01/03/2019 - 7:35
As escolas de samba de São Paulo negam qualquer intenção de reproduzir a polarização do universo político na avenida e não querem nem ouvir falar de direita ou esquerda. A tendência, pelo menos no Anhembi, é de pouca crítica ou elogio ao atual governo e seus personagens.
Ainda assim, com um pouco de atenção, é possível destacar uma curiosa sequência de desfiles na madrugada deste sábado, 2, no carnaval de avenida em São Paulo. Às 2h30, entra no sambódromo a Acadêmicos do Tucuruvi, com o enredo Liberdade – O Canto Retumbante de um Povo Heroico. Depois dela (às 3h35), será a vez da Acadêmicos do Tatuapé, com o enredo Bravos Guerreiros. Por Deus, Pela Honra, Pela Justiça e Pelos que Precisam de Nós.
As duas escolas de samba tratam de política, mas com narrativas que soam opostas. Na Tucuruvi, por exemplo, o foco é nos movimentos sociais e em manifestações, como Parada Gay e greve dos professores (com destaque para o último carro, tratará do embate eleitoral entre Ele Sim e Ele Não – expressões usadas por detratores e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro durante a campanha, no ano passado).
Além disso, o samba da Tucuruvi traz referências a músicas de Caetano Veloso (“Caminhar contra o vento, eu vou…), Geraldo Vandré (“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer…”), Chico Buarque ( “Apesar de você…”) e ao cancioneiro da sambista Clara Nunes.
Já a Acadêmicos do Tatuapé segue pela linha do patriotismo e amor ao País: “Sou brasileiro…/Vou defender minha nação/Oh Pátria amada idolatrada não chores em vão/Sou brasileiro…”. O presidente da escola, Eduardo dos Santos, nega qualquer intenção política no desfile da escola. “Não pode ter militância, não pode ter ideologia. Na escola, temos componentes de direita e de esquerda, o nosso papel social é abrigar todas as pessoas.”
Outras
A noite começa às 23h15 desta sexta-feira com a Colorado do Brás, com o enredo Hakuna Matata Isso é Viver. A agremiação vem com um tema recorrente nas escolas de São Paulo, a cultura negra e a África – principalmente o Quênia. A Mancha Verde, que desfila à 1h25, também tem a cultura africana como ponto de partida. Ela vai falar do Congo e seus Orixás.
Segunda escola a desfilar, o Império da Casa Verde traz o momento mais pop dos sambódromo, com o enredo O Império Contra-Ataca. Além da óbvia autorreferência, a escola vai brincar com a ideia de Star Wars (“Tudo vai se transformar, tudo pode acontecer/ Imperiano, que a força esteja com você”). É possível esperar sabres de luz e até um Darth Vader cruzando a avenida. No mais, o desfile será todo pontuado por personagens e momentos cinematográficos.
Já a X-9 Paulistana, que será a penúltima na avenida, sofreu uma baixa de última hora. O homenageado pela escola, o sambista Arlindo Cruz (que completou 60 anos), não estará presente no desfile. Mesmo liberado pela equipe médica que o acompanha (ele sofreu um acidente vascular cerebral há dois anos), a família não o trará para o desfile. “O maior entrave para a confirmação da viagem do artista para o desfile da escola de samba se deu em torno do custo da infraestrutura de equipes, médica, produção e de segurança, além de transporte e transfer especial para que todo esse trâmite fosse feito livre de perigo”, diz a nota da família no perfil do Instagram de Babi Cruz, mulher de Arlindo.
Fé x ciência
Fecha a noite a escola Tom Maior, que vem com o enredo Penso… Logo existo – As Interrogações do Nosso Imaginário em Busca do Inimaginável. A agremiação vai misturar religião com teoria da evolução no mesmo samba. A oposição entre fé e ciência deve encerrar o primeiro dia do Anhembi com alguma polêmica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.