São 40 anos, tempo de sobra para maturidade. As Organizações Globo comemoram a data festejando a manutenção da indústria brasileira de entretenimento e informação. Na terça-feira 26, esta obviedade foi repetida exaustivamente de forma constrangedora nas quase três horas de programação especial. No aniversário da Vênus Platinada, no entanto, nem tudo é brilho. Na quarta-feira 27, durante o jogo da Seleção Brasileira de futebol – um dos eventos montados pela Globo para comemorar os 40 anos –, os torcedores que lotaram o estádio do Pacaembu, em São Paulo, foram implacáveis. Com a mesma disposição com que comemoraram um gol, gritaram: “SBT, Hebe Camargo, ô ô ô, o Ratinho é um terror”, tudo em alusão à concorrente e a seus “líderes de audiência”. Sobrou também para o narrador global Galvão Bueno, a quem foram dirigidos hinos com letras nada nobres. Evidentemente, enquanto a torcida fazia sua festa, a transmissão global fechava o microfone ambiente. Foi uma manifestação bem-humorada e não há que se falar em bairrismo, pois o carioca Romário foi aplaudido por todos no paulista Pacaembu. A emissora vive a ressaca dos altos índices de Senhora do destino e Big Brother Brasil. A recém-lançada A lua me disse ainda não emplacou. Na semana passada teve menos audiência que Malhação. O tão esperado TV Xuxa também não anda bem das pernas: na segunda-feira 25 teve dois pontos a menos que o Bom dia & companhia, do SBT. América, a novela das oito de Glória Perez, continua em crise provocada pelo diretor Jayme Monjardim. Ainda vai demorar para o folhetim largar o apelido de Pantaclone. A brincadeira nos corredores da emissora é que, se aparecer uma onça, é Pantanal – alusão à novela que Monjardim dirigiu na extinta TV Manchete –, se surgir um camelo, é O clone. A propósito, o SBT, sim, anda fazendo a festa com o acervo da extinta emissora, celeiro de novos talentos globais, depois do surpreendente sucesso da reprise de Xica da Silva. O folhetim de Walcyr Carrasco, hoje da Globo, já teve picos de 20 pontos e mantém a média de 15. A boa notícia é que os sussurros e o chororô de Deborah Secco, a Sol de América, foram substituídos em cenas de estúdio por expressões de mulher confiante. Mas as gravações no México e o clima down foram mantidos.

A professora Raquel Paiva, coordenadora da pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ, acha que Glória Perez ainda está longe de merecer o título de dramaturga. “Ela não costura os temas, reforça estereótipos e dificilmente traz idéias novas à trama. Aborda temas fortes, mas de maneira superficial”, critica. Pior é que nem mesmo o peão Marcos Antonio da Silva Reis, 30 anos – exímio domador de touros e vencedor de vários rodeios no interior de São Paulo – reconhece o ambiente que a autora tenta retratar. “O que a novela mostra não tem nada a ver com o meio dos rodeios. No início ia bem, mas agora é sempre a mesma coisa, tudo parece montagem”, lamenta, ameaçando “parar de perder tempo” com América.

As bucólicas trilhas incidentais estão sendo trocadas por músicas mais alegres e o diretor musical, Marcus Vianna, foi afastado. Até a segunda-feira 25, o tema de abertura ainda era a tristonha Órfãos do paraíso, com Milton Nascimento, mas o fecho já é a radiante Soy loco por ti América, com Ivete Sangalo – cuja letra, na verdade, se refere à América Latina. A falta de química entre Deborah e Murilo Benício, apresentados como “o casal romântico da vez” no especial que foi ao ar na terça-feira, terá que ser resolvida quando Sol voltar ao Brasil. Até lá, restará ao público se conformar com o triângulo formado com a atriz Lúcia Veríssimo, cujo sex appeal fica a dever ao de Vera Fischer, a primeira cotada para o papel. A loura deixou em aberto a possibilidade de entrar em uma segunda etapa do folhetim.

Volta por cima – Apesar de tudo, a média anterior à saída de Monjardim foi de 46 pontos, com 66% de share (porcentual de aparelhos sintonizados na emissora), encostada nos 47 pontos e 68% de share da bem-sucedida antecessora, Senhora do destino. Glória Perez está segura de que sua novela vai dar a volta por cima. “As modificações serão percebidas aos poucos. Sol voltará a ser a personagem alegre que criei.” Quem sabe, aí será o caso de soprar as 40 velinhas.