10/05/2011 - 19:51
Uma das roteiristas da série “Sex and the City” e coautora do best-seller “Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você” (Rocco), a escritora americana Liz Tuccillo, 47 anos, se transformou, por isso mesmo, numa espécie de especialista em relacionamentos.
Até no romance “Como Ser Solteira”, que está sendo lançado no Brasil pela editora Record e vai virar filme dirigido por Drew Barrymore, suas leitoras buscam orientação. Com um texto leve, Liz conta a história de uma assessora de imprensa de Nova York que decide rodar o mundo na tentativa de responder a pergunta do título. Para escrever o livro, visitou oito países, inclusive o Brasil, onde entrevistou anônimo e famosos com a estilista Lenny Niemeyer.
Mas a autora também tinha experiência de sobra para falar do assunto. Em entrevista à ISTOÉ, Liz contou ter ficado mais de dez anos sozinha antes de conhecer o atual namorado, com quem está há cerca de um ano e meio. “Eu achava que havia algo errado comigo, que poderia nunca conhecer ninguém”, disse. Para ela, as mulheres sempre serão mais obcecadas pelos assuntos do coração do que os homens. “Eles enfrentam muitos outros tipos de pressão que às vezes superam a necessidade de estar em um relacionamento”, afirmou, acrescentando: continuará investindo no filão que a consagrou.
ISTOÉ — Você se considera uma especialista em relacionamentos?
Liz Tuccillo — Não, não me vejo como uma guru dos relacionamentos. Eu diria que tenho muita experiência em falar sobre um tema em particular: a maneira como as mulheres inventam desculpas para os homens quando eles, na verdade, não estão realmente a fim delas.
ISTOÉ — De que maneira seu trabalho se diferencia da auto-ajuda, já que muitos leitores buscam orientação até em seu romance?
Liz — A maioria dos livros de auto-ajuda sobre relacionamentos e sobre ser solteira fala sobre como fazer um homem se casar com você e essas coisas. Mas “Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você” é sobre como se livrar de homens ou relacionamentos que não são bons para você. E “Como Ser Solteira” é sobre como viver na solteirice, não necessariamente como encontrar um homem.
ISTOÉ — Por que tantas mulheres hoje reclamam dessa solteirice?Está mesmo difícil achar um companheiro, como muitas afirmam?
Liz — Acho que, quando olhamos para as estatísticas, constatamos que simplesmente há mais mulheres solteiras do que homens solteiros por aí. Por isso, há tantas mulheres fantásticas sozinhas.
ISTOÉ — E você, tem alguém?
Liz — Estou namorando há quase um ano e meio. Fiquei solteira por muito, muito, muito, muito tempo antes de conhecê-lo. Então, estou curtindo estar com alguém. Eu o conheci ao trabalhar em um projeto teatral em Nova York. Ele é meu primeiro namorado “de verdade” em mais de dez anos.
ISTOÉ — Estar solteira por tanto tempo te incomodava?
Liz — Não estava desesperada a ponto de aceitar qualquer pessoa, mas estava, sim, desesperada por ficar tanto tempo sozinha, achava que havia algo errado comigo, que eu poderia nunca conhecer ninguém.
ISTOÉ — De fato, muitas mulheres preferem estar com qualquer pessoa por medo da solteirice. Como ser solteira?
Liz — Eu realmente entendo esse sentimento e me identifico com isso totalmente. É difícil estar sozinha. Mas acredito que a principal coisa a ser feita é reconhecer isso. Muitas mulheres não o fazem. Elas, na verdade, tentam se convencer de que gostam de alguém, quando não gostam. A primeira coisa, então, é admitir: “Me sinto sozinha, estou com medo, estou triste”. Isso vai te dar a oportunidade de fazer algo para mudar a situação. Além disso, outra coisa importante é cultivar e manter um grande e unido grupo de amigos. Essa é a chave para ter uma vida completa e satisfatória, mesmo quando se está solteira. Até porque os amigos vão sempre lembrá-la de não se contentar com menos do que você merece.
ISTOÉ — O casamento ainda é um sonho para a maioria das mulheres?
Liz — Isso é muito interessante. Nas viagens que fiz para escrever “Como ser solteira”, a coisa mais comum que ouvi das mulheres foi que elas preferiam ser solteiras a estar em um relacionamento ruim. Que estar casada não era tudo. As mulheres estavam muito conscientes de quantos relacionamentos ruins há por aí. Todas queriam encontrar o amor. Mas o casamento não era tão discutido quanto encontrar a pessoa certa. No Brasil, por exemplo, achei que as mulheres tinham uma visão muito sofisticada e realista do casamento. Na verdade, o país mais obcecado com casamento são os Estados Unidos.
ISTOÉ — Como assim?
