PlatôBR: Na batalha dos bonés, a briga pela tutela do novo comando do Congresso

Com incerteza sobre posicionamentos de Motta e Alcolumbre, oposição e governo disputam o poder de influência sobre a pauta da Câmara e Senado

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* Por Luciana Lima

Era para ser uma sessão solene, daquelas cheias de liturgia, pompa e circunstância. Na abertura oficial do ano legislativo, porém, o recém-eleito presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), teve que assumir o papel de bedel para garantir o caráter sóbrio do momento.

De um lado, parlamentares da oposição davam prosseguimento à guerra dos bonés inaugurada ainda no fim de semana, quando governistas apareceram ostentando o acessório com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, uma forma de se contrapor aos bolsonaristas fãs do “Make America Great Again”, de Donald Trump.

Nesta segunda-feira, 3, a aposta foi redobrada. Os bolsonaristas chegaram ao Congresso com mais bonés, desta vez ironizando o governo Lula e defendendo Jair Bolsonaro. “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”, estampava um deles.

Tão logo o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), entregou a Alcolumbre a mensagem do Executivo ao Congresso listando as prioridades do governo, a tropa da oposição começou a gritar: “Lula, cadê você? O povo quer voltar a comer”. Os parlamentares da base de apoio de Lula rebateram em uníssono: “Sem anistia”.

O embate fez sumir os sorrisos de Davi Alcolumbre e de Hugo Motta (Republicanos-PB), novo presidente da Câmara, que também estreava no alto do plenário. Coube a Alcolumbre o papel de contenção. Ele fez soar a campainha pedindo silêncio e, assim que o burburinho deu a primeira trégua, iniciou: “Me perdoem a manifestação, mas eu queria pedir primeiro a defesa do Congresso brasileiro”.

O presidente do Senado prosseguiu pedindo “gentileza”, “cordialidade” e “respeito à democracia e às autoridades” de outros poderes que estavam no plenário, entre elas os ministros do STF, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, que observava impávido a batalha.

A briga entre oposição e situação não era só pelo protagonismo diante das câmeras dispostas no plenário ou nas redes sociais. Era, mais do que tudo, pela atenção dos dois entrantes no cargo.

Os dois lados se uniram para eleger Alcolumbre e Motta, mas se digladiam porque ambos têm interesses opostos que dependem das canetas da dupla. Por exemplo: a oposição quer avançar com a proposta de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, enquanto os governistas cobram o compromisso dos dois novos presidentes de segurar a medida. É, em suma, uma disputa por quem tem mais poder de tutela sobre eles.

A cada intervalo do discurso de Motta, os deputados da oposição repetiam: “Hugo, Hugo, Hugo…”. Governistas ironizavam. Diziam que vários deles nem sequer tinham votado no novo comandante da Câmara, referindo-se aos votos que foram para Marcel Van Hattem (Novo-RS).

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, disse confiar em Hugo Motta. “Acho que Motta foi muito eloquente defendendo a democracia, a Constituição e o gesto de Ulysses Guimarães. Isso responde muito sobre a postura que ele deve adotar”, afirmou o ministro palaciano ao PlatôBR.

A guerra está aberta, e ninguém pode garantir, ainda, de que lado ficarão Alcolumbre e Motta.

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