Os três principais fatos da semana, que foram o fiasco de Jair Bolsonaro em Davos, a descoberta das ligações entre sua família e o Escritório do Crime, a milícia suspeita de matar a vereadora Marielle Franco, e o veto da Arábia Saudita às importações de carne brasileira, indicam o fim precoce de uma administração que já se revela falida. Tudo aponta para um presidente incapaz de representar uma nação do peso que tem o Brasil, envolvido com milícias e que já causa prejuízos à burguesia nacional. A questão agora é como removê-lo do cargo ou, em outras palavras, como desenhar a equação Hamilton Mourão.

Comecemos pela economia. Para os setores do agronegócio e do sistema financeiro que promoveram sua ascensão, o novo presidente já se tornou absolutamente desnecessário. Mais do que isso, virou um estorvo. O veto às exportações era pedra cantada desde que o clã Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo anunciaram a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para a Jerusalém. Ciente do desastre, o vice Mourão já havia dito que Araújo — na prática um pau mandado do deputado Eduardo Bolsonaro — seria incapaz de formular nossa política externa. E também que o Brasil não pode “falar e depois desfalar”.

Na economia, também não devem ser menosprezadas falas como a do Nobel de Economia Robert Shiller, que disse que “o Brasil merece alguém melhor”, e a péssima repercussão da passagem de Bolsonaro por Davos. São danos irreparáveis à imagem de um País que ainda é uma das grandes fronteiras de expansão capitalista no mundo e que, até outro dia, era cantado em prosa e verso como a potência do século 21. Ser representado por alguém que almoça sozinho no bandejão de Davos — seja por populismo, seja por falta de amigos — não ajuda em nada o Brasil.

O problema mais sério, no entanto, diz respeito à Operação Os Intocáveis, que se volta contra o Escritório do Crime, a milícia de Rio das Pedras comandada pelo ex-capitão PM Adriano da Nóbrega, que empregou a mulher e a mãe no gabinete de Flávio Bolsonaro. Numa de suas primeiras reuniões como presidente interino, o vice Mourão recebeu o embaixador da Alemanha Georg Witschel, que lhe falou da apreensão de seu país e da Europa com um Brasil presidido por alguém sem nenhum compromisso com o respeito aos direitos humanos. Se vierem a público mais revelações sobre o envolvimento da milícia bolsonarista com o assassinato de Marielle, o caldo entornará de vez.

Em 2018, na disputa presidencial, a elite brasileira teve a opção de escolher entre um professor universitário e um político profissional, que passou 28 anos proferindo discursos de ódio. Escolheu-se a segunda opção. Agora, cabe ao País encontrar a porta de saída.

O fiasco em Davos, a ligação com as milícias e o veto às exportações sinalizam o fim precoce do governo