Italiano nascido na região de Veneza em julho de 1922, com o nome Pietro Costante Cardini no registro, Pierre Cardin é filho de vinicultores que se mudaram para Saint-Étienne, no centro da França, quando ele tinha dois anos de idade. Na adolescência, dividia seu tempo entre a escola e as funções de ajudante de um alfaiate.

Aos 18 anos, com o propósito de se tornar costureiro, Cardin foi trabalhar numa oficina de costuras em Vichy e aprendeu a remendar fundilhos de calças, traçar, cortar e costurar. A prática foi interrompida pela Segunda Guerra, durante a qual ele se integrou ao serviço da Cruz Vermelha e estudou contabilidade.

Quando a cidade foi liberada da ocupação nazista, ele mudou para Paris e empregou-se como alfaiate na Maison Paquin. Passou a fazer parte do círculo de artistas de Jean Cocteau, contribuindo na confecção de figurinos e adereços do filme A Bela e a Fera dirigido pelo surrealista. Trabalhou por um período com Elsa Schiaparelli e, em seguida, foi o primeiro contratado por Christian Dior, com quem ficou por quatro anos como principal costureiro.

Em 1950, Cardin adquiriu a Maison Pascaud, especializada em figurinos para teatro; manteve essa atividade por quatro anos, transformou-a em ateliê de alta costura e deu início à empresa que ele multiplicou em várias outras áreas e dirige há 70 anos.

A partir dos anos 1960, Cardin começou a expandir sua prática para objetos de desenho industrial como relógios, rádios e luminárias, desenhando também móveis de alto padrão, interior de carros e aviões. Depois de inovar e popularizar a moda com seu estilo futurista, ele foi o primeiro costureiro a licenciar seu nome para outros produtos. Ao longo dos anos, seu logotipo chegou perto de 850 licenças. O sucesso financeiro lhe deu condições de entrar em outros ramos empresariais, como fez em 1981 ao comprar seu restaurante parisiense preferido, o Maxim’s, que hoje tem filiais e franquias espalhadas pelo mundo.

A fortuna que acumulou graças a sua criatividade, suas tesouras, agulhas e a habilidade para negócios lhe permitiu investir em empreendimentos menos ou pouco lucrativos. Como a arte. Em 1970, a Prefeitura de Paris lhe deu a concessão do antigo Théâtre des Ambassadeurs que, reformado e transformado no Espace Cardin, abriga teatro, cinema, galeria e estúdio de desenho. Todos os verões, ele promove um festival de música e teatro num castelo que possui em Lacoste, na região francesa da Provence, onde quatro séculos atrás morou o Marquês de Sade.

Diferentes das linhas simples de seus desenhos, algumas das outras investidas e promoções de Cardin tendem à extravagância. Uma delas é o Palais Bulle, que deve esse nome à sua arquitetura de módulos esféricos como bolhas construídos entre terraços e piscinas. Com vista para a Baía de Cannes, a residência de verão possui, entre outros elementos grandiosos, um anfiteatro ao ar livre com capacidade para 500 espectadores. Esporadicamente, o próprio Cardin apresenta desfiles ali.

Alguns dos desfiles realizados por ele durante a carreira foram marcados pelos cenários, número de modelos e espectadores. Em 1960, ele chamou 250 estudantes universitários para apresentarem os trajes da sua primeira coleção masculina; a primeira coleção infantil, em 1966, foi toda exibida por trigêmeos. Na década de 1970, houve desfiles narrados e, por isso, a apresentação durava até uma hora e meia. Em 1991, 200 mil pessoas foram ver suas criações em plena Praça Vermelha, em Moscou. Na China, as exibições tiveram o Deserto de Gobi como palco em 2008, um porta-aviões ancorado em Tianjin, em 2011, a Floresta de Pedra do Rio Amarelo, em 2016, e a Grande Muralha, em 2018, onde ele mostrou mais de 300 modelos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.