Plano de Trump para anexar Canadá é real, diz Trudeau; entenda

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Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau Foto: REUTERS/Patrick Doyle

Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, afirmou nesta sexta-feira, 7, que Donald Trump “fala sério” sobre o plano de anexar o território canadense aos Estados Unidos para explorar os recursos naturais do país vizinho e reiterou que a soberania de sua nação é “inegociável”.

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Trudeau convocou uma cúpula com líderes empresariais e trabalhistas para coordenar uma resposta à ameaça iminente de Trump de impor tarifas de 25% sobre todas as importações vindas do Canadá, uma sanção que poderia paralisar a economia canadense.

“Sugiro que a administração Trump não só sabe quantos minerais críticos temos, mas que essa pode ser a razão pela qual continuam falando em nos absorver e nos transformar no estado número 51” dos EUA, disse o primeiro-ministro aos líderes.

“Estão muito cientes dos nossos recursos, do que temos e querem poder se beneficiar deles. Trump tem em mente que uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é absorvendo o nosso país“, completou.

Após as declarações de Trudeau, os ministros canadense da Indústria, François-Philippe Champagne, e do Comércio, Anita Anand, reagiram reforçando a tese de que o país tem soberania territorial e não abrirá margem para os desejos do republicano.

“Nossos amigos americanos entendem que precisam do Canadá para sua segurança econômica, precisam do Canadá para sua segurança energética e para sua segurança nacional”, afirmou Champagne. Anand, por sua vez, afirmou que o Estado resistirá a qualquer plano expansionista americano.

O plano expansionista

Desde que retornou à Casa Branca, em 20 de janeiro, Trump se referiu publicamente ao Canadá como “estado 51” e passou a tratar Trudeau como “governador”, em vez de primeiro-ministro.

Notoriamente verborrágico, o político usa essa estratégia para demonstrar que está mesmo disposto a levar adiante um projeto expansionista prometido na campanha eleitoral. Além do Canadá, o americano pretende anexar o Canal do Panamá e assumir o controle da Groenlândia, território autônomo administrado pelo governo da Dinamarca.

Sede de uma relevante base militar americana, a Groenlândia teve uma proposta de aquisição recusada pelo governo dinamarquês — membro fundador da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) — no primeiro mandato de Trump.

Já o Canal do Panamá é controlado exclusivamente pelo país de mesmo nome desde 1999, quando a parceria com os EUA foi encerrada. Trump já declarou em várias ocasiões que gostaria de retomar a via caso os pedágios para os navios americanos não sejam reduzidos.

Para pesquisadores ouvidos pelo site IstoÉ, Trump pode propor acordos diplomáticos, usar pressão econômica e mesmo militar para levar essas ambições adiante, mas também usa o projeto para mobilizar sua base e se afastar de problemas internos.

“Quando se considera uma competição entre EUA, Rússia e China pela hegemonia global, é possível dizer que o líder americano atua como os chefes de Estado dessas nações ao interferir na sua região próxima para fazer valer os interesses nacionais a partir de uma visão unilateral do mundo”, disse Alberto Pfeifer, coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP (Universidade de São Paulo).

“Não há qualquer possibilidade de os EUA anexarem Canadá, Groenlândia ou o Canal do Panamá, já que não há margem de consentimento dos Estados e o uso de força para isso dependeria da aprovação do Congresso americano. Ainda que o partido de Trump tenha maioria no Legislativo, não há viabilidade para esse movimento. As falas do presidente eleito, portanto, têm dois objetivos: a manutenção do engajamento de sua base política e a preservação de uma estratégia de pressionar outras lideranças globais por meio da imprevisibilidade”, avaliou Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

“As declarações de Trump não encontram qualquer respaldo no direito internacional que, pelo contrário, tem fundamentos muito sólidos a respeito da soberania dos Estados e da proteção de seus territórios”, afirmou Victoriana Gonzaga, advogada especializada em direito internacional e professora da FIA-SP (Fundação Instituto de Administração).