12/09/2014 - 20:00
Um caso surpreendente envolvendo um grupo de adolescentes em Bertioga, no litoral de São Paulo, tem assustado pais de todo o Brasil. No dia 4 de setembro, 11 alunas da escola estadual William Aureli passaram mal após receberem a segunda dose da vacina contra o vírus HPV, da campanha nacional realizada pelo Ministério da Saúde. Em comum, todas relataram dor de cabeça, tonturas e tremedeiras, e foram levadas ao pronto-socorro da cidade. Oito meninas receberam alta após serem medicadas. Três jovens, no entanto, apresentaram sintomas mais graves. Luana Barros e Mariana Lima, 12 anos, não sentiam as pernas. Já Nathália dos Santos, 13, tinha dores na coluna e perda da sensibilidade das mãos. No sábado 6, elas foram transferidas para o hospital Guilherme Álvaro, em Santos, onde realizaram exames de sangue, raio X e ressonância magnética. Apesar do quadro apresentado pelas jovens, neurologistas asseguraram que os resultados estavam normais.
Na quarta-feira 10, Luana e Mariana tiveram alta, mas até sexta-feira 12 Nathália seguia internada com fortes dores de cabeça e nas costas, sem previsão de alta. Desde que o imunizante começou a ser aplicado no País, em março, não havia registro de um grupo tão numeroso com reações colaterais. Em março, duas meninas no Rio Grande do Sul tiveram reações alérgicas intensas e uma teve convulsões.
A explicação mais plausível para as autoridades de saúde é que ocorreu uma espécie de fenômeno de sugestão coletiva. “O quadro das 11 adolescentes pode ser avaliado como uma síndrome de estresse pós-injeção, algo que acontece também com outras vacinas”, garantiu o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Ele afirma que as vacinas são consideradas um dos produtos médicos mais seguros do mundo. Já a possibilidade de problemas com o lote de vacinas foi descartada. “Não houve falhas de refrigeração ou armazenamento”, afirmou a médica Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
REAÇÃO
As mães Rosália Barros e Fabíola Lima acreditam que a vacina
provocou o mal-estar das filhas. Rafaella, do Rio, teve sintomas
graves que os pais também atribuem ao fármaco
As mães das adolescentes paulistas, porém, creem que os sintomas foram deflagrados pela injeção. “Os médicos dizem que a culpa não é da vacina, mas só pode ser. Minha filha tem a saúde boa, nunca tinha ficado internada”, disse Rosália Alves Barros, mãe de Luana. Assim como Rosália, outros pais associam o imunizante a sintomas até mais graves. É o caso da menina Rafaella Oliveira Silva, 13 anos, de Resende (RJ). Após tomar a anti-HPV, em março, ela sentiu o braço inchar e perdeu os movimentos. Com o surgimento de sintomas como a visão prejudicada e alterações circulatórias, Rafaella chegou a ficar em uma cadeira de rodas. Depois de ir a vários médicos, foi diagnosticada com uma doença autoimune. “Os problemas dela começaram após a vacina”, assegura o pai, o funcionário público Ismar Costa e Silva. O caso de Rafaella está sendo estudado pelo Ministério da Saúde, foi reportado ao fabricante da vacina e incluído em bases internacionais de dados. Na opinião do pediatra Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, estudos feitos até agora indicam que a vacina contra o HPV não eleva a taxa de doenças autoimunes. “São casos que poderiam ocorrer independentemente da vacina”, diz o especialista.
Ainda que nada comprove a ligação de casos excepcionais como o de Rafaella com o imunizante, as investigações prosseguem. Elas são feitas por instituições que monitoram a segurança e os efeitos adversos da vacina do HPV, atualmente dada em 50 países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Centro de Controle de Doenças (CDC) montou um sistema de notificação que recolhe informações do público e dos fabricantes sobre eventos ocorridos após a vacinação. Em agosto, a instituição divulgou uma análise de dados relativos à aplicação de 67 milhões de doses. Segundo o CDC, 92,4% dos relatos se referiam a sintomas não graves, como desmaios, tonturas, náuseas, dor de cabeça e febre, dor e vermelhidão no local da injeção. De acordo com a instituição, a vacina tem bom perfil de segurança. Mesmo assim, o Japão suspendeu a campanha de vacinação, mas oferece o fármaco a quem quiser tomar.
O aval do CDC e da Organização Mundial da Saúde é o argumento do pediatra Fábio Ancona Lopez, ex-presidente da Sociedade Paulista de Pediatria, para orientar as mães que o procuram com dúvidas. “Até agora essa vacina é considerada muito segura”, diz ele. O ginecologista Sérgio Nicolau, professor da Universidade Federal de São Paulo, diz que reações como desmaios e tonturas são comuns também em exames ginecológicos. “Uma das recomendações para prevenir essas reações, mais comuns em uma faixa etária na qual as jovens são muito influenciáveis e sensíveis, é ficar sentada ou deitada por 15 minutos após tomar a vacina”, diz o especialista.