Trump congela decreto que aumentava imposto sobre produtos mexicanos e canadenses por um mês. Países se comprometem a reforçar segurança na fronteira. Medidas contra China permanecem.O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, fizeram acordos com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta segunda-feira (03/02) para o americano suspender por um mês a implementação de novas tarifas sobre a importação de produtos canadenses e mexicanos.
No sábado, Trump havia decretado taxas de até 25% sobre produtos do Canadá e do México, decisão que os dois países prometeram retaliar com barreiras tarifárias e não tarifárias de peso similar contra os EUA.
Dois dias depois, porém, os líderes conversaram por telefone com Trump, horas antes de as medidas entrarem em vigor. Em conversas separadas, os líderes se comprometeram a reforçar a segurança nas fronteiras com EUA, na tentativa de coibir o tráfico de drogas.
Trump havia acusado Canadá e México de deixarem drogas ilícitas e imigrantes ilegais cruzarem suas fronteiras e de lucrarem no comércio com os EUA.
Já as novas tarifas contra o China foram mantidas por Washington. Os itens chineses, que já enfrentam diversas taxações, terão imposto adicional de 10%. O país irá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
México aumenta presença militar na fronteira
Segundo Trump, o México concordou em reforçar sua fronteira norte com 10 mil membros da Guarda Nacional para conter o fluxo de drogas ilegais, especialmente o fentanil. O acordo também inclui o compromisso dos EUA de agir para evitar o tráfico de armas de alta potência para o México, disse a presidente mexicana em sua conta pessoal no X.
Os dois países usarão a suspensão de um mês para uma nova rodada negociações. "Estou ansioso para participar dessas negociações com a presidente Sheinbaum, enquanto tentamos chegar a um 'acordo' entre nossos dois países", escreveu Trump nas redes sociais.
"Temos este mês para trabalhar e convencer um ao outro de que este é o melhor caminho a seguir", afirmou Sheinbaum numa coletiva de imprensa.
Canadá implementa plano contra tráfico de drogas
As tarifas dos EUA sobre o Canadá também serão suspensas por 30 dias, disse Justin Trudeau nesta segunda-feira, após uma ligação com o presidente Donald Trump.
Segundo o primeiro-ministro, o Canadá vai implementar um plano de 1,3 bilhão de dólares canadenses (R$ 5,2 bilhões) e mobilizar ao menos 10 mil pessoas para proteger a fronteira com os EUA.
Além disso, Trudeau afirmou que "assinou uma nova diretriz de inteligência" para combater o crime organizado e lançará uma força-tarefa conjunta com os EUA para conter o tráfico transnacional de drogas e a lavagem de dinheiro.
O Canadá ainda concordou com a exigência de Trump de listar os cartéis de drogas como organizações terroristas, além de indicar uma pessoa para supervisionar exclusivamente os esforços para combater o tráfico de fentanil.
Tarifas ameaçam cadeia global de abastecimento
Trump invocou a chamada Lei de Emergência Econômica Internacional para impor as tarifas, no intuito de responsabilizar os países por supostamente não cumprirem "suas promessas de interromper a imigração ilegal e impedir que o venenoso fentanil e outras drogas fluam para o nosso país", segundo uma nota divulgada pela Casa Branca.
Especialistas avaliam que se a decisão de Trump for mantida, ela pode causar uma convulsão nas cadeias globais de abastecimento, com potencial para desestabilizar setores como os de energia, automobilístico e de alimentos.
Os decretos continham uma ameaça aos países para que não tomassem medidas retaliatórias, sob pena de os EUA aumentarem o percentual de tarifas ou o escopo dos produtos afetados.
Antes de acordarem pela suspensão, México e Canadá haviamendurecerido o tom contra Trump e defendido que não recuariam de medidas retaliatórias. O premiê chegou a pedir aos canadenses que "comprem menos produtos americanos."
Prenúncio de nova guerra comercial?
Já a China anunciou a imposição de "contramedidas correspondentes" às tarifas americanas sem, no entanto, especificar quais serão essas ações.
Pequim disse esperar que Washington "enxergue de forma objetiva e racional seus próprios problemas, como o fentanil", em vez de recorrer a "ameaças contra outros países" e à imposição de tarifas.
O Ministério do Comércio da China afirmou neste domingo que a imposição de sobretaxas pelos EUA seriam uma "grave violação" das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e instou Washington a "se envolver em um diálogo franco e fortalecer a cooperação".
Analistas avaliam que as novas tarifas provavelmente não terão um grande impacto na economia chinesa, mas podem significar o prenúncio de uma nova guerra comercial entre Washington e Pequim.
Segundo a Bloomberg Economics, a tarifa de 10% pode eliminar 40% das exportações de bens de Pequim para os EUA, afetando 0,9% do PIB chinês.
Isso seria uma pequena fração da vasta economia chinesa, mas pode colocar uma pressão extra sobre os formuladores das políticas que já lutam contra a desaceleração do crescimento, a crise no setor imobiliário e uma queda no consumo doméstico.
Trump, que já havia alertado contra possíveis retaliações chinesas, renovou a ameaça – a mesma que fez ao Canadá e ao México – contra qualquer tentativa de Pequim de pagar na mesma moeda.
"Se a China retaliar os EUA […] impondo medidas semelhantes às exportações americanas, o presidente poderá aumentar [as tarifas] ou expandir seu escopo para garantir a eficácia dessa ação", afirmou o gabinete de Trump.
rc/gq/as (AFP, EFE, ots)