Composta para o Carnaval de 1959, a marchinha ?Ei, você aí/ me dá um dinheiro aí/me dá um dinheiro aí?, do trio Ivan, Homero e Glauco Ferreira, bem que poderia ser a trilha sonora oficial das próximas eleições. A nova legislação eleitoral, que endureceu as regras para doações financeiras às candidaturas, aliada à descrença causada pelos escândalos políticos, está secando os cofres dos grandes partidos. No domingo 6, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou a primeira parcial sobre as doações e gastos da campanha 2006. O campeão de arrecadação até aqui é o comitê do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que contabilizou R$ 5.686.558,00. Mas nem o líder nas pesquisas e na captação de recursos parece satisfeito com o dinheiro que entrou em sua conta. Antes do início da corrida eleitoral, o PT definiu que o teto de gastos de sua candidatura à Presidência seria de R$ 89 milhões. Mas nem em delírio a legenda espera levantar esse dinheiro. O PT trabalha com a expectativa de arrecadar para o primeiro turno cerca de R$ 45 milhões. Mas o encarregado de passar o chapéu não parece muito otimista com a meta. ?Não vai ser fácil chegar a esse valor. Nossa arrecadação está um pouco abaixo do esperado?, admite o tesoureiro petista José di Filippi Júnior. O problema do PT é que muitas de suas fontes secaram. Empresários que apoiaram Lula em 2002 não subiram no barco da reeleição. Entre os poderosos que se distanciaram do presidente estão Eugênio Staub, da Gradiente e Ivo Rosset, dono das marcas Valisère e Cia Marítima. Ninguém assume, mas os últimos escândalos tiveram papel decisivo na debandada. O cofre petista não é o único a sofrer de inanição. Até mesmo o PSDB, um partido com forte vinculação com a elite econômica do País, passa por sufoco. Na primeira prestação de contas, a campanha de Geraldo Alckmin arrecadou R$ 1.322.697,68 e gastou R$ 1.889.387,48, um déficit de R$ 566.689,80. O rombo, no entanto, não chega a desplumar os tucanos. O comando da campanha informa que nos próximos dias deverão desembarcar R$ 15 milhões nas contas de Alckmin. Enquanto o dinheiro não chega, só resta lamentar. ?Até agora arrecadamos só a metade do que esperávamos. Parece que o pessoal (empresários) está com receio de doar?, diz um dos assessores próximos ao presidenciável. A pendura está produzindo situações curiosas. Na primeira parcial, o comitê da campanha de José Serra, candidato a governador em São Paulo, arrecadou R$ 4,4 milhões, mais que o dobro do de Geraldo Alckmin. Nem mesmo Ronaldo Cézar Coelho (PSDB), candidato ao Senado pelo Rio e o mais rico participante da campanha, segundo dados do TSE, está disposto a abrir a mão. ?Dinheiro eu não ponho. O que faço é colaborar indiretamente, financiando comitês de campanha conjuntos e auxiliando os candidatos a deputado que me ajudam?, diz Coelho. Se a coisa está difícil no andar de cima da campanha dos presidenciáveis, no andar de baixo a situação é crítica. O candidato do PDT, Cristovam Buarque, arrecadou até agora R$ 150 mil. Já o colega do PSDC, José Maria Eymael, obteve a franciscana quantia de R$ 16,5 mil. Luciano Bivar, do nanico PSL, registra melhores resultados. Já declarou R$ 260 mil de doação, bem mais do que o valor arrecadado por Heloísa Helena, terceira colocada na corrida pela Presidência da República. No entanto, o PSOL da senadora transforma a dureza em instrumento de divulgação de princípios e ética política. Até aqui, Heloísa Helena gastou módicos R$ 105 mil. Martiniano Cavalcante, tesoureiro da legenda, dá o tom da campanha. ?Não queremos o dinheiro de banqueiros e grandes empreiteiras. O abuso do poder econômico é o grande gerador de corrupção. Faremos uma campanha decente, humilde e sem comprometimentos?, brada Cavalcante. A dureza beneficiará as cidades, que finalmente se verão livres do lixo que entupia seus bueiros e da poluição visual que irritava seus habitantes. Eleitores ou não.