Levantamento mostra que há 917 grupos radicais em ação nos Estados Unidos

Levantamento mostra que há 917 grupos radicais em ação nos Estados Unidos

Atualmente existem quase mil grupos extremistas em atividade nos Estados Unidos, informa a Southern Poverty Law Center, organização não governamental (ONG) que monitora movimentos radicais, divididos em categorias como de supremacia branca, de ódio, neonazistas, neoconfederados, skinheads (cabeças rapadas), separatistas negros, antimuçulmanos e milícias antigovernamentais, além de adeptos da Identidade Cristã.

São 917 grupos radicais regionais ou nacionais, conforme levantamento da SPLC. Além de moniftorar a atuação de tais grupos, a SPLC denuncia e combate a ação deles. Segundo a ONG, após a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos, a ação de grupos com perfil radical racista ou supremacista cresceu 17%.

Com base nos relatórios da SPLC, a Agência Brasil destacou  os grupos e tendências mais atuantes hoje nos Estados Unidos:

Ku Klux Klan

Grupo supremacista branca mais antigo do país, reconhecido mundialmente. Ao longo da história, a atuação da Ku Klux Khan divide-se em três fases. A primeira formação foi  em 1866 – o grupo foi originalmente criada no Sul do país para se contrapor aos avanços antiescravidão, logo após a guerra civil. Usando icônicos trajes coloridos, com chapéus em forma de cone e máscaras, os militantes do movimento usavam a violência e o terrorismo contra afro-americanos. A primeira formação foi extinta em 1871, mediante lei federal. Extremista e reacionário, defensor do nacionalismo e contra imigrantes, católicos e semitas. o movimento diz buscar a “purificação da sociedade americana”.

Em meados dos anos 20 do século passado, surgiu a segunda formação da entidade, nas áreas urbanas do Centro-Oeste e Oeste americanos. Com raízes em comunidades protestantes, o grupo se contrapôs ao pujante movimento migratória de católicos europeus e adotou trajes brancos, semelhantes aos usados na primeira formação, e adicionou rituais de queimada de cruzes e marchas.

A terceira e atual formação veio na segunda guerra mundial, com grupos locais e isolados com o nome KKK. Os militantes organizaram-se em oposição ao Movimento dos Direitos Civis, usando violência e assassinatos para reprimir ativistas. É classificado como grupo de ódio por entidades que monitoram a tensão racial nos Estados Unidos, como a SPLC. Existem entre 6 mil e 8 mil seguidores ativos, espalhados em 152 grupos.

Alt-right

O Alt-right (Direita Alternativa) é um movimento de difícil classificação e definição, por sua fluidez. A Direita Alternativa não representa uma organização em si, mas congrega um grupo de pessoas em torno de um pensamento pró-identidade branca. Atua fortemente em plataformas digitais, com ativismo online, defendendo a supremacia branca e conceitos ultranacionalistas e difundindo teorias da conspiração. Sites multimídia, como o Infowars, dvulgam ideias como a de que os atentados de  11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos foram produzidos pelo próprio governo americano.

O movimento tem reconhecidos gurus (professores ou guias, orientadores) que são seguidos pelos simpatizantes de suas ideias. Entre eles, aparecem Alex Jones, Richard Spencer (que esteve na marcha em Charlotesville há um mês) e Steve Bannon, ex-estrategista-chefe do governo Trump.

Neonazis

Grupos antissemitas que, além de aversão a judeus, discriminam outras minorias, como gays e transexuais, identificam-se com Adolf Hitler, apropriando-se dos símbolos do nazismo alemão.

Existem cerca de 170 grupos neonazistas em atividade nos Estados Unidos. O mais conhecido é a National Alliance (Aliança Nacional). Explicitamente genocida, o grupo é, segundo especialistas, o mais organizado e perigoso grupo de formação neonazista do país. Defende o genocídio e erradicação de judeus e outras minorias de maneira explícita em sua ideologia. O objetivo final é a criação de uma “pátria branca”.

O grupo foi fundado em 1970 em West Virginia.

Nacionalistas brancos

Conservadores de extrema direita que acreditam na supremacia da raça branca e defendem o separatismo. O grupo mais reconhecido dentro do movimento é o Conselho dos Cidadãos Conservadores (CCC), com seguidores em estados como Alabama, Geórgia, Lousiana, Missouri, Virgínia e Texas. Foi criado em 1985, inspirado em agremiações parecidas surgidas entre 1950 e 1960. Em meados dos anos 80, foram formados CCCs com base nos princípios dos primeiros grupos.

Em sua declaração de princípios, os movimentos declaram “que se opõem a todos os esforços para misturar as raças da humanidade” e que “Deus é o autor do racismo”, porque foi Deus quem “dividiu a humanidade em diferentes tipos”. Seus membros Identificam os Estados Unidos como um país europeu e que a imigração maciça de povos não europeus e não ocidentais ameaça transformar a nação em uma “não maioria” europeia. São árduos defensores de um rígido controle migratório.

