Cerca de dois mil indígenas acamparam nesta quarta-feira (24), em Brasília, sob uma forte operação de segurança, iniciando três dias de manifestações para denunciar a expansão das atividades mineradoras e agropecuárias favorecidas pelo presidente Jair Bolsonaro em detrimento de suas terras ancestrais.
A expectativa é reunir cerca de 5 mil indígenas na capital, durante três dias.
Apesar da tensão, com a presença de dezenas de patrulhas e forças de segurança ao redor do campo, os manifestantes começaram suas atividades dançando e cantando para exigir força e invocar proteção.
Ainda era madrugada quando os líderes indígenas começaram a instalar seu “Acampamento Terra Livre” na Esplanada nos Ministérios.
Na semana passada, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, ordenou à Força Nacional que reforçasse a vigilância ao longo da Esplanada.
“Nossas terras são sagradas. Não à mineração em terras indígenas”, proclama um dos cartazes instalados diante do acampamento montado na frente do Congresso nacional.
“Nossos direitos não são negociáveis”, diz outro cartaz.
“Viemos aqui por uma causa importante. Foi muito difícil para nós, nossos ancestrais, conquistar esses direitos e, pouco a pouco, eles estão diminuindo. Viemos aqui para pedir mais respeito”, afirmou Camila Silveiro, de 22 anos, estudante do Ensino Médio do grupo étnico Kaingang, originária do Paraná.
– Terra, saúde e educação –
O “Acampamento da Terra Livre” acontece desde 2004. Este ano, começa em um clima de tensão em relação ao governo Bolsonaro, que se manifestou repetidas vezes contra novas demarcações de terras indígenas e em favor da expansão das atividades econômicas questionadas pelos povos nativos e pelos defensores do meio ambiente na Amazônia.
O acampamento ficará na cidade até sexta e servirá de espaço para a exposição das demandas das comunidades indígenas, concentradas no direito à terra, à saúde e à educação.
“Desde 1º de janeiro [quando Bolsonaro assumiu o cargo], o governo atacou os povos indígenas em todos os seus direitos, sendo um deles a educação”, disse à AFP Luana Kumaruara, 33 anos, natural do Pará e professora de Antropologia.
Luana, que está fazendo seu terceiro acampamento, lembrou que o primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, Ricardo Vélez (dispensado este mês), continuou dizendo que a universidade não era para todos, o que afetaria o acesso ao ensino superior, tradicionalmente com menos recursos.
Na semana passada, Bolsonaro questionou a organização deste acampamento.
“Vai acontecer um grande encontro de indígenas na próxima semana. Dez mil indígenas são esperados aqui em Brasília, e quem pagará a conta pelos dez mil índios que vêm? Você”, afirmou em uma transmissão ao vivo no Facebook.
Essa afirmação foi imediatamente refutada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), responsável pelo evento, que garantiu que a iniciativa é financiada com campanhas próprias de captação de recursos.
“Como sempre, vamos continuar resistindo”, proclamou Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib.
Segundo dados oficiais, cerca de 800 mil indígenas de 305 grupos étnicos vivem no Brasil, um país com 209 milhões de habitantes.
A Constituição brasileira determina que esses povos tenham o direito de usufruto exclusivo sobre as terras que ocupam, mas a demarcação é ameaçada pela exploração madeireira ilegal, pela expansão da pecuária e pelo avanço da fronteira agrícola.
Pouco depois de sua eleição, Bolsonaro apontou para a continuidade dessa política.
“Por que manter os indígenas isolados em reservas, como animais em um zoológico?”, questionou.
“Como nós, eles querem evoluir, querem ter médicos, dentistas, acesso à Internet, viajar de avião”, afirmou ainda.