LONDRES, 01 OUT (ANSA) – Divididos em quase tudo, unidos contra Bruxelas. O congresso do Partido Conservador do Reino Unido, em Birmingham, não é apenas um desafio entre “falcões” e moderados, entre a linha de negociação da primeira-ministra Theresa May para um Brexit suave e os apoiadores de um divórcio mais duro.   

É também uma tribuna sobre a qual o denominador mínimo comum possível parece agora reduzido à retórica da resistência patriótica e aos ataques à União Europeia, que foi comparada até com a União Soviética e chamada de “prisão dos povos”.   

O ataque, seguido pela previsível reação de funcionários europeus, chegou não de um “brexiteer” radical, mas sim do pacato Jeremy Hunt, secretário de Relações Exteriores. O sucessor de Boris Johnson, que tem fama de bom negociador e é próximo a May, parece reposicionar sua figura dentro do partido, para uma eventual queda da primeira-ministra.   

Bruxelas, reitera Hunt, não deve “confundir a cortesia britânica com fraqueza” nem pensar “nos punir com táticas não distantes daquelas da União Soviética”. “A lição que aprendemos com a história é claríssima: se a UE vira uma prisão, o desejo de escapar não diminui, mas crescerá e, naquele ponto, não estaremos sozinhos”, disse.   

As palavras caíram de forma indigesta no bloco. “Digo com respeito que faria um bem a todos, em particular ao secretário de Relações Exteriores, abrir um livro de história de vez em quando”, rebateu secamente o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.   

Hunt reconheceu que as negociações são complicadas, “porque é difícil tratar sozinho com 27 interlocutores”. “Mas estou convencido que, no fim das contas, teremos um acordo sobre o Brexit. Bruxelas, no entanto, deve aceitar que não haverá uma rendição do Reino Unido”, disse.   

O titular do Tesouro, Philip Hammond, geralmente sensível aos riscos de um divórcio traumático, também se sentiu no dever de alertar Bruxelas, dizendo que “nem tudo é negociável”. Esses tons, naturalmente, escondem uma abordagem tática e são frutos da necessidade de reunificar a dividida frente conservadora diante de seus eleitores, mas fixam parâmetros difíceis de se alcançar na reta final das negociações. (ANSA)