Quando os gélidos alemães desembarcaram em Santa Cruz de Cabrália, no início de junho, a fim de se prepararem para o Mundial, se imaginou que a adaptação seria difícil. Com relação ao clima, quente e úmido, e ao ambiente, malemolente e descontraído, da Bahia. Ledo engano. Em poucos dias, a seleção comandada pelo técnico Joachim Löw apareceu descalça e sem camisa, gingando ao som de músicas típicas da região, participando de cerimônias indígenas… até culminar com a imagem que vemos nesta página. Neuer, Schweinsteiger, Müller e companhia se deixaram filmar e fotografar torcendo efusivamente pela Seleção Brasileira durante o dramático jogo contra o Chile, no dia 28 de junho, nas oitavas de final. Mas toda essa amistosidade é passado. Uma das mais fortes candidatas ao título, a poderosa Alemanha, segunda no ranking de seleções da Fifa, passou de simpática colega a adversária de vida e morte. E ela tem armamento pesado para tentar derrubar o Brasil na terça-feira 8, no estádio do Mineirão, na partida que vale a tão sonhada vaga na final, no Maracanã. Pela quarta vez consecutiva, o time da primeira-ministra Angela Merkel está numa semifinal.

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XEQUE-MATE
O zagueiro Hummels comemora com o meia Müller seu gol contra a França,
logo aos 13 minutos do primeiro tempo: mudança tática

Os germânicos resolveram rapidamente a questão com a França, nas quartas de final, na sexta-feira 4, no Maracanã, com um gol de cabeça do zagueiro Hummels, ainda aos 13 minutos do primeiro tempo. Ao promover uma mudança tática, transferindo Phillip Lahm do meio-campo para a lateral direita, um clamor de toda a população e crítica esportiva do país, o técnico alemão imprimiu mais ritmo ao time e eliminou os franceses pela terceira vez – as outras foram nas semifinais de 1982, na Espanha, e em 1986, no México. Apenas na Suécia, em 1958, os azuis levaram a melhor.

Segundo o comentarista Mauro Cezar Pereira, do canal ESPN, a Alemanha se mostrou ainda mais forte porque jogou como a Alemanha, não como o Bayern de Munique – como vinha fazendo nos últimos jogos. “Ela atuou com um centroavante clássico, o Klose, num jogo mais pragmático, e colocou o Lahm na lateral e não no meio de campo, sua posição no time germânico”, afirma. Segundo Pereira, os alemães são menos perigosos do que parecem. “Eles criam muitas jogadas, mas não matam o jogo.” Para vencê-los, o Brasil precisa repetir a receita da Copa das Confederações: marcar por pressão, deixando a posse de bola com o adversário, e abusar dos contra-ataques com Neymar. Contra o time do técnico Joachim Löw, não há escapatória. É preciso apostar na individualidade, diz o comentarista.

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FOGO AMIGO
Alemães torcem para a Seleção Brasileira no jogo contra o Chile,
nas oitavas de final: acabou a amizade

O ex-jogador Tostão também detectou uma forma de o Brasil tentar vencer a eficiente máquina alemã, que tem o melhor percentual de passes certos do Mundial até aqui, 82%. Os germânicos têm uma grande qualidade no meio de campo. Os três jogadores dessa posição, Sami Khedira, Toni Kroos e Bastian Schweinsteiger, têm muita habilidade e jogam avançados, auxiliando no ataque. A grande chance da Seleção Brasileira são as bolas com Neymar entre esse meio de campo e os zagueiros, Matts Hummels e Per Mertesacker, que são altos e lentos. A Alemanha não tem um cão de guarda como o volante Luiz Gustavo, que fica na frente da zaga, protegendo. “O Brasil tem chance de ganhar por isso”, diz Tostão. “Se o Neymar receber uma bola atrás dessa linha de volantes, ele vai ter o zagueiro alto e lento para driblar e fica fácil.” O ex-jogador destaca outras qualidades do time adversário do Brasil nas quartas de final. “O que a Alemanha tem melhor que o Brasil é o controle de bola, troca de passe e um jogo coletivo mais organizado que a Seleção”, afirma. Só que eles não têm um atacante do nível do Neymar, nem do nível dos melhores do mundo, atesta Tostão. Isso poderia ajudar o Brasil no confronto. E garantir o passaporte para o 13 de julho, no Maracanã.

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Foto: Frederic Jean/Ag. Istoé