21/02/2018 - 8:40
Depois de passar por um momento de “tudo é novidade” há alguns anos, o mercado de wearables (acessórios que usamos no corpo, como pulseiras e relógios inteligentes), atualmente está em um momento de maior maturidade, com público mais definido e avanços pontuais nos produtos.
A Samsung é uma das empresas que aposta forte neste mercado e vem consistentemente atualizando sua linha de wearables. Para saber um pouco mais sobre este mercado, conversamos com Renato Citrini, gerente sênior de produtos da divisão de dispositivos móveis da Samsung Brasil. Confira a entrevista.
O mercado de wearables surgiu há cerca de cinco anos, com os primeiros relógios e posteriormente o sistema Android Wear. Como você avalia a evolução do mercado até o momento?
Esse momento inicial foi de muita experimentação. A Samsung começou com o Gear, quadradinho, pequeno. Depois veio o Gear S, mais parecido com os atuais. Mas ainda tinha aquela cara de gadget. A pessoa via e falava “aquele cara tá usando um gadget, uma coisa estranha”. Os produtos chamavam atenção, mas ninguém sabia o que era direito. Também experimentamos recursos. Chegamos a lançar um modelo com câmera e percebemos que esse recurso não se tornou popular. A câmera então deixou de existir nos aparelhos seguintes.
Começamos a perceber que havia um interesse na categoria. Mas as pessoas de modo geral queriam algo que se parecesse com um relógio comum. Aquele modelo de relógio com cara de “gadget” não tinha muita aceitação. Então partimos para o Gear S2, primeiro produto com um visual mais próximo ao de um relógio.
Do S2 para S3, tivemos um feedback de que boa parte do público masculino gostaria de um relógio maior, com cara de “cebolão” mesmo. Por isso aumentamos o tamanho da tela no S3, mas mantivemos o S2 no mercado pra quem prefere relógios menores.
Quando os wearables surgiram, havia um certo discurso de mercado que dizia “além do smartphone, todo mundo tem que usar um relógio/pulseira inteligente”. Na prática isso não ocorreu e esses produtos estão longe da popularidade dos smartphones. Mas eles encontraram alguns nichos de mercado, como o de fitness. Como você avalia os tipos de público-alvo dos wearables?
O primeiro público e mais óbvio foi o das pessoas que adoram gadgets em geral, os geeks. Com a evolução do design para que os produtos ficassem mais parecidos com relógios de verdade, começamos a atingir também pessoas que gostam de relógio. E há claro o público natural de quem pratica atividade física.
Mas vemos também um movimento crescente de pessoas que não vão à academia, mas recorrem a caminhadas e outras atividades físicas mais leves por questões de saúde. E os wearables ajudam nisso.
Algo positivo é que estamos em um momento que as pessoas pelo menos já têm uma ideia da finalidade do produto. Há dois ou três anos havia mais dúvidas sobre o propósito do wearable. Claro que não dá pra comparar com a maturidade do mercado de smartphones, um produto que praticamente todo mundo sabe o que é e deseja. Mas já há uma familiaridade maior com o conceito geral do produto.
Com relação ao público masculino/feminino, há alguma divisão?
Naturalmente, por ser um aparelho tecnológico, há um pouco mais de masculino. Mas a diferença não é tão grande assim.
Relatório recente da IDC apontou que os wearables mais simples, como pulseiras Fitbit e Xiaomi, vêm perdendo espaço para produtos mais completos, como relógios e pulseiras com tela de toque. Como vê essa tendência?
Em casos de wearables muito simples, sem tela, o usuário percebe que a pulseira vibrou, mas não sabe o motivo. É um alerta? Uma mensagem? Quando você tem uma tela, por menor que seja, já pode acessar bastante informação. Essa é uma vantagem importante dos produtos mais sofisticados. Eles podem não só medir, mas também mostrar as informações mais importantes.
A Samsung chegou a lançar um relógio com sistema Android Wear (o Gear Live, em 2014), mas de modo geral optou por usar o sistema Tizen, criado pela empresa. Pode comentar essa estratégia?
O que vemos nesse momento é que o wearable começa a ser independente do celular. Ele funciona sem ajuda do smartphone para muitas tarefas, como acessar Wi-Fi, tocar músicas. Nesse sentido, ele pode ser encarado com um dispositivo de Internet das Coisas (Internet of Things ou IoT em inglês). E a visão da Samsung é que o Tizen é nosso sistema para IoT, e roda em outros produtos nossos, como TV.
O Tizen é uma plataforma fácil para desenvolvimento de apps. Quem já programa HTML5 e CSS pode portar seus apps com alguma facilidade. É também um sistema leve e que consome pouca bateria. No relógio temos a limitação do peso, tamanho.
Nesses cinco anos desde os primeiros wearables, vimos que os produtos ficaram mais compactos. Acha que há espaço para reduzir ainda mais o tamanho dos produtos?
Um grande ponto que ainda limita o tamanho é a bateria. A tecnologia de bateria atual está praticamente no seu limite, não tem muito o que avançar. Nessa área, um avanço importante deve vir com baterias de grafeno. A Samsung já desenvolve em laboratório baterias de grafeno com capacidade de carga 45% maior do que uma bateria convencional (mais detalhes, em inglês, aqui). À medida que o grafeno se tornar comercialmente viável poderemos ter produtos menores, ou do mesmo tamanho, porém com mais recursos e sensores.
Outra evolução que pode ocorrer é na área médica. Hoje ainda não é uma realidade, pois os sensores cardíacos dos wearables não são precisos o suficiente para serem usados do ponto de vista médico. Nós inclusive incluímos em nossos manuais que o monitor cardíaco não pode nem deve ser usado para fins de avaliação médica. Mas, à medida que sensores mais precisos se tornarem comercialmente viáveis, poderemos começar a ver o uso de wearables na medicina.
Agora falando sobre um tipo diferente de wearable, os óculos de realidade aumentada. O Google Glass foi anunciado com grande estardalhaço, mas não vingou. Recentemente, a Intel anunciou o projeto Vaunt, com óculos menos invasivos (sem câmera) e mais discretos. Como avalia esta categoria?
Essa área de realidade aumentada ainda está em seus primeiros passos. Se tivermos essa conversa em cinco anos acho que vamos dar muitas risadas sobre o que temos hoje. No caso do Google Glass, muitos dos problemas eram relacionados à privacidade. As pessoas ficavam um pouco assustadas com aqueles óculos com câmera.
Já temos alguma coisa de realidade aumentada em celulares. No caso dos óculos, creio que uma questão fundamental é a finalidade. Para que eu vou usar esses óculos? Que problema eles vão resolver para mim? Isso ainda não está definido.