15/12/2017 - 15:48
Examinar o corpo sem vida de um gato virou uma rotina macabra para Tony Jenkins, uma vez que um possível assassino em série de animais está à solta no sul de Londres.
Ninguém parece se surpreender quando este cofundador da pequena associação de proteção aos animais Snarl se dirige a uma clínica veterinária em uma fria tarde de outono.
Tony entra em uma sala, coloca as luvas e tira de uma sacola plástica um gato preto com patas brancas.
A assistente do veterinário dá um passo para trás. A cabeça e o rabo do animal fora cortados com uma precisão cirúrgica. Inclusive Tony acusa o golpe. “Safado”, diz entre dentes.
“É claramente uma vítima” do assassino, afirma à AFP, referindo-se aos gatos “com as mesmas características” encontrados “em todo o tipo de local” em Londres, Brighton (sul) e Northampton (centro).
Em um espaço de dois anos, a associação Snarl registrou 400 vítimas, muitas delas gatos, mas também raposas e coelhos.
– ‘Descanse em paz’ –
Para Tony, tudo começou em setembro de 2015.
Intrigados por uma sucessão de mortes suspeitas, ele e Boudicca Rising, cofundadora da Snarl, contactaram veterinários e donos de animais, e fizeram uma cartografia das vítimas.
“Nesse momento nos demos conta de que alguma coisa estava acontecendo”, conta Boudicca.
O assunto chegou aos ouvidos da Scotland Yard, que abriu uma investigação, assim como a Sociedade Real de Proteção dos Animais (RSPCA).
A imprensa repercutiu a notícia e começou a circular a hipótese de que pudesse ser obra de um psicopata.
No Facebook, a página da Snarl faz uma lista das vítimas do “Croydon Cat Ripper”, como apelidam em referência à cidade do sul de Londres onde costuma atacar.
“Descanse em paz”, escreve a internauta Kate Norton ao lado de uma fotografia do gato “Pepper”. “Sobre esse lixo maléfico e doente que fez isso: tomara que apodreça no inferno!”.
Tony e Boudicca se transformaram em investigadores e descobriram, pasmos, cadáveres decapitados, colocados perto de uma escola ou de um parque, e inclusive ao lado das janelas dos donos dos animais.
Em certo momento, chegaram a pensar que os gatos eram vítimas de outros animais, mas agora descartaram a possibilidade.
“A Polícia acredita que uma pessoa, ou um grupo de pessoas (…), seja a responsável pelas mortes e mutilações”, disse à AFP a Scotland Yard, que não quer comentar a tese de “assassino em série”.
O caso chama a atenção e mobiliza meios incomuns nesse tipo de crime. A Agência Nacional de Luta contra o Crime (NCA) o investiga, e duas organizações, entre elas a PETA, oferecem uma recompensa a quem quer que ajude a capturar o assassino.
– Os humanos, a próxima etapa? –
Tony tenta desmascará-lo com seus meios. “Mas é difícil”, declara. “Às vezes gostaria que fosse (…) como nas séries em que os crimes são resolvidos com métodos científicos”.
Os indícios o levaram até um vendedor de crânios de animais. Era uma pista falsa. “É raro se dedicar a isso, mas não é ilegal. Os importava da China”.
A investigação permitiu fazer um retrato falado do assassino: um homem branco, de cerca de 40 anos anos, em torno de 1,80 m de altura, que “aparentemente foi criado em Croydon”.
Um misterioso criminoso com muito talento de “dissecador” e para fugir da vigilância, aponta Vincent Egan, criminalista que dá aulas na Universidade de Nottingham. “Deve ser capaz de atrair o animal, matá-lo sem esfolar, dissecá-lo e colocar o corpo em um local visível. E tudo isso discretamente”.
A lista das vítimas não para de aumentar e surge a inevitável pergunta: os gatos são só uma etapa?
“Sabe-se que existe um vínculo entre os assassinos em série e casos de violência contra animais”, afirmou recentemente a Sky News Andy Collin, responsável pela investigação policial.
“A hipótese é que esse assassino obtenha certa satisfação (matando gatos). O medo é que acabe a perdendo e que então se vire contra humanos, sobretudo mulheres”.