Liz — Nos Estados Unidos, acreditamos que a razão de tudo é estar casado e então viveremos “felizes para sempre”. No Brasil, porém, as mulheres não parecem ser tão obcecadas com casamento. E, quando o são, não enxergam as coisas tão no preto e no branco. Acho que levam o assunto a sério, mas não como se fosse um conto de fadas.
ISTOÉ — Mas acha que é possível que um casal viva “feliz para sempre”?
Liz — Sim, mas acho que é muito, muito, muito raro. E as sociedades que não enxergam uma derrota quando isso não acontece são as mais saudáveis.
ISTOÉ — Por que os homens não são tão preocupados com relacionamentos quanto as mulheres?
Liz — Acho que as mulheres sempre irão priorizar o relacionamento mais do que os homens. Por quê? Porque acredito que os homens enfrentam muitos outros tipos de pressão que às vezes superam a necessidade de estar em um relacionamento — a necessidade de ser bem-sucedido, de sentir que estão conquistando as coisas. Eu acho que os homens pensam sobre relacionamentos, mas não são obcecadas como as mulheres.
ISTOÉ — Isso explicaria o sucesso de “Sex and the City” até hoje?
Liz — Acho que o seriado continua tão atual porque estava à frente de seu tempo e contou a verdade de uma forma muito aprofundada e pessoal, então nunca envelhecerá.
ISTOÉ — Assim como a personagem Samantha, as mulheres são realmente capazes de separar sexo e sentimento?
Liz — Tenho certeza de que algumas mulheres discordam, mas acho que toda mulher, não importa como ela se sinta em relação a um homem, se gosta dele ou não, espera que ele ligue para ela no dia seguinte! Todas as mulheres querem ser desejadas. Acho que o ego feminino é uma coisa muito frágil.
ISTOÉ — As mulheres ainda precisam se fazer de difíceis para conquistar os homens?
Liz — Não, não acho que elas precisem se fazer de difíceis, mas acredito que as mulheres são mais bem-sucedidas no mundo dos relacionamentos quando têm vidas completas, agendas cheias e muita autoconfiança. Isso naturalmente se traduz, penso, numa impressão de que elas são de fato difíceis. Ou, pelos menos, não são fáceis…
ISTOÉ — Dispensar um homem no primeiro deslize dele não é precipitado demais? As pessoas podem realmente estar ocupadas ou confusas, não?
Liz — É claro que não se trata de dar o faro em alguém só porque a pessoa se atrasou dez minutos ou cancelou um encontro com você. O problema é quando você começa a falar incessantemente sobre alguém com suas amigas, se você está sempre triste, esperando por esse homem de alguma forma, analisando e-mails, nervosa porque não sabe em que pé estão as coisas. Quando se torna um sentimento dominante.
ISTOÉ — Acredita em fidelidade?
Liz — Sim, acredito, especialmente entre pessoas que se encontram depois dos 35 anos. Antes, pode ser bem difícil. Acho que relacionamentos abertos não funcionam, porque acabam nunca sendo equilibrados. Normalmente, uma pessoa gosta mais da maneira como o relacionamento está arranjado do que a outra, que acaba tolerando a situação. Então alguém sempre se machuca. Acho que as pessoas gostam de se sentir seguras em um relacionamento, mesmo que ele seja chato! Lidar com sexo e emoções é brincar com fogo. Mas é por isso que temos canções, filmes e livros sobre o tema. Porque estar em um relacionamento é sempre difícil, independentemente da maneira como você o leve. Então, ainda temos muito a escrever sobre o assunto.
ISTOÉ — Você considera seu trabalho machista de alguma forma?
Liz — Não, mas acho que pode ser considerado machista no sentido de que trato de mulheres que estão solteiras e querem estar com homens. Isso pode dar a impressão de que eu penso ser essa é a única coisa na qual as mulheres pensam ou que elas não são tão poderosas como pensam ser.
ISTOÉ — Encontrar um companheiro se torna mais difícil com o passar do tempo?
Liz — Eu realmente acredito que sim, por tantas razões óbvias, mas não é impossível. Há muitas mulheres de idades muito diferentes encontrando o amor.
ISTOÉ — Como foi sua viagem ao Rio de Janeiro?
Liz — Fiquei impressionada com a força, o humor, a confiança e o entusiasmo com a vida das cariocas. Fiz uma grande amiga com quem mantenho contato até hoje, a produtora de cinema Bianca Costa.
ISTOÉ — A obsessão das brasileiras com o corpo pode atrapalhar nos relacionamentos de alguma forma?
Liz — Não acho que vá atrapalhar a busca delas pelo homem certo, mas acredito que deva ser muito exaustiva. É possível que elas sejam exigentes demais consigo mesmas e se culpem demais se as coisas não dão certo.
ISTOÉ — Continuará escrevendo sobre relacionamentos?
Liz — Sim, continuarei escrevendo sobre amor, encontros e relacionamentos.