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IN LOCO A base abrigará cientistas que estudarão microorganismos

A exploração científica da Antártica, com todos os mistérios que ainda a envolvem, tem sido um grande desafio para os belgas desde o século XIX, quando o pesquisador Adrien de Gerlache inaugurou a presença de seu país nesse continente gelado – a sua embarcação ficou presa entre as geleiras e ele se tornou o primeiro cientista a enfrentar um inverno inteiro na Antártica. A Bélgica desde então investiu sistematicamente em pesquisas e na preservação desse território. E lança agora um de seus mais inovadores projetos: a primeira estação polar totalmente ecológica. Batizada de Princesa Elisabeth, ela será abastecida unicamente de energia renovável e abrigará até 20 cientistas que avaliarão inloco as mudanças climáticas e as conseqüências do aquecimento global. Um dos idealizadores do projeto, o explorador belga Alain Hubert, acompanhou de perto o processo de derretimento das calotas de gelo em suas expedições. “É a primeira vez que a humanidade se vê diante de um problema de escala planetária, que precisa de uma perfeita compreensão de suas causas e que nos obrigará a encontrar soluções inéditas”, diz ele.

A base ecológica Princesa Elisabeth foi montada em Bruxelas, numa espécie de hangar que já funcionou até como depósito para a alfândega belga. Com formato semelhante ao de uma nave espacial, ela é constituída de madeira, metal e materiais compostos, formando uma estrutura capaz de suportar as mais adversas condições ambientais como, por exemplo, temperaturas que despencam a 40 graus negativos e ventos que ultrapassam a velocidade de 200 quilômetros por hora. Tem 22 metros de comprimento e 10 metros de altura, e uma de suas grandes inovações em relação a outras bases polares é que ela não deverá emitir gases responsáveis pelo agravamento do efeito estufa, reduzindo quase a zero o nível de seu impacto ambiental.

 

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Os combustíveis fósseis que geralmente são utilizados para abastecer os geradores de grande parte das estações polares serão substituídos por energia renovável – isso significa que cerca de 95% de toda a energia utilizada pela nova base ecológica virá do calor do sol ou da força dos ventos. Os outros 5% restantes serão obtidos a partir de um processo de reciclagem de calor gerado dentro da própria estação. Os cientistas poderão derreter gelo para conseguir água e, fator importante, essa água também será reciclada para que o ambiente não a receba de volta poluída. O primeiro passo para a instalação da base será daqui a um mês, quando ela sairá de Bruxelas rumo à Antártica. Nesse continente, ficará na parte leste, próxima a cadeias de montanhas e lagos de água doce – o motivo estratégico de sua localização geográfica é dar aos cientistas a oportunidade de desenvolverem pesquisas ambientais como, por exemplo, a análise da diversidade de microorganismos que vivem nessa região. A última vez que os belgas pisaram a Antártica em missão exploratória foi em 1967, no encerramento das operações de outra base (não ecológica) chamada Rei Balduíno, instalada dez anos antes e que virou sucata ao ser coberta por uma tempestade de neve. Agora lá estará a Princesa Elisabeth, mais um símbolo do pioneirismo belga nessa região e demonstração da necessidade de sua preservação ambiental.