01/09/2011 - 16:20
O principal índice de ações da bolsa paulista, Ibovespa, subiu cerca de 3% nesta quinta-feira (1º), ajustando-se ao novo patamar dos juros no Brasil após a redução surpreendente da taxa básica (Selic) de 12,50% ao ano para 12% ao ano. O índice subiu 3,06%, de acordo com dados preliminares, a 58.223 pontos. O giro do pregão, às 17h, era de R$ 9 bilhões.
Selic
"A queda dos juros é como música para os ouvidos, é boa para a bolsa e para toda a sociedade brasileira", avaliou nesta quinta-feira (1º) o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. "Redução de juros é sempre bem-vinda", disse em teleconferência com a imprensa para comentar as mudanças na diretoria da bolsa. Para Edemir, apesar da surpresa com a redução da taxa, o comportamento dos juros futuros
já sinalizava um corte na Selic (taxa básica da economia).
Na noite dessa quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu os juros básicos da economia em 0,50 ponto porcentual, para 12% ao ano. A redução pegou o mercado de surpresa. Nenhum dos economistas das 72 instituições financeiras ouvidas pela Agência Estado, na pesquisa sobre a decisão do Copom, previu redução dessa magnitude na taxa.
Crédito
A redução da taxa básica de juros terá um efeito pequeno nas operações de crédito. A avaliação é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que divulgou nesta quinta uma projeção do impacto da queda da Selic sobre as taxas cobradas nos empréstimos a consumidores e empresas. De acordo com a entidade, o efeito será reduzido porque "existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas cobradas do consumidor".
Pelas projeções da Anefac, a redução da Selic fará a taxa média de juros cobrada no comércio cair de 94,49% ao ano para 93,61% ao ano. Assim, o consumidor que comprar uma geladeira de R$ 1.500 parcelada em 12 vezes terá o custo final diminuído de R$ 2.111,76 para R$ 2.107,20 (redução de apenas R$ 4,56), segundo simulação da Anefac.
A taxa média de juros para o financiamento de automóveis, por exemplo, deve passar de 32,46% para 31,84% ao ano. Em outra simulação, a Anefac mostra que o consumidor que adquirir um carro de R$ 25 mil parcelado em 60 meses (5 anos) terá o custo final reduzido de R$ 47.103,00 para R$ 46.667,40, uma queda de R$ 435,60.
Outras linhas de crédito para pessoa física também vão sentir o efeito da redução da Selic, ainda que pequeno. A taxa média de juros do cartão de crédito deve cair de 238,30% para 236,83% ao ano, enquanto a do cheque especial deve recuar de 159,48% para 158,33% ao ano. Já a taxa média de juros dos empréstimos pessoais com bancos deve cair de 72,93% para 72,14% ao ano, enquanto a taxa média da mesma modalidade contratada em financeiras deve baixar de 191,98% para 190,70% ao ano.
Para as empresas, o impacto da redução da Selic também será pequeno. Nos cálculos da Anefac, a taxa média de juros em operações de capital de giro deve passar de 43,74% para 43,08% ao ano. A taxa média para desconto de duplicatas deve cair de 45,59% para 44,92% ao ano, enquanto a taxa média para conta garantida vai recuar de 98,95% para 98,05%.
Avaliação
A decisão do Copom de reduzir a Selic foi prematura, na avaliação da economista-sênior para a América Latina do RBS Global Bank, Zeina Latif. Segundo a economista, o crescimento do mercado de trabalho e os aumentos salariais ainda geram riscos de inflação. Além disso, na avaliação de Zeina, a decisão do governo de aumentar o superávit primário, economia feita para o pagamento de juros da dívida, não deveria ser um argumento suficiente para o BC reduzir os juros básicos. Ela enfatizou que o governo não anunciou corte de gastos, mas apenas uma reserva de receitas, com desaceleração de despesas.
Para 2012, Zeina destaca o aumento de despesas previstas na proposta orçamentária entregue nessa quarta (31) pelo governo ao Congresso Nacional. A economista também avalia que o cenário externo ainda é muito incerto.
Mesmo com as pressões por juros básicos mais baixos no país, Zeina considera que, para se ter uma Selic menor, é preciso reduzir primeiramente a inflação. “O risco inflacionário é elevado e isso impõe limites para a queda dos juros”, ressaltou. “É muito importante preservar o regime de metas para ter juros mais baixos no futuro”, acrescentou.
Zeina também afirmou que o discurso de membros do governo como o do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o da presidenta Dilma Rousseff, de pedir queda na taxa básica “não ajuda o Banco Central”. Para ela, somente o BC deveria falar sobre política monetária. “Se houvesse autonomia formal do Banco Central, o regime de metas de inflação estaria mais blindado”, acrescentou.
Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Newton Ferreira Marques, a decisão do Copom surpreendeu porque o BC ainda enfrenta o desafio de fazer com que a sociedade suporte reajustes de preços e de salários. “A redução da taxa básica de juros foi uma grande surpresa. Agradável para uns e decepcionante para outros que não esperavam que o Banco Central pudesse reduzir a taxa básica de juros em um momento em que a inflação ainda está elevada”, disse Marques, em entrevista à Rádio Nacional.
A professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Virene Matesco considera que decisão do Copom “não foi de todo ruim”. Ela destaca que há expectativa de desaceleração da atividade econômica mundial e de “esfriamento” da inflação no país. “A redução dos juros irá aliviar as contas públicas, porque o serviço da dívida diminui”, acrescentou.