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DE OLHO NA REELEIÇÃO
Angela Merkel, chanceler da Alemanha, no aquário
de Stralsund: desafio de manter o crescimento

A escassez de notícias positivas vindas da Europa mostra como é profunda a depressão econômica em que o continente está afundado há três anos. O alto endividamento público e a fragilidade do sistema financeiro alimentam o pânico dos investidores e a desconfiança dos líderes mundiais. Em meio a esse cenário turbulento, alguns países são capazes de apresentar indicadores favoráveis – e trazer lições valiosas para os vizinhos. É o caso da Alemanha, que registra taxas de desemprego entre as mais baixas de sua história. Na projeção do FMI, o país deve encerrar 2012 com apenas 5,2% da população sem trabalho, o que contribui para a manutenção de um mercado interno aquecido. Para Achim Truger, professor da Escola de Economia e Direito de Berlim, a crise no país teve inicialmente efeitos mais breves do que o esperado. “Além disso, as políticas de subsídio estatal para empregos de meio período foram estendidas e salvaram centenas de milhares de vagas na indústria”, disse à ISTOÉ. Ao contrário do que se espera para a zona do euro, a economia alemã deve registrar expansão em 2012.

Foi uma estratégia parecida que blindou o mercado de trabalho na Áustria. Projeções indicam que a taxa de desemprego não deve ultrapassar 4,3% neste ano. Na avaliação de Christian Haefke, diretor do Departamento de Economia do Instituto de Estudos Avançados de Viena, o país foi ágil em reagir à crise. Um programa do governo fez com que as jornadas de trabalho fosses reduzidas, mas os salários continuassem os mesmos, já que parte deles passou a ser paga pelo Estado. “O objetivo era manter os funcionários a um custo menor, em vez de demiti-los”, afirmou Haelfke à ISTOÉ. O especialista destaca também o baixo desemprego entre os jovens na Áustria graças a um sistema de aprendizes. Na zona do euro, um em cada cinco indivíduos abaixo de 25 anos está sem trabalho – na Espanha, essa proporção chega à metade da população nessa faixa etária. A estrutura austríaca incentiva educação vocacional e estágios concomitantes aos estudos. Apenas 20% dos jovens seguem uma trajetória acadêmica tradicional. O país também se beneficia de um setor manufatureiro competitivo e um índice de poupança privada que supera em quase seis vezes a dívida pública.

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Há outros exemplos de países europeus que vão bem, apesar da crise. Dona de índices de desemprego invejáveis, a Suíça mantém uma demanda doméstica positiva, que deve avançar 2,4% em 2012. Segundo relatório do instituto KOF, a atividade na construção civil tem crescido e as grandes empresas devem expandir seus investimentos em 5%. A Noruega viu seus investimentos alcançarem níveis recorde quando anunciou a descoberta de uma nova bacia de petróleo no Mar do Norte, em agosto. Nos próximos dois anos, devem ser injetados mais de US$ 66 bilhões no setor. Em recente teleconferência, o analista do Banco Nordea, Lars Kirkeby, afirmou que não consegue ver nenhuma desaceleração na Noruega no futuro próximo. Atentos a isso, gregos, espanhóis e italianos reforçaram a migração para o país. O ministro do trabalho norueguês disse ter interesse em atrair mão de obra qualificada.

O que explica o desempenho dessas nações? “É difícil encontrar um único ponto em comum entre essas economias”, diz Truger, da Escola de Berlim. “Um fator importante é que nenhuma delas viu políticas de austeridade tão brutais quanto as que foram colocadas em prática na periferia europeia.” Ainda assim, o economista alemão evita o otimismo. Diante de indicadores fracos divulgados no começo do mês, que mostram uma desaceleração da Alemanha, os analistas começam a se perguntar até quando esses países irão resistir à crise. Há duas semanas, o governo alemão anunciou novos cortes de gastos para o ano que vem. A redução das despesas públicas vem em um momento crucial: em 2013, o governo da chanceler Angela Merkel será avaliado nas eleições parlamentares.