Quatro palestinos foram mortos e cerca de 250 ficaram feridos por tiros israelenses em protestos nesta sexta-feira (6) perto da fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel, uma semana depois de um dia particularmente mortĆfero durante protestos similares.
Em 30 de marƧo, no inĆcio de uma sĆ©rie de protestos palestinos em defesa do direito de retorno dos refugiados e pelo fim do bloqueio de Israel a Gaza, a violĆŖncia matou 19 palestinos e feriu cerca de 1.400, o dia mais sangrento desde a guerra em 2014 entre Israel e o Hamas palestino.
Nesta sexta-feira, milhares de palestinos se reuniram novamente perto da cerca de seguranƧa que separa o territĆ³rio israelense do enclave palestino controlado pelo movimento islĆ¢mico Hamas, inimigo jurado do Estado judeu.
Os confrontos irromperam em vĆ”rios lugares ao longo da barreira. Manifestantes queimaram pneus e jogaram pedras contra os soldados israelenses, segundo correspondentes da AFP. Os soldados responderam disparando gĆ”s lacrimogĆŖneo e disparando com muniĆ§Ć£o real.
Segundo o MinistĆ©rio da SaĆŗde de Gaza, quatro palestinos foram mortos por tiros israelenses a leste da cidade de Gaza e a leste de Khan Yunis, e cerca de 250, feridos.
Uma das vĆtimas era um adolescente de 16 anos.
Preparando-se para os protestos, jovens palestinos juntaram pneus para incendiĆ”-los, na tentativa de serem atingidos em separado pelos atiradores israelenses. Mas os soldados instalaram enormes ventiladores com o aparente propĆ³sito de dissipar a fumaƧa. TambĆ©m usaram jatos d’Ć”gua.
O ExĆ©rcito afirmou que suas forƧas respondiam “com meios antichoque e com armas de fogo, de acordo com as regras de combate”.
Desde quinta-feira, Israel advertiu que as ordens para disparar contra os palestinos seriam as mesmas do que as de 30 de marƧo, apesar das crĆticas da ONU e da UniĆ£o Europeia sobre o uso de balas reais.
“Se houver provocaĆ§Ć£o, haverĆ” uma reaĆ§Ć£o dura, como na semana passada. NĆ£o temos a intenĆ§Ć£o de mudar as ordens”, afirmou o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman.
– ‘NĆ£o se aproximem da barreira’ –
Preocupado com possĆveis novas vĆtimas, o enviado especial da ONU para o Oriente MĆ©dio, Nickolay Mladenov, pediu Ć s forƧas israelenses e aos palestinos “contenĆ§Ć£o mĆ”xima”, a fim de evitar atritos.
O enviado dos Estados Unidos para o Oriente MĆ©dio, Jason Greenblatt, pediu aos manifestantes que “fiquem longe da barreira”.
“Condenamos os lĆderes e manifestantes que apelam para a violĆŖncia, ou que enviam manifestantes – incluindo crianƧas – para a barreira, sabendo que podem ser feridos, ou mortos”, afirmou Greenblatt.
As manifestaƧƵes desta sexta-feira eram, no entanto, menos importantes do que as de uma semana atrƔs, de acordo com os correspondentes da AFP no local.
Em 30 de marƧo, dezenas de milhares de palestinos se reuniram na cerca de seguranƧa, de forma mais pacĆfica, no primeiro dia da “marcha do retorno”.
Embora a maioria tenha se reunido pacificamente, os confrontos eclodiram assim que pequenos grupos de palestinos comeƧaram a atirar pedras nos soldados israelenses. Os militares reagiram, disparando contra a multidĆ£o.
Israel alegou que seus soldados dispararam contra aqueles que atiraram pedras e coquetƩis molotov, ou que tentaram danificar a cerca e se infiltrar em Israel.
A mobilizaĆ§Ć£o sem precedentes da “marcha do retorno” prevĆŖ manifestaƧƵes e acampamentos durante seis semanas na fronteira Israel-Gaza para exigir o “direito de retorno” de cerca de 700.000 palestinos expulsos de suas terras, ou que fugiram durante a guerra que se seguiu Ć criaĆ§Ć£o de Israel em 14 de maio de 1948.
O desespero na Faixa de Gaza, assolada por guerras, bloqueios, reclusĆ£o, pobreza e escassez, alimenta a tensĆ£o e o ressentimento.
AlĆ©m disso, em meados de maio vai acontecer a transferĆŖncia da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para JerusalĆ©m, o que provavelmente aumentarĆ” a tensĆ£o. Anunciada em dezembro pelo presidente americano, Donald Trump, e coincidindo com o 70Āŗ aniversĆ”rio da criaĆ§Ć£o de Israel, essa decisĆ£o enfureceu os palestinos.
Os palestinos querem fazer de JerusalĆ©m Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel, a capital do Estado a que aspiram. A ONU nĆ£o reconhece a anexaĆ§Ć£o de JerusalĆ©m Oriental por Israel. A proclamaĆ§Ć£o do Estado judeu em 14 de maio de 1948 Ć© considerada uma “Nakba” (“catĆ”strofe” em Ć”rabe) pelos palestinos.