06/12/2011 - 11:21
A chanceler alemã, Angela Merkel
Uma ruptura do euro levaria a uma desvalorização das moedas em 16 das 17 nações que compõem atualmente o bloco, conforme um estudo feito pela corretora japonesa Nomura Securities. A moeda da Alemanha seria a única da zona do euro a registrar uma pequena valorização frente ao nível de negociação atual da moeda comum em relação ao dólar, de US$ 1,34 por euro. Já as moedas da Grécia e de Portugal se negociadas de forma independente do euro, registrariam uma desvalorização imediata de 58% e 47%, respectivamente. A nova moeda da Espanha perderia 36% frente ao nível atual do euro em relação ao dólar e a moeda da Itália teria uma desvalorização de 27%.
"O risco de uma ruptura da zona do euro aumentou nos últimos meses", afirma o estrategista chefe de câmbio da Nomura Securities em Nova York, Jens Nordvig, no levantamento enviado nessa segunda-feira (5) a clientes. "Os investidores que detêm ativos e obrigações em euro enfrentam o risco de uma redenominação das moedas desses contratos em novas moedas nacionais", explicou.
Para quantificar a magnitude da desvalorização das novas moedas no cenário de ruptura completa do euro, Nordvig levou em conta fatores como o desalinhamento atual da taxa de câmbio real e o risco de inflação futura. Esse cálculo quantificou a depreciação no médio prazo associada com a redenominação dos contratos nas novas moedas nacionais.
"Vemos essas estimativas como um parâmetro inicial dentro do qual essas moedas seriam negociadas num “novo equilíbrio” depois de um período de transição potencialmente longo e extremamente volátil", explicou Nordvig na nota a clientes. O analista da Nomura lembrou que o peso argentino desvalorizou-se 72% em termos nominais nos cinco meses que se seguiram após a deflagração da crise cambial do país.
O valor justo após a ruptura, por exemplo, resultaria em cada dólar sendo trocado por apenas 57 centavos da nova divisa grega e 71 centavos da nova moeda portuguesa, comparado com o atual 1,34 dólar para cada euro. Já para a nova moeda da Alemanha, seria necessário 1,36 dólar. Essa estimativa inicial também não leva em conta elementos inesperados como a implementação de controle de capitais, instabilidade política e colapso do sistema bancário que podem ocorrer depois de uma crise cambial e uma forte desvalorização.
"Nossa análise de aspectos legais do risco de redenominação também mostra que esse risco é elevado no que toca às obrigações regidas por leis locais na maioria dos cenários de ruptura da zona do euro e também de risco significativo para algumas obrigações regidas por leis estrangeiras", explicou o analista. "A combinação de elevado risco de redenominação cambial dos contratos e o potencial significativo de depreciação no cenário de ruptura do euro deverá impactar o prêmio de risco de alguns ativos desde já", disse Nordvig. Para ele, essa nova camada de incerteza já irá afetar o sentimento dos investidores em relação aos ativos denominados em euro e a própria cotação da moeda nos próximos meses.
Classificação de risco
A Alemanha, que até agora era apontada de maneira unânime como um oásis em meio às turbulências da zona do euro, reagiu de maneira enérgica à ameaça de um rebaixamento de sua nota "AAA" pela agência de classificação financeira Standard and Poor’s (S&P). Um dos líderes do partido CDU da chanceler Angela Merkel, Michael Fichs, afirmou ao jornal Die Welt que vê "um cálculo de ordem política por trás do anúncio" da agência americana, destinado a desviar a atenção dos problemas do endividamento dos Estados Unidos.
"A dívida dos Estados Unidos supera a de toda a zona do euro", comentou indignado o número dois da bancada da União Democrata Cristã (CDU). Os jornais alemães comentaram o anúncio da Standard and Poor’s em suas edições online. Para o Süddeutsche Zeitung, "nem os alunos modelo estão a salvo". A Standard & Poor’s colocou na segunda-feira sob perspectiva negativa as notas da dívida soberana a longo prazo de 15 países da zona do euro, incluindo os seis Estados com nota triplo A: Alemanha, Áustria, Finlândia, França, Luxemburgo e Holanda.
A S&P disse a 15 dos 17 países da zona do euro, incluindo Alemanha, França e quatro outros com nota "AAA", que pode rebaixá-los dentro de 90 dias, dependendo do resultado da cúpula de sexta-feira.
Entenda
No auge da crise de crédito, que se agravou em 2008, a saúde financeira dos bancos no mundo inteiro foi colocada à prova. Os problemas em operações de financiamento imobiliário nos Estados Unidos geraram bilhões em perdas e o sistema bancário não encontrou mais onde emprestar dinheiro. Para diminuir os efeitos da recessão, os países aumentaram os gastos públicos, ampliando as dívidas além dos tetos nacionais. Mas o estímulo não foi suficiente para elevar os Produtos Internos Brutos (PIB) a ponto de garantir o pagamento das contas.
A primeira a entrar em colapso foi a Grécia, cuja dívida pública alcançou 340,227 bilhões de euros em 2010, o que corresponde a 148,6% do PIB. Com a luz amarela acesa, as economias de outros países da região foram inspecionadas mais rigorosamente. Portugal e Irlanda chamaram atenção por conta da fragilidade econômica. No entanto, o fraco crescimento econômico e o aumento da dívida pública na região já atingem grandes economias, como Itália (120% do PIB) e Espanha.
Um fundo de ajuda foi criado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE), com influência da Alemanha, país da região com maior solidez econômica. Contudo, para ter acesso aos pacotes de resgates, as nações precisam se adaptar a rígidas condições impostas pelo FMI. A Grécia foi a primeira a aceitar e viu manifestações contra os cortes de empregos públicos, programas sociais e aumentos de impostos.