A estratégia comum a Bolsonaro e Lula

Nelson Almeida/AFP
Como oponentes na eleição presidencial de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) participam de debate na Band Foto: Nelson Almeida/AFP

Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer que será candidato à Presidência da República em 2026, ainda que tenha sido declarado inelegível até 2030 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). “Tenho certeza absoluta: se eu disputar, eu ganho“, afirmou o ex-presidente ao canal Auriverde Brasil, no YouTube, nesta quarta-feira, 22.

+Lula diz que Zema deveria premiá-lo por renegociação da dívida e pede gratidão

Na mesma entrevista, foi claro sobre não declarar apoio a outro nome da direita até os “48 do segundo tempo”, em metáfora futebolística para dizer que o gesto só ocorrerá em última instância.

Candidatura resiliente

Desde que perdeu os direitos políticos, Bolsonaro repete que está no jogo. Essa é sua estratégia de defesa, conforme deixou claro em declarações durante as eleições municipais de 2024 e ao dizer que, sem ele, a “eleição não será democrática”.

A tática encontra respaldo nas pesquisas eleitorais, em que ainda é o nome da direita mais citado pelos eleitores chegando a empatar tecnicamente com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode ser candidato à reeleição ou indicar um sucessor — e na postura de aliados, que demonstram fidelidade ao líder político e evitam ocupar essa raia.

É o caso de Tarcísio de Freitas (Republicanos), citado com frequência como potencial herdeiro do espólio do ex-chefe. O governador de São Paulo repete que será candidato à reeleição e defende Bolsonaro mesmo nas circunstâncias menos favoráveis.

Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) também colocam Bolsonaro como “plano A” do grupo, em sinal de unidade. Em área menos radical, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), é o único a se colocar nessa rota de colisão.

Um caminho conhecido

A estratégia do bolsonarismo, até aqui, reproduz a que foi empregada por seu principal algoz há alguns anos. Às vésperas do julgamento que condenou Lula a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, em janeiro de 2018, os dirigentes do PT asseguravam que sua principal liderança registraria candidatura à Presidência.

A Lava Jato apertou o cerco judicial contra o petista, que acabou preso em abril de 2018. O discurso, no entanto, seguia inabalado. O PT registrou a candidatura de Lula em agosto, na sua convenção nacional.

“A decisão de hoje vai nos conduzir a uma luta sem tréguas pela democracia, pelo povo brasileiro e pelo Brasil. E a vitória dependerá do empenho de cada um de nós”, disse Lula, da prisão em Curitiba, em carta lida no evento. Não falava em sucessão ou manifestava apoio a outro nome.

Na ocasião, as candidaturas do próprio Jair Bolsonaro (então no PSL), Geraldo Alckmin (então no PSDB e hoje vice-presidente), Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB), Manuela D’Ávila (então no PCdoB) e Ciro Gomes (PDT) e outras seis já estavam oficializadas.

O pedetista até se movimentou pelo apoio do PT, mas não teve sucesso. O Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) se manifestou a favor dos direitos políticos de Lula, e sua defesa usava a posição como argumento para reivindicar sua participação no pleito, de modo a garantir que ele fosse democrático.

Em setembro de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral indeferiu a candidatura do petista, por seis votos a um, com base na Lei da Ficha Limpa. Deu à chapa 10 dias para substituí-lo. As campanhas na rua, no rádio e na televisão já haviam começado, com Lula estampado nos materiais e produções petistas, mesmo atrás das grades.

Em 11 de setembro, data final para a substituição (aos 48 do segundo tempo), Fernando Haddad foi oficializado candidato — com Manuela D’Ávila, que abriu mão de concorrer, como companheira de chapa.

Bolsonaro foi eleito no segundo turno. Lula recuperou seus direitos políticos em março de 2021, quando as sentenças contra ele na Lava Jato foram anuladas pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), abrindo caminho para que ele disputasse e vencesse as eleições presidenciais de 2022.