Skinheads

Os skinheads raciais são um grupo conhecido pela atuação violenta dentro do movimento supremacista branco. Algumas vezes são chamados de “tropa de choque” dos racistas brancos. O visual marcante, cabeça rapada, várias tatuagens, muitas vezes de conteúdo racista, e botas pretas de cano alto são característicos. Desde 1980, o monimento começou a conquistar novos adeptos nos Estados Unidos.

Atualmente, há cerca de 133 grupos ativos nos Estados Unidos. No começo, foram considerados um subgrupo cultural da juventude rebelde, mas cometiam ataques e assassinatos contra negros, latino-americanos e gays, o que deixou explícito o caráter de ódio.

Eles conquistam novos seguidores pela internet, em grupos de discussões fechados e afirmam também que é “preciso assegurar a existência do futuro e de crianças brancas”. Os simpatizantes adotam elementos de inspiração nazista, por defenderem o “extermínio” do que não é branco.

Identidade cristã

O Christian Identity (CI, Identidade Cristã, em português, é um grupo separatista branco que defende uma interpretação racial do cristianismo. Para seus membros, povos germânicos (anglo-saxões) são descendentes de sangue dos heróis da fé do cristianismo (do Velho Testamento da Bíblia): Abraão, Isaac e Jacó. O CI não tem estrutura centralizada, mas há registro de 55 grupos nos Estados Unidos, alguns organizados por indivíduos, ou subgrupos que fazem parte de igrejas e até de algumas gangues formadas no interior de presídios. Antissemitas, tais grupos veem os judeus como “malditos” e afirmam que os europeus são descendentes do “povo escolhido”.

Para a Identidade Cristã, todos os não brancos do planeta serão exterminados ou escravizados – para tanto, eles tomam como base a Teologia do Domínio da raça branca. Para os simpatizantes do movimento, apenas os brancos, ou “adâmicos”, podem alcançar a salvação e o paraíso.  Os primeiros grupos começaram a se organizar nos anos 20. Estima-se que existam 2 mil pessoas ativas em grupos de CI no país, embora, segundo os estudos, haja pelo menos 50 mil simpatizantes, pessoas não afiliadas, mas que acreditam na doutrina.

Neoconfederados

O termo descreve grupos que buscam reviver o sentimento prpó-confederados nos Estados Unidos. Extremamente nacionalistas, lutam pelo fim da imigração e dizem que os valores originais dos americanos foram perdidos. Existem pelo menos 50 organizações desse tipo no país. São nativistas e afirmam seguir os preceitos do cristianismo. Defendem o patrimônio e a volta de “valores fundamentais antigos”, que, na visão deles, os norte-americanos modernos  abandonaram.

Os neoconfederados opõem-se à liberdade de escolha de gênero, combatem o homossexualismo e defendem papéis “tradicionais” para homens e mulheres. São favoráveis à segregação e também defensores da supremacia branca. 

Com atividade intensa, aparecem as organizações Liga do Sul e o Conselho de Cidadãos Conservadores, que têm raízes nos neoconfederados, embora este grupo tenha desenvolvido uma teoria mais religiosa, ao afimar que o racismo é uma criação divina. No geral, é uma ideologia reacionária, que tem se infiltrado na ala mais conservadora do Partido Republicano.

Separatistas negros

Existem ao menos 140 grupos classificados como Black Separatists, negros separatistas, que defendem instituições separadas e até mesmo uma nação separada para a comunidade negra. Opõem-se à integração racial e também ao  casamento interracial. A maioria é contra brancos e semitas, defende versões segundo as quais os negros, e não os judeus, são o povo escolhido de Deus.

Sobre tal grupo, o SPLC faz uma ressalva e diz que o racismo negro é, em parte, uma resposta a séculos de racismo branco. Os separatistas negros são considerados grupo de ódio por usarem os mesmos critérios que os racistas brancos, quanto à exclusão, ao separatismo, racismo e à superioridade de uma raça sobre outra, conceitos que são relacionados à definição de grupos de ódio.

Grupos conhecidos são o Nação Islã e o New Black Panther Party (Novo Partido Pantera Negra), fundado em Dallas em 1989. De perfil militante, inspirou-se em movimento atuante de 1960 a 1970, o Panteras Negras, criado por Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcom-X que defendia conquistas dos direitos civis pela luta armada, contra brancos, judeus e policiais – em uma visão antagônica à de Martin Luther King Jr. Mas a formação original do Panteras Negras não era um grupo de ódio. E remanescentes do grupo original contestam a apropriação do nome pelos separatistas.

Criada em 1997, a Nação do Islã é grupo contra os brancos, os semitas, os católicos e os gays.