23/02/2018 - 14:21
A população numerosa, a escassez de terras cultiváveis e a mudança da dieta provocada pelo desenvolvimento econômico levaram a China a intensificar a compra de terras agrícolas no exterior.
A China concentra um quinto da população mundial, mas apenas 10% das terras cultiváveis disponíveis no mundo.
A poluição endêmica, o excesso de fertilizantes químicos, a urbanização e a mudança climática tendem a diminuir ainda mais a superfície agrícola e sua produtividade.
Já o desenvolvimento do poder aquisitivo estimula o consumo de carne, uma mudança de dieta que força o aumento das importações de soja e de milho para alimentar o gado.
Ao mesmo tempo, os escândalos sanitários que afetaram recentemente a indústria alimentícia chinesa (arroz contaminado com cádmio e leite com melamina, por exemplo) reforçaram o interesse por alimentos importados.
Todos esses fatores levaram a um impressionante aumento dos investimentos agrícolas da China no exterior. Desde 2010, já são 94 bilhões de dólares investidos, segundo os “think tanks” americanos conservadores Heritage Foundation e American Enterprise Institute (AEI).
Estão na mira da China vários países da América Latina, do Sudeste Asiático e da África, segundo a Land Matriz, uma base de dados independente de um grupo de pesquisadores.
Brasil, Argentina, Chile, Moçambique, Nigéria, Zimbábue, Camboja e Laos, entre outros países, registram a chegada de investimentos chineses, estatais ou privados, em fazendas de cereais, soja, cultivo de frutas, ou criação de gado.
Desde 2012, pesquisadores calcularam projetos chineses no total de 9 milhões de hectares nos países em desenvolvimento.
– Mal-estar local –
Associado com um grupo de mineração, em 2016, o grupo imobiliário Shangai CRED comprou, na Austrália, a maior fazenda do mundo, S. Kidman & Co, dona de 185.000 cabeças de gado e de 2,5% das terras agrícolas do país.
Em 2012, o grupo chinês Shandong Ruyi tinha comprado a maior plantação de algodão da Austrália.
As gigantes agroalimentares Bright Food, Yili e Pengxin compraram dezenas de fábricas de leite na Nova Zelândia, provocando mal-estar entre os agricultores locais.
Nos Estados Unidos, o chinês Shuanghui comprou a fabricante de salsichas Smithfield Foods, um passo para poder acessar terras de gado americanas.
Na França, os bilionários chineses multiplicaram as compras de vinhedos e, recentemente, autoridades descobriram que os investidores da China tinham adquirido 1.700 hectares de terras de cereais no centro do país através de uma manobra jurídica que permitiu evitar o controle do governo.
O conglomerado chinês Reward Group confirmou à AFP em fevereiro que havia comprado “cerca de 3 mil hectares” de terras na França para cultivar trigo orgânico. Este mesmo conglomerado vai instalar uma cadeia de padarias na França.
Esta intensificação dos investimentos chineses na agricultura francesa, que ocorre em meio ao descontentamento dos agricultores, provocou uma reação do presidente francês. Na quinta-feira, Emmanuel Macron anunciou uma nova regulamentação para a compra de terras agrícolas por parte de estrangeiros.