01/10/2018 - 4:57
A geografia não é geralmente considerada uma disciplina acadêmica controversa. Mas o estudioso brasileiro Milton Santos criou uma escola de pensamento diferente que via a geografia em sua totalidade, investida de significado e valor críticos. Durante uma carreira que durou mais de 50 anos, Santos defendeu uma “Nova Geografia” que abrangia mais do que as características físicas da Terra, abordando a vida das pessoas que vivem lá, bem como a distribuição de espaço e recursos que molda sua vida.
Nascido em 3 de maio de 1926, no bairro de Brotas de Macaúbas, na Bahia, Santos era filho de dois professores do ensino fundamental e, como resultado, foi educado em casa. Embora o ensino superior não fosse facilmente acessível a Santos, ele foi motivado a estudar, pelas lembranças de seu pai, que eles descendiam de escravos. Santos continuou sua busca pela educação ensinando geografia do ensino médio para pagar suas mensalidades universitárias. Em 1958 obteve seu doutorado em Geografia pela Universidade de Estrasburgo, retornando da França para lecionar na Universidade Católica de Salvador e na Universidade Federal da Bahia.
Depois de décadas de contribuições para o seu campo, Santos tornou-se o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio Vautrin Lud International Geography, conhecido como o “Prêmio Nobel de Geografia” – em 1994. O prestigioso prêmio nunca foi concedido a um estudioso que escreveu em um idioma além do inglês. Nunca para descansar sobre os louros, a busca de Santos por conhecimento continuou com seu livro inovador The Nature of Space , que ganhou o Prêmio Jabuti do Brasil em 1997. Nesse mesmo ano ele também recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Nem a velhice nem a doença amorteceram sua paixão pelas idéias em que acreditava. Em julho de 2000, Santos e alguns de seus alunos da Universidade de São Paulo publicaram um panfleto intitulado “O papel ativo da geografia: um manifesto”, que distribuíram em uma reunião nacional de geógrafos brasileiros. O texto provocativo desencadeou um debate apaixonado, assim como Santos pretendia sobre os efeitos sociais de uma dada geografia.
Embora seu trabalho ainda não tenha sido tão amplamente traduzido e distribuído como ele gostaria, o legado de Santos se destaca como um estudioso brilhante que se importava profundamente com as formas de criar um mundo melhor para toda a humanidade.