05/08/2011 - 21:00
Assista ao vídeo em que a repórter Monique Oliveira ressalta trechos curiosos do livro , como os que registram a entrada de drogas e material pornográfico na mina:
NO LIMITE
Uma suposta “visão do demônio” e a possibilidade
de canibalismo compuseram o cenário de horror
Sexta-feira 5 de agosto foi dia de comemorações no Chile. Faz exatamente um ano que 33 homens se viram soterrados a 700 metros de profundidade em um ponto perdido do deserto do Atacama, no norte do país. Eles seriam, 69 dias depois, protagonistas de um dos resgates mais bem-sucedidos da história da humanidade – nunca antes um grupo fora resgatado de local tão profundo. A espera por ajuda acabou se transformando em uma história de superação que agora é contada pela primeira vez no livro “Os 33 – A Milagrosa Sobrevivência e o Dramático Resgate dos Mineiros no Chile” (Nova Fronteira). Como ocorre em relação a tantas tragédias, é correto supor que muitas obras, tanto livros como filmes, virão daqui para a frente relatar o soterramento dos mineiros. Para ser o pioneiro nesse caminho, o autor Jonathan Franklin, jornalista do “The Guardian” e do “The Washington Post”, realizou 75 entrevistas com mineiros, familiares, equipe de resgate e até com o presidente chileno, Sebastián Piñera – que no dia do resgate conseguiu fazer-se fotografar e filmar em todos os momentos numa clara exploração política da tragédia.
Ao longo de 288 páginas, o autor mostra como esses homens encararam não só o inevitável medo da morte: ali, soterrados, a única opção que tinham era a de se unirem. Franklin não se atém, no entanto, apenas aos fatos ocorridos na mina. Ele denuncia que as condições de trabalho eram tão precárias na mina San José que, mais cedo ou mais tarde, o desabamento iria ocorrer.“Os mineiros eram vítimas muito antes do acidente”, diz o autor. “Não era à toa que todos os dias de trabalho começavam com uma oração coletiva.”
Quando uma pedra obstruiu a saída da mina, os seus trabalhadores, considerados “homens durões”, viram-se diante do desafio de dividir, por igual, dez litros de água, uma lata de pêssegos, duas de pera, uma de salmão, 20 latas de atum e 16 litros de leite. Lutas inimagináveis foram travadas, não entre os soterrados, mas, entre essas vítimas e as alucinações produzidas pelo desespero, isso sim. “Ele ia até lá, e todos os pelos do meu corpo ficavam eriçados”, diz o líder Mario Sepúlveda, sobre o que acredita ter sido o seu encontro noturno com o “demônio em pessoa”.
Franklin foi um dos poucos a receber o aval da Associação Chilena de Segurança para assistir de perto aos preparativos da operação de resgate. Com certeza, nesse momento, ser o pioneiro a contar toda essa história em livro era algo que já se fixara em sua mente.