O presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e seu mentor, o astrólogo Olavo de Carvalho, que vive nos Estados Unidos, estão convencidos de que o vice-presidente, general Hamilton Mourão, trama contra eles. Seria um traidor. Aparentemente, Mourão não tem feito nenhum gesto que indique que deseja derrubar Bolsonaro para assumir seu posto, mas o presidente está ressabiado e se mira na história recente para chegar nessa grave conclusão.

De Getúlio Vargas para cá, ou seja, nos últimos 65 anos, o Brasil já presenciou cinco crises envolvendo vices que acabaram assumindo o poder, depois que os titulares levaram rasteiras históricas ou simplesmente se mostraram incompetentes para continuar no posto. Com Getúlio, em 1954, um dos que puxaram seu tapete foi o vice Café Filho. Depois do tiro que quase matou o desafeto Carlos Lacerda, na rua Toneleiros, no Rio, Getúlio entrou em parafuso e muitos pediam que renunciasse. Entre eles Café Filho. Getúlio não aguentou a pressão e se suicidou um dia depois. O vice assumiu seu posto.

Depois, veio Jânio Quadros, em 1961, renunciando após seis meses no poder. Seu vice, João Goulart, quase não assumiu. Os militares e outras forças entendiam que ele facilitaria a introdução do comunismo no Brasil, razão precípua para a sua derrubada em 1964. Mas para que ele assumisse no lugar de Jânio, tiveram que inventar o parlamentarismo. O mais dramático, contudo, aconteceu depois da redemocratização, em 1985. Tancredo Neves morreu após erros médicos no tratamento de uma diverticulite misteriosa na véspera de tomar posse e quem assumiu foi José Sarney, seu vice. Também nesse caso, os militares não queriam que ele assumisse e quase se criou uma crise institucional.

Outras intempéries políticas envolvendo os vices aconteceram em 1992, com Fernando Collor de Mello, e em 2016, com Dilma Rousseff. Quando viu que Collor estava mergulhado na corrupção e sem respaldo no Congresso, o vice Itamar Franco (MDB) correu para montar um governo alternativo. Quando Collor acordou, já não tinha condições de continuar governando, para a sorte do Brasil. Com Dilma, aconteceu algo parecido. O governo petista já vinha combalido por acusações de malversações de recursos públicos e o MDB de Michel Temer se articulou para sucedê-la. Para o bem do País, Dilma caiu. Bolsonaro não quer ser a próxima vítima. Mas, afinal, Mourão é traidor ou é um soldado que tenta salvar a tropa de ir para o brejo?

Afinal, Mourão é traidor ou é um soldado que tenta salvar a tropa de ir para o brejo?