A China afirmou nesta sexta-feira (6) estar disposta a “ir até as últimas consequências, custe o que custar”, em sua guerra comercial com os Estados Unidos, após as ameaças do presidente Donald Trump de impor novas tarifas aduaneiras de 100 bilhões de dólares.
As ameaças recíprocas entre Pequim e Washington foram quase diárias esta semana. Nesta sexta-feira, o Ministério chinês do Comércio reagiu imediatamente às últimas declarações de Trump, apesar de ser feriado na China.
A China lutará com força e determinação se os Estados Unidos publicarem uma nova lista, afirmou nesta sexta o porta-voz do ministro chinês de Relações Exteriores. “Isto prejudica os interesses vitais da China e os interesses comuns da economia mundial”, justificou.
Já o secretário de Tesouro americano, Steve Mnuchin, afirmou à emissora CNBC que “por um lado, estamos dispostos a negociar e não entrar em guerras comerciais. Mas, por outro, o presidente está determinado a defender nossos interesses”.
O conselheiro econômico de Trump, Larry Kudlow, fez uma declaração na mesma linha. “Trump não está usando tarifas como uma carta de negociação, ele mesmo me disse. Algo tem que mudar”, afirmou Kudlow à imprensa na Casa Branca.
Na quinta-feira, afirmou ter pedido “ao Departamento de Comércio para examinar se 100 bilhões de dólares adicionais estariam alinhados com a aplicação do Artigo 301 (sobre propriedade intelectual) e, nesse caso, identificar os produtos sobre os quais poderiam ser impostos”.
Essas cifras se somariam às tarifas que tratam de cerca de 50 bilhões anunciadas antes pelos Estados Unidos.
“Se os Estados Unidos ignorarem a oposição da China e da comunidade internacional e insistirem em suas medidas unilaterais e protecionistas, a China está disposta a ir até as últimas consequências, custe o que custar”, indicou a pasta em nota. “Não queremos uma guerra comercial, mas não tememos lutar uma”, alertou Pequim.
– Sem ameaças reais –
O representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer, denunciou novamente práticas chinesas que, segundo os americanos, constituem roubo de propriedade intelectual das empresas americanas que desejam fazer ou fazem negócios na China.
Kudlow também destacou que os Estados Unidos falam “sério sobre a questão” e que faz falta “acusar a China, e não Trump”.
Contudo, diante da volatilidade dos mercados, que duvidam da possibilidade de uma guerra comercial, Kudlow tentou acalmar a situação, apontando que, por enquanto, não havia ameaças reais.
Embora Trump tenha claramente optado por aumentar a pressão respondendo imediatamente às medidas de Pequim, elas ainda são só ameaças.
“Nada foi ainda aplicado”, disse ele, acrescentando: “Vamos ver, esperamos que tudo acabe bem”.
– Em defesa do comércio mundial –
Neste contexto, a China pediu nesta sexta-feira à União Europeia que atuem juntos contra o protecionismo dos Estados Unidos.
“A China e a União Europeia têm por responsabilidade fazer respeitar a ordem comercial multilateral baseado em regras. Temos que agir juntos”, afirmou o embaixador chinês ante a UE, Zhang Ming.
O ministro chinês de Relações Exteriores, Wang Yi, que visitou Moscou na quinta-feira, pediu uma mobilização internacional contra Washington por suas “ações unilaterais e violação de normas”.
E a China também protestou formalmente contra os Estados Unidos, na quinta-feira, ante a Organização Mundial do Comércio (OMC) pelas “medidas tarifárias sobre produtos chineses” que Washington considera aplicar.
Em resposta, nesta sexta, em um de seus habituais tuítes matinais, Trump afirmou que a “OMC é injusta com os Estados Unidos”.
“A China, que é uma grande potência econômica, é considerada um país em desenvolvimento dentro da Organização Mundial do Comércio. Por isso recebe enormes benefícios e vantagens, especialmente em relação aos Estados Unidos. Alguém por acaso acha que isso é justo? Estamos mal representados. A OMC é injusta conosco”, afirmou em seu Twitter.
Antes de recorrer à OMC, Pequim publicou sua própria lista de produtos americanos a serem taxados (soja, automóveis, aeronáutica) por 50 bilhões de dólares.
Segundo especialistas, em seus anúncios de represália, a China incluiu produtos estratégicos na sua lista para afetar o mais duramente possível as regiões que votaram a favor de Trump, uma forma de exercer um máximo de pressão sobre o mandatário antes das eleições legislativas de meio de mandato, em 6 de novembro.