31/07/2018 - 9:27
A direita e a esquerda francesas defenderam, sem sucesso, nesta terça-feira (31) duas moções de censura exigindo explicações do governo de Emmanuel Macron sobre o caso de um colaborador que foi filmado agredindo manifestantes durante os protestos de 1º de maio.
Estas foram as primeiras moções de censura apresentadas na Assembleia Nacional francesa contra o governo, dirigido pelo primeiro-ministro Edouard Philippe, desde a vitória de Macron na eleição presidencial de 2017.
Apesar de não avançarem, um resultado já esperado uma vez que o partido de Macron, A República em Marcha (LREM), tem ampla maioria na Câmara Baixa do Parlamento, as moções representam “um alerta” para o presidente francês.
O debate na Assembleia deu à oposição uma tribuna para criticar o Executivo e sua gestão do escândalo iniciado em 18 de julho, quando o jornal Le Monde divulgou um vídeo que mostra Alexandre Benalla agredindo dois manifestantes durante um protesto em Paris.
Benalla foi segurança de Macron durante a campanha eleitoral e após a vitória nas urnas foi contratado pelo Palácio do Eliseu, sede da presidência, onde era um dos colaboradores de maior confiança do presidente até a explosão do escândalo que forçou sua demissão.
“Este escândalo, é o de um chefe de Estado que protegeu, que privilegiou um homem que lhe prestou serviços”, declarou o chefe do partido Os Republicanos (LE, oposição de direita) Christian Jacob.
Este caso “deixará traços profundos: traços políticos e morais para o chefe de Estado e traços institucionais na organização das autoridades públicas”, disse ele.
O presidente dos Comunistas, André Chassaigne, considerou que “o caso Macron-Benalla permitiu retirar o véu sobre a realidade do exercício de poder pelo presidente da República e abriu uma brecha que não vai fechar”.
Em sua resposta, Édouard Philippe lamentou “uma instrumentalização política” e uma “vontade de atingir” o chefe de Estado através deste caso e da apresentação de moções.
A primeira moção, do LR, foi votada por 143 deputados, e a da esquerda por 74. Para se derrubar um governo são necessários 289 votos.
“Suas moções de censura não são nada mais do que moções de bloqueio”, lançou à oposição o primeiro-ministro.
Edouard Philippe evocou ainda a “esperança” da oposição “de frear o ritmo da transformação do país”.
Antes da votação, o líder da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que se uniu aos socialistas e comunistas para obter as 58 assinaturas necessárias para apresentar sua moção, apontou que “a moção não vai resolver tudo, mas pode, ao menos, restabelecer a ordem republicana”.
O LR também denunciou problemas graves no “funcionamento de nossas instituições (…) nos níveis mais elevados do Estado”, em referência aos supostos esforços da presidência para ocultar os excessos do homem de confiança de Macron.
Emmanuel Macron quebrou o silêncio na semana passada e assumiu a responsabilidade pelo “caso Benalla”, mas fez isto durante um ato em que estavam presentes apenas deputados de seu partido.
Nos dias seguintes, tentando superar o escândalo, ele minimizou o caso e afirmou que, na sua opinião, foi feita uma “tempestade em um copo de água”.
Na história da V República francesa, instaurada em 1958, apenas uma moção de censura foi aprovada, em 1962, e derrubou o governo de Georges Pompidou.