05/12/2014 - 20:00
Na semana passada, em um dos mais importantes depoimentos até então sobre o esquema de desvios de recursos da Petrobras, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo do grupo Toyo Setal, relacionou pela primeira vez o pagamento de propina às doações oficiais feitas ao PT por fornecedores da estatal. Mendonça Neto disse a procuradores e policiais da Operação Lava Jato que o PT, entre 2008 e 2011, recebeu parte da propina na forma de contribuição ao partido por meio do “caixa 1” de campanha. A confissão confirma reportagem de capa de ISTOÉ publicada há duas semanas. Baseada em relatórios sigilosos da investigação e em conversas com delegados e procuradores, ISTOÉ revelou que PT, PMDB e PP usaram “de forma estruturada” o “caixa 1” de campanhas eleitorais para lavar o dinheiro desviado. As doações ao PT foram intermediadas pelo diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, que era o elo com o tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto. O lobista Fernando Baiano fez a ponte com o PMDB. No caso do PP, o intermediário foi o próprio ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, que assumiu função antes exercida pelo ex-deputado José Janene, morto em 2010.
E AGORA?
Segundo o empresário Augusto de Mendonça Neto (abaixo), R$ 4 milhões
foram repassados oficialmente ao PT, representado pelo
tesoureiro João Vaccari Neto (acima)
Ao confirmar o uso da contabilidade oficial do PT para ocultar operações financeiras ilegais, Mendonça Neto coloca em suspeição a contabilidade do PT em meio à campanha de Dilma Rousseff em 2010. No Palácio do Planalto, o sinal de alerta foi aceso, pois é exatamente o caixa oficial do PT que hoje se encontra submetido à análise do ministro do STF, Gilmar Mendes, responsável por julgar a contabilidade da campanha à reeleição. Apesar de o relato de Mendonça Neto se referir à campanha de 2010, há um temor no Planalto de que, na devassa promovida nas contas de Dilma de 2014, sejam encontradas conexões do mesmo esquema. Para investigadores da Lava Jato, há indícios de lavagem de dinheiro também na campanha deste ano. Se irregularidades graves forem descobertas na contabilidade da campanha, os ministros do STF podem – em último caso – até impedir a diplomação da presidente, apesar de esta hipótese ainda depender do prazo a ser exercido por Gilmar Mendes para concluir seu parecer. A oposição, antes cautelosa, já fala em “ilegitimidade” do mandato de Dilma. “Estou estarrecido. Se isso (o depoimento do executivo da Toyo Setal) for verdadeiro, temos um governo ilegítimo no Brasil. É a denúncia mais grave que surgiu até aqui”, afirmou o presidente do PSDB, Aécio Neves. “Se houve uso do petrolão em 2010 e o esquema continuou operando até agora, é necessário apurar se a fonte não irrigou também a campanha de 2014. Temos uma presidente sob suspeita”, fez coro o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).
DESDOBRAMENTO
O ministro Gilmar Mendes ganhou novos subsídios para
julgar as contas da campanha de Dilma
Para garantir a homologação do acordo de delação premiada, os executivos já apresentaram provas. Mendonça Neto, por exemplo, forneceu à força-tarefa da Operação Lava Jato cópias das notas físicas frias utilizadas para justificar a saída dos recursos, bem como contratos de prestação de serviços que nunca foram executados. Mendonça Neto explicou que a propina foi paga em doações oficiais feitas ao PT, entre os anos de 2008 e 2011, pelas empresas Setec, PEM Engenharia e SOG Óleo e Gás. O próprio Duque teria pedido as contribuições ao empresário, cujo acerto final acabou discutido pessoalmente com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no próprio diretório do partido em São Paulo. “O valor das doações foi de aproximadamente R$ 4 milhões”, disse o delator.
Na Justiça Eleitoral, os registros oficiais de empresas do grupo Toyo Setal ao PT somam R$ 3,4 milhões. Desse total, R$ 2 milhões foram repassados em 2010, ano em que Dilma foi eleita pela primeira vez. Dentre os parlamentares beneficiados estão os senadores petistas Delcídio Amaral (MS), Lindbergh Farias (RS) e Marta Suplicy (SP), que juntos receberam R$ 850 mil. Os deputados federais João Paulo Cunha (SP) e Jilmar Tatto também embolsaram R$ 150 mil em doações legais de empresas do grupo. Só a SOG Óleo e Gás registrou doações legais aos deputados federais Carlos Santana (PT-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ), a Jandira Feghali, líder do PCdoB na Câmara, e a Eliseu Padilha (PMDB-RS), cotado agora para assumir o Ministério da Integração. O maior destinatário das doações da SOG foi Celso Russomanno, derrotado na disputa pelo governo de São Paulo em 2010 pelo PP. Este ano ele foi eleito deputado federal pelo PRB.
Fotos: Lula Marques, Pedro Ladeira – Folhapress; Geraldo Bubniak/AGB