De todos os países dos quais o Brasil importa vinhos, é do Chile que mais desembarcam garrafas por aqui. Em 2017, os chilenos responderam por 46% das importações brasileiras da bebida, um volume 17% maior que o do ano anterior. Quarto maior mercado para os vinhos chilenos, o Brasil recebeu na quarta-feira 8 mais uma edição do encontro anual Tasting Wines of Chile, com a presença de 37 produtores em São Paulo. Como nos sete anos anteriores, o evento teve início com uma masterclass conduzida por dez enólogos de vinícolas selecionadas. As amostras degustadas traçam um panorama da produção atual de diversas regiões: Vale de Maule, Colchagua, Cachapoal, Maipo e Santiago. Em rótulos cujo preço final para o consumidor brasileiro varia de R$ 92 a R$ 450, todos comentados por seus respectivos criadores, os vinhos servidos permitem avaliar a diversidade e qualidade da viticultura no país. Um belo passeio pelo Chile em dez taças. A lista a seguir está na ordem de preço (do mais barato para o mais caro), portando não se trata de um ranking.

Um passeio pelo Chile em dez taças
As amostras selecionadas: depois da tentativa de fazer da carménère a “uva nacional”, ela é agora apenas mais uma nos blends chilenos (Crédito:Celso Masson)

Toro de Piedra Gran Reserva Carménère Cabernet Sauvigon (Viña Requingua). R$ 92,70, na Superadega. O mais amadeirado dos dez rótulos servidos, passa 12 meses em barricas de carvalho (50% francês, 50% americano), das quais 30% são de primeiro uso. Bom volume de boca, com taninos sedosos.

Novas Carménère Cabernet Sauvigon 2015 (Emiliana Organic Vineyards). R$ 102, no Mercado Orgânico. Único representante orgânico da seleção, é bem equilibrado, trazendo ao nariz boa carga de frutas vermelhas (morango, cereja), notas de chocolate amargo e pimenta. Na boca é elegante, com taninos suculentos.

Don Reca Cuvée 2015 (Viña La Rosa). R$ 171, no site Bebidas do Sul. Elaborado com cinco cepas (50% carménère, 24% merlot, 14% cabernet franc, 10% cabernet sauvigon e 2% petit verdot), oferece delicadeza e harmonia, que disfarçam bem seus 14% de álcool com sabores de ameixa, cassis, chocolate e menta.

Quinta Generación 2015 (Casa Silva). R$ 188, na Vinhomundi. Pleno em boca, esse corte de 45% cabernet sauvignon, 45% carménère, 5% syrah e 5% petit verdot é elaborado pelo chileno-brasileiro Mario Geisse. Mereceu 92 pontos Vinous e 93 de Tim Atkins. De acidez equilibrada e refrescante, é envolvente na boca, com final prolongado.

Siegel Unique Selection 2014 (Siegel Family Wines). R$ 210, na Botticelli Vinhos. Muito fresco, vibrante e persistente, não revela o tempo que passa em carvalho (14 a 16 meses). Os 20% de syrah que compõem o corte com cabernet sauvignon (45%) e carménère (35%) são plantados em altitude, o que resulta em complexidade e taninos redondos.

Caballo Loco Grand Cru Apalta 2014 (Valdivieso). R$ 254, na Super Adega. A Denominação de Origem Santa Cruz, no Vale de Colchagua, 170 km ao sul de Santiago, é cortada por um rio em forma de ferradura onde há uma variedade de solos e um microclima que permite às uvas um ponto de maturação perfeito. Com muita personalidade no paladar, traz frutas negras maduras e taninos suavizados pelos 18 meses em barrica.

Marques de Casa Concha Etiqueta Negra 2016 (Concha Y Toro). R$ 254, na Ville Du Vin. Em estilo clássico, com 60% de cabernet sauvignon, 32% de cabernet franc e 8% de petit verdot, é um vinho complexo e estruturado que revela a concentração das plantas pouco vigorosas do vinhedo El Mariscal, na D.O. Puente Alto. Na boca é fresco e intenso, com textura macia e longo final.

Memorias (Viña El Principal). R$ 320, na Decanter. Excelente blend de variedades e de solos da região de Maipo Andes, a 780 metros de altitude, onde o clima tem grande influência da Cordilheira. O teor alcoólico elevado (14,5%) torna o vinho instigante ao volatizar os aromas de frutas maduras. Na boca é redondo, com  uma boa picância no final da língua.

Enclave Cabernet Sauvignon  2011 (Ventisquero). R$ 437, na Maison Bertin. Apesar de o nome sugerir um monovarietal, combina pequenas doses de petir verdot (6%), carménère (5%) e cabernet franc (3%). Obtido de vinhedos pré-filoxéricos a 1 mil metros de altitude, é um vinho extremamente rico, com distintas camadas de sabores, com predominância de cassis e um agradável mentolado. Os taninos firmes mostram que suporta mais de uma década de guarda.

Lota 2011 (Cousiño-Macul). R$ 450, na Casa Palla. Produzido quase dentro de Santiago, na área vinícola mais cobiçada pela especulação imobiliária, é comparado pelo prestigiado enólogo Héctor Riquelme ao Château Latour, um Premier Grand Cru Classé. De cor vermelha intensa e brilhante, traz aromas frutados e notas terrosas, além de pimenta e noz-moscada. Taninos presentes e ainda um tanto ásperos, com boa acidez.