chamada.jpg

“77 Milhões de Pinturas” foi lançado em 2006 no formato de um DVD. Qual será o diferencial da obra apresentada no Rio em relação às apresentações anteriores?

Do ponto de vista do software, que é o programa que combina e arranja as imagens aleatoriamente, o processo será o mesmo de formatos anteriores. Mas, no que diz respeito às imagens que estão dentro do programa, será diferente. É como uma receita que vou repetir, mas com outros ingredientes. Mas o que acho que terá mais impacto no diferencial do trabalho será o local onde ele será mostrado. É uma parte da cidade aonde as pessoas vão para se divertir, é diferente de uma galeria, calma e fechada.

As imagens serão combinadas aleatoriamente e projetadas em uma tela ou superfície. Por que o sr. associa a técnica da pintura a esse trabalho?

É uma espécie de brincadeira que decidi fazer. Desde que comecei a trabalhar com a ambient music, tentei criar um tipo de música que parecesse uma pintura. Uma música muito parada, devagar, que você experimenta em uma sala da mesma maneira que você experimenta a presença de uma pintura. É algo incidental. Se você coloca uma pintura na parede, ela não vai se modificar a cada cinco minutos. Você não admira uma pintura de Picasso esperando que ela vá se transformar em Jackson Pollock e, posteriormente, em uma obra do Frank Stella. Então, eu tive essa ideia de criar uma música que tivesse um tempo, uma quietude semelhante à da pintura. E ao unir cores e luzes ao trabalho musical, descobri que o que eu estava fazendo era uma espécie de pintura.

O sr. visitou São Paulo em 2011 e usou fotografias da cidade na capa do disco “Panic of Looking”. Como a cidade influenciou sua criação nesse álbum?

Estive em São Paulo no ano passado, fiz algumas fotos e comecei a brincar com elas no Photoshop. Visitei a cidade pela primeira vez no fim de 1980 e para mim não há cidade mais, digamos, “cidade” no mundo do que São Paulo. De alguma maneira, para mim ela é o futuro da humanidade, porque o que se vê por todos os lados é a presença humana. Eu vivo em Londres e não é assim. O disco “Panic of Looking” fala sobre como viver em cidades e, por isso, escolhi usar imagens de São Paulo.

O sr. vem trabalhando com a arte generativa há muito tempo. Em termos de tecnologia, o que mudou no seu processo criativo?

O grande passo foi começar a trabalhar com computadores para fazer música, há 18 anos. Até então, eu trabalhava de maneira analógica para criar esse efeito generativo. Eu alternava os tapes, as fitas com os sons, colocando-as em loop e depois gravando as variações. Era um sistema mecânico, feito à mão. Quando comecei a trabalhar com computadores, isso foi potencializado pelo automatismo do sistema e ficou muito melhor. Na época comecei a pensar – claro que não só eu – que no futuro carregaríamos nossos computadores no bolso. Hoje nossos tablets e smartphones cumpriram essa profecia. Vi nisso a possibilidade de criar sistemas generativos que pudessem ser carregados em nosso próprio bolso. Com o sistema digital, o que eu faço é deixar que o sistema crie por ele mesmo.