Sobrevivente do Holocausto condena colaboração entre CDU e AfD

Sobrevivente do Holocausto condena colaboração entre CDU e AfD

Um sobrevivente do Holocausto de 99 anos afirmou nesta quinta-feira (30/01) que devolverá a medalha da Ordem do Mérito que recebeu do governo da Alemanha em protesto contra a colaboração entre o partido conservador União Democrata Cristã (CDU) e o ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) no Bundestag (Parlamento alemão), que resultou na aprovação de uma moção que propõe uma rigorosa reforma nas políticas migratórias do país.

“Quero devolvê-la, pois os partidos uniram forças com os radicais de direita”, disse Albrecht Weinberg, que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz junto com seu irmão e irmã. Ele disse que decidiu “muito espontaneamente” devolver a medalha porque “estava muito chateado com a votação no Bundestag”.

“Você conhece a história alemã? Você sabe então como algumas pessoas se passando por democratas em 1933 abusaram do processo político legal para chegar ao poder? O que aconteceu no Bundestag na quarta-feira me lembrou a Alemanha em 1933, de como Adolf Hitler e o partido nazista conseguiram chegar ao poder por meios legítimos.”

Weinberg, que fará 100 anos em março, passou 60 anos morando nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial antes de retornar à Alemanha há 20 anos.

“Não aprenderam com a 2ª Guerra?”

Em 2017, Weinberg recebeu a maior honraria concedida pelo Estado alemão por seu trabalho de conscientização sobre o Holocausto nas escolas, onde compartilhou as histórias da perseguição de sua família pelos nazistas.

“A experiência que tive quando jovem foi muito perigosa e horrível para mim”, disse Weinberg. “Os nazistas queriam se livrar da minha família. Embora fôssemos cidadãos alemães, eles conseguiram assassinar meus pais e quase mataram a mim e meus irmãos. Agora, esses políticos querem expulsar todos de quem não gostam. Eles não aprenderam nada com a Segunda Guerra Mundial? Eu realmente me pergunto se devo fazer as malas novamente.”

Luigi Toscano, fotógrafo cujo projeto Lest We Forget compartilha histórias de sobreviventes do Holocausto, também disse que irá devolver sua medalha de Honra ao Mérito em protesto contra a votação desta quarta-feira.

“A CDU traiu nossos valores democráticos com uma moção e o apoio de um partido que é parcialmente designado como extremista de direita”, escreveu Toscano em postagem no Instagram, na qual também mencionou a decisão de Weinberg.

CDU rompe tabu histórico

Com a aprovação da moção, a CDU violou nesta quarta-feira o chamado “cordão sanitário”, uma diretriz adotada pelos principais partidos alemães que os impediria de colaborar com legendas extremistas.

A medida apresentada pelo líder da CDU e candidato à chanceler nas eleições gerais de fevereiro, Friedrich Merz, somente pôde ser aprovada com os votos dos parlamentares da AfD. O texto surgiu após dois ataques ocorridos no país, onde os supostos agressores eram requerentes de asilo rejeitados que estariam na lista das autoridades para serem deportados.

A votação de quarta-feira – ocorrida a semanas das eleições gerais alemãs marcadas para 23 de fevereiro – foi realizada logo após os parlamentares realizarem uma cerimônia em homenagem às vítimas do regime nazista, e dois dias após uma cerimônia em Auschwitz que marcou o 80º aniversário da libertação do campo de extermínio pelo exército soviético em 1945.

A moção não é juridicamente vinculativa, portanto, o governo alemão não é obrigado a acatá-la. Ainda assim, o papel da AfD em aprová-la foi simbolicamente relevante e gerou uma onda de repúdio dentro e fora da Alemanha.