visualizar? De fato, os bboys, como são chamados os dançarinos de break, parecem mesmo "quebrados" – como sugere o nome desse tipo de dança de rua criada no Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos, no fim da década de 70. São coreografias arrojadas que o dançarino paranaense Fabiano Carvalho Lopes, 21 anos, aprendeu a fazer sozinho, vendo vídeos na internet, em 2002. Hoje, "Neguin", como é conhecido, está entre os 16 melhores breakdancers do planeta. Todos eles vão disputar o campeonato mundial de breakdancing, no dia 18, em Nova York. Não há prêmios em dinheiro – a estatueta dá prestígio e abre caminhos. "Quero mostrar para os americanos o que nós, brasileiros, podemos fazer com o break que eles criaram", diz Neguin. Praticante de capoeira desde os 6 anos de idade, ele usa movimentos dessa dança-luta tupiniquim em suas performances, e faz sucesso. Sua mistura já virou marca – reconhecida internacionalmente. "Neguin, Brasil, capoeira", grita o apresentador de uma batalha em Roterdã, na Holanda, ao chamar o brasileiro ao palco.

A competição funciona assim: dois b-boys sobem ao palco a cada round.Eles têm alguns segundos para executar coreografias préensaiadas, mas sujeitas ao improviso – sempre provocando o adversário com gestos e olhares. Quem vencer, passa para a próxima etapa. Desse mata-mata, sairá o melhor breakdancer do mundo. O título é inédito no Brasil. Neguin treina diariamente para tentar conquistá-lo – e exibe autoconfiança. "Meu estilo é completo. Sou bom em todos os fundamentos da dança."

Quando não está viajando pelo Brasil ou pelo mundo para competir e dar aulas, Neguin ensina crianças no projeto social Arte nos Bairros, em Itajaí, Santa Catarina, onde mora atualmente. Ele já conheceu 20 países por causa do trabalho, da França a Coreia do Sul. "Como a internet é muito importante na divulgação dos b-boys, meus pais, que são das antigas e não mexem em computador, mal entendem por que eu sou conhecido do outro lado do mundo", conta. Hoje ele vive exclusivamente da dança. A casa onde mora com a mulher, a dançarina Suzana Amaral, está sendo paga com o dinheiro que ganha com as aulas de break e comerciais de tevê. "Estou aprendendo a me organizar, mas vivo bem", afirma. O b-boy passou por cima não só das dificuldades financeiras como do preconceito. "Hoje dou aula para os filhos de quem já achou que o break é coisa de marginal", afirma. Como referência para a nova geração de dançarinos de breakdance, agora Neguin só pensa em uma coisa: quebrar os concorrentes de 11 países e levar a bandeira brasileira ao pódio pela primeira vez.

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