Os principais pontos do conflito no leste da República Democrática do Congo

Uma escalada militar deixou Goma, no leste da República Democrática do Congo, à beira de cair nas mãos dos rebeldes do M23, apoiados pelo exército de Ruanda.

Trata-se de uma nova crise em uma região já devastada por 30 anos de guerra.

– Uma ofensiva relâmpago? –

Soldados ruandeses e o grupo armado M23 (“Movimento 23 de março”) realizaram uma ofensiva relâmpago contra Goma, uma cidade de um milhão de habitantes no leste da República Democrática do Congo. O M23 já havia tomado essa localidade no final de 2012, antes de ser derrotado.

Estima-se que o M23 tenha um contingente de 3 mil efetivos. Desde o final de 2021, experimentou um importante crescimento com o apoio de entre 3 mil e 4 mil soldados do exército de Ruanda, conhecido por sua boa formação e equipamento.

Na noite de domingo, entraram em Goma, uma cidade que, na véspera, ainda era defendida por milhares de soldados das Forças Armadas Congolesas (FARDC) e milícias locais, agrupadas sob a denominação de “wazalendo” (“patriotas” em suaíli).

As forças de Kinshasa, por sua vez, são conhecidas pela falta de disciplina. Pertencem a um exército mal equipado e corroído pela corrupção, apoiado pelos capacetes azuis da Missão das Nações Unidas na RD Congo (Monusco), por soldados da missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral na RD Congo (SAMIRDC) e por duas empresas de segurança privada.

Mas, até agora, não conseguiram reverter a tendência.

– Por que Goma? –

Goma é a capital da província de Kivu do Norte, rica em recursos naturais e, sobretudo, minerais. Faz fronteira com Ruanda e constitui uma das principais vias de exportação dos produtos do leste da RD Congo para o exterior, em um país com poucas estradas e em péssimo estado.

Goma também possui um aeroporto internacional e um porto lacustre, que presta serviço à grande cidade de Bukavu, capital da província vizinha de Kivu do Sul, com barcos de grande porte pelo Lago Kivu.

A RD Congo acusa Ruanda de usar o M23 para roubar recursos naturais do leste, acusações que foram parcialmente confirmadas por especialistas da ONU.

Por sua vez, o governo ruandês acusa Kinshasa de apoiar as Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR), um grupo armado formado por hutus responsáveis pelo genocídio dos tutsis em Ruanda em 1994.

Este grupo encontrou refúgio no leste da RD Congo, e Kigali o considera uma ameaça permanente.

– O M23 pode administrar Goma? –

O M23 rejeita oficialmente o apoio de Ruanda e se apresenta como um movimento congolês que busca derrubar o governo do presidente Felix Tshisekedi.

Nas áreas que controla, o grupo armado estabeleceu uma administração paralela e nomeou líderes leais a ele; um modelo que poderia ser replicado em Goma.

Desde 2021, o M23 não havia tomado nenhuma aglomeração tão grande quanto Goma e, agora, o exército congolês não parece capaz de reconquistar a cidade com o uso de força militar.

Nos últimos meses, centenas de milhares de deslocados começaram a se concentrar na periferia de Goma, onde sobrevivem em condições humanitárias e de segurança precárias.

O êxodo de moradores se intensificou com a recente escalada, que forçou meio milhão de pessoas a fugir.

Além disso, no meio dos combates dos últimos dias, vários depósitos com ajuda humanitária (alimentos e medicamentos) foram saqueados, o que agravou ainda mais a situação.

– Risco de conflito regional? –

Os conflitos na região envolvem diversos grupos armados e países.

Uganda e Burundi destacaram tropas no leste, oficialmente para apoiar o Exército congolês, mas há quem suspeite que ambos os países busquem estender sua influência em uma zona que escapa cada vez mais do controle de Kinshasa.

O ressurgimento do M23 em 2021 deve-se, em parte, a uma rivalidade entre Ruanda e Uganda, que disputam os recursos da região.

Embora o leste da RD Congo tenha recuperado uma relativa calma desde a assinatura de um acordo de cessar-fogo entre a RD Congo e Ruanda no fim de julho, essas negociações não resultaram em nenhum tratado de paz.

Em dezembro passado, Angola deveria ter sediado uma cúpula para que dois países assinassem a paz, mas o evento foi cancelado porque o presidente ruandês, Paul Kagame, se recusou a participar.

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