29/11/2017 - 14:22
Com suas toucas ninjas pretas e kalashnikovs nas mãos, os membros do braço armado do Hamas são uma presença familiar na Faixa de Gaza e um incômodo até a unidade palestina.
Agora que os grupos palestinos tentam superar uma década de divisões, o braço armado do movimento islamita Hamas, as Brigadas Ezedin al-Qasam, continua sendo um dos principais obstáculos.
Em virtude do acordo concluído em 12 de outubro no Cairo, o Hamas aceitou traspassar antes de sexta-feira à Autoridade Palestina, reconhecida pela comunidade internacional, o poder que exerce na Faixa de Gaza desde que se apoderou à força do território em 2007.
O Hamas acabou aceitando o retorno da Autoridade Palestina ao se ver isolado e submetido a múltiplas pressões: a piora das condições de vida no enclave, agravada pelo corte de ajuda financeira decretado pelo presidente palestino Mahmud Abbas; a insistência do Egito; e os problemas diplomáticos do Catar, aliado do movimento islamita. Mas descarta entregar as armas.
Abbas se nega a assumir as competências civis sem poder controlar diretamente a segurança porque a Autoridade Palestina ficaria à mercê de um movimento com o qual estava em desacordo há alguns meses.
– ‘Linha vermelha’ –
Não aceitará “que copiem a experiência do Hezbollah no Líbano”, onde o movimento xiita está livre, advertiu.
“As armas da resistência constituem uma linha vermelha, não é um tema aberto ao debate”, reiterou na segunda-feira Khalil al-Hayya, um responsável do Hamas.
As brigadas seriam integradas por entre 20 mil e 25 mil homens.
Antes da guerra de 2014, uma análise militar israelense estimava que os grupos armados palestinos de Gaza dispunham de cerca de 10 mil foguetes, dos quais 6 mil estavam em poder do Hamas.
Segundo esta análise, a maioria deles eram projéteis de curto e médio alcance, mas alguns poderiam chegar a até 200 quilômetros.
Cerca de dois terços dos foguetes foram lançados durante a guerra, disse Neri Zilber, um especialista do Washington Institute for Near East Policy.
Desde então, reconstituíram um arsenal de cerca de 10 mil foguetes, privilegiando os projéteis de curto alcance, mais difíceis de serem interceptados pelo sistema antimísseis que cobre o território israelense, afirmou.
Aparentemente, os grupos armados palestinos também possuem lança-foguetes, muitos dos quais foram introduzidos no território por túneis cavados sob a fronteiras egípcia.
As armas são um componente essencial da ideologia e da estratégia do Hamas.
– ‘Com flores’ –
A carta fundadora do movimento islamita, redigida em 1988, quer a destruição de Israel. O Hamas adotou em maio um texto que modera o tom belicoso, msa sem substituir o anterior.
Para o Hamas, Israel continua sendo uma “entidade usurpadora” e “ilegal”, e “a resistência e a jihad pela libertação da Palestina continuam sendo um direito legítimo”.
“Quando Israel ocupou a Palestina não chegou com flores”, afirmou o professor universitário de Gaza Asad Abu Shark. “Precisamos ter armas para a nossa defesa”.
O Hamas, com a ajuda de seus aliados, travou três guerras contra Israel desde 2008 na Faixa de Gaza. Desde 2014 os dois mantêm um tenso cessar-fogo.
Israel continua em estado de alerta ante uma possível piora da situação.
Em outubro, com medo de ataques subterrâneos, Israel explodiu um túnel que saía de Gaza. Doze membros de grupos armados palestinos morreram, o que fez temer represálias que pudessem prejudicar o processo político em curso.
E as declarações em agosto do dirigente do Hamas, Yahya Sinouar, ex-comandante das brigadas, de que o Irã, inimigo jurado de Israel, é “o principal apoio” do grupo, tampouco se mostravam como um bom presságio para a unidade palestina.