Coluna: Mozart Neves

Diretor de Articulação e Inovação do <a href="https://www.institutoayrtonsenna.org.br/" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Instituto Ayrton Senna</a>. Foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), secretário de Educação de Pernambuco (2003-2006) e presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação). Foi presidente executivo do Todos Pela Educação (2007-2010)

Analfabetismo: uma vergonha nacional

Analfabetismo: uma vergonha nacional

Há um mês, o Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgava os resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) de 2016. O foco da mídia em geral, naquele mesmo dia, estava dirigido para alguns quilômetros dali, mais precisamente para a Câmara dos Deputados, onde deveria ser votado o prosseguimento ou não de denúncia contra o presidente Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Talvez essa seja a razão que explique, embora não justifique, a divulgação tão tímida desse grave quadro da Educação em nosso País. Ou será que nós, brasileiros, já nos sentimos indiferentes ao fato de que 50% das nossas crianças, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental, e a maioria já com mais de oito anos de idade quando da realização do exame, não sabem ler, contar e escrever?

Os países que priorizam o caminho de uma Educação de boa qualidade, em que todas as crianças e todos os jovens aprendem e concluem na idade certa sua formação básica, certamente estão muito menos vulneráveis às situações políticas que o Brasil vem passando nos últimos anos. Pois a Educação é o vetor mais importante para o fortalecimento da democracia e da cultura de paz de qualquer país, sem esquecer do enorme impacto na produtividade e na redução das desigualdades sociais e econômicas.

Por isso, os dados do analfabetismo de crianças em nosso País não poderiam passar tão despercebidos pela nossa sociedade. É um fato muito mais vergonhoso do que os 7 a 1 que levamos da Alemanha na última Copa do Mundo.

Se quisermos ter, de fato, um País mais justo e de oportunidades iguais para todos, será pela Educação que isto deverá ocorrer, cuja pedra angular é a alfabetização de nossas crianças. Há uma relação direta entre melhores níveis de alfabetização e as aprendizagens escolares nas etapas posteriores, que impactam fortemente na redução do abandono escolar e na gravidez na adolescência.

Além disso, se proporcionarmos uma educação integral (que não é tempo integral) às nossas crianças ainda na pré-escola, os impactos na vida futura dessas crianças são enormes, como mostram pesquisas longitudinais do prêmio Nobel James Heckman. Por exemplo, tais crianças terão 35% menos chances de ter problemas prisionais na sua vida adulta e 44% mais chances de concluir o Ensino Médio, quando comparadas com crianças que não tiveram a oportunidade de uma boa educação na primeira infância.

Por tudo isso, vamos dar luz à Educação em nosso país, não vamos nos tornar indiferentes a quadros tão graves como esse do analfabetismo de nossas crianças, pois o nosso futuro dependerá da boa educação que elas receberem.