01/12/2014 - 14:40
Entre os muitos sintomas do Parkinson, poucos prejudicam tanto a qualidade de vida dos pacientes quanto os tremores. Os problemas de coordenação motora decorrentes do avanço da doença sobre o sistema neurológico fazem com que os doentes tenham uma série de dificuldades para se locomover, falar, se manter imóveis e, principalmente, comer sozinhos. Até agora, portadores de Parkinson precisavam aprender a conviver com os crescentes tremores para se alimentar sozinhos ou aceitar o fato de que teriam que receber alimentos na boca. Uma colher eletrônica que chega às lojas neste fim de ano promete, no entanto, transformar de forma considerável a qualidade de vida dos doentes de Parkinson reduzindo em até 76% os tremores na hora de levar o alimento do prato à boca.
Apelidada de “Colher Inteligente”, a engenhoca foi criada pela empresa americana Lift Labs, uma startup comprada pelo Google há poucos meses, após um dos seus fundadores, Sergey Brin, conhecer o protótipo da colher. Além do potencial econômico, a aquisição teve uma boa dose de interesse pessoal. Brin carrega consigo um gene que amplia de forma considerável as suas chances de desenvolver Parkinson e já doou mais de R$ 125 milhões como pessoa física para pesquisas relacionadas à doença. Sua mãe é um dos 10 milhões de pessoas no mundo que sofrem com o Parkinson.
A colher inteligente, que é lançada por US$ 295 – cerca de R$ 750 –, utiliza um microcomputador localizado em sua base e mais de 100 algoritmos para calcular como reagir aos tremores de seus usuários e diminuí-los em até 76%. Ou seja, enquanto a mão do comensal e o cabo da colher tremem, a ponta do utensílio reage e se move na direção contrária. Dessa forma, a comida não cai enquanto é levada do prato à boca e a pessoa pode se concentrar em outras coisas, como no sabor da refeição ou em conversar com suas companhias.
Como a ponta da colher é destacável para facilitar a lavagem, ela pode ser substituída por outros utensílios. Os laboratórios prometem lançar uma versão com um garfo, uma colher de sopa, e até mesmo um porta-chaves, para facilitar o encaixe em uma fechadura.
Em nota em que anunciava a compra, a empresa, que começou em 1998 como um simples buscador da internet, afirmava: “Seu aparelho estabilizador de tremores pode melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas. Nós também vamos explorar como sua tecnologia pode ser usada de outras maneiras para aperfeiçoar o entendimento e o tratamento de doenças neurodegenerativas como o Parkinson e o tremor essencial”.
O interesse do Google pela área é tão grande que ele poderia ser facilmente confundido com uma companhia de biotecnologia. A equipe da Lift Labs integra atualmente a divisão de ciências da vida do Google X, o laboratório de pesquisas avançadas da empresa, que conta com projetos como o de uma lente de contato “inteligente” que mede os níveis de glicose em diabéticos. O complexo também adquiriu recentemente parte de uma empresa de computação que analisa o genoma humano para entender os fatores genéticos das doenças cardíacas e do envelhecimento e pesquisa como nanopartículas no sangue podem ajudar a prevenir doenças.
“Eu meio que me dou uma chance de 50% de adquirir Parkinson em cerca de 20 a 25 anos”, afirmou Brin ao “The New York Times”. “Mas também acho que há 50% de chance da medicina avançar o suficiente a ponto de poder lidar com isso.” Ele certamente tem feito a sua parte.
Foto: Divulgação