Agenda, convidados, juramento e mais: como será a posse de Trump?

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O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, chega para um culto na Igreja de St. John Foto: REUTERS/Jeenah Moon

Pela primeira vez em 40 anos, o presidente dos Estados Unidos será empossado dentro do Capitólio, em vez de nas escadarias, uma medida adotada para se proteger do frio que assola Washington. A posse de Donald Trump nesta segunda-feira, 20, será o ponto alto de vários dias de festividades.

Confira a seguir a agenda de Trump, a lista de algumas personalidades que participarão da posse e o que se espera para as primeiras horas do magnata republicano como 47º presidente dos Estados Unidos.

 Sob a rotunda do Capitólio

Nesta segunda-feira, Trump deve comparecer a uma missa matinal tradicional na Igreja de St. John, em Washington, antes de sua comitiva seguir para o chá matinal na Casa Branca.

A cerimônia de posse está marcada para o meio-dia (14h de Brasília), quando correrá o juramento formal de Trump e seu vice-presidente, JD Vance.

No entanto, devido ao frio polar que assola a capital americana, a cerimônia não acontecerá nas escadarias do Capitólio, como dita a tradição, mas dentro do edifício que foi invadido por uma multidão de apoiadores de Trump há pouco mais de quatro anos, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória de Joe Biden.

Logo após a cerimônia, o presidente em fim de mandato, Joe Biden, e Kamala Harris, vice-presidente e candidata presidencial derrotada por Trump nas eleições de novembro, se despedirão.

Excepcionalmente, devido às temperaturas congelantes, a posse será transmitida ao vivo na Capital One Arena, uma grande arena no centro de Washington com capacidade para cerca de 20 mil pessoas.

O tradicional desfile, geralmente realizado na extensa esplanada do Mall, também será transferido para esse local, onde inicialmente eram esperados 7.500 participantes.

Donald Trump prometeu se juntar ao público após prestar o juramento. O dia histórico será encerrado à noite com os tradicionais bailes. Estão previstos três discursos do novo presidente republicano.

As comemorações começaram no sábado, 18, com uma recepção e um espetáculo de fogos de artifícios em Sterling, um dos clubes de golfe de Trump localizado a menos de uma hora de Washington (Virgínia).

No domingo, 19, ele fez um comício em Washington para milhares de seus apoiadores. Uma cerimônia na Catedral Nacional encerrará as celebrações da posse na terça-feira, 21.

Qual é o tema da posse e o que significa?

O tema da posse este ano é “Nossa democracia duradoura: uma promessa constitucional”, que, segundo o comitê da posse, “reconhece o compromisso dos fundadores [da nação] com as futuras gerações de americanos para preservar a continuidade e a estabilidade do nosso sistema democrático de governo”.

O tema contrasta fortemente com as ações e consequências de 6 de janeiro de 2021, quando Donald Trump estimulou seus seguidores mais fervorosos a invadir o Capitólio e impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden em 2020.

Embora os processos legais contra o novo presidente tenham sido arquivados, um relatório recente divulgado pelo ex-conselheiro especial Jack Smith sugeriu que Trump teria sido condenado se não tivesse vencido as eleições no ano passado.

Trump também foi considerado culpado de falsificação de registros comerciais, mas foi colocado em liberdade sem restrições após ser sentenciado por seus crimes. Ele é o primeiro criminoso condenado a se tornar presidente dos EUA.

Considerando os quatro anos tumultuados que antecederam seu retorno à Casa Branca, muitos se perguntam qual será a postura de Trump durante a posse.

“Acho que, para Trump, a reconciliação não chega a ser uma preocupação”, disse Cayce Myers, especialista em comunicação política da Virginia Tech, à DW. “Afinal, o que ele está vendo é o momento culminante do movimento Maga […], seu discurso [de posse] é o ápice de quatro anos de luta para ser eleito.”

Myers observou que a posse seria uma oportunidade para Trump e seu governo apresentarem uma nova abordagem, tanto para os EUA quanto para o mundo. “Eu acho realmente que veremos muitos posicionamentos em torno da força [e] no subtexto da geopolítica”, disse o especialista.

“Levando em conta que este é um evento tão significativo, com uma personalidade de mídia descomunal que é muito experiente na maneira como faz mídia, acho que deverá atrair um atenção sobredimensionada.”

Quem comparecerá?

Como é de praxe (embora Trump tenha rompido com essa tradição em 2021), todos os ex-presidentes americanos vivos – Joe Biden, Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton – comparecerão à posse. As ex-primeiras-damas também estarão presentes, com a exceção de Michelle Obama, que se retirou da cerimônia por motivos não revelados. A ex-presidente democrata da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi também não comparecerá.

Os barões da tecnologia estarão bem representados, principalmente devido ao apoio amplamente divulgado que muitos deles deram ao novo presidente. À frente destes estará a pessoa mais rica do mundo, Elon Musk, que deu substancial ajuda financeira e de mídia à campanha eleitoral dos republicanos e assumirá um cargo no novo governo. Também estarão presentes o proprietário da Amazon e do jornal Washington Post, Jeff Bezos, o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, e o CEO da Apple, Tim Cook.

Líderes estrangeiros, historicamente, não comparecem às posses presidenciais dos EUA, sendo representados pelos embaixadores de seus países. No entanto, vários deles foram convidados pelo comitê de posse de Trump, incluindo o presidente da China, Xi Jinping, que deve mandar o vice-presidente, Han Zheng.

Entre os líderes populistas de direita europeus, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban foi convidado, mas recusou o convite. Já sua colega italiana Giorgia Meloni confirmou presença. Ambos se reuniram com Trump em sua mansão na Flórida após as eleições de novembro.

O presidente argentino Javier Milei, que também visitou Trump após sua vitória eleitoral, já está no país.

Outras personalidades da extrema direita anunciaram presença: os franceses Marion Maréchal e Eric Zemmour, o britânico Nigel Farage e um dos líderes do partido alemão AfD, Tino Chrupalla

O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi impedido de viajar para os EUA por uma decisão do juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Seu passaporte está apreendido pela Polícia Federal (PF) desde fevereiro de 2024 devido à suspeita de envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado.

Bolsonaro disse ter sido convidado para a posse de Trump, mas Moraes, em sua decisão, afirmou que “não foi juntado aos autos nenhum documento probatório que demonstrasse a existência de convite realizado pelo presidente eleito dos EUA ao requerente Jair Messias Bolsonaro, conforme alegado pela defesa”.

“O cenário que fundamentou a imposição de proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes, continua a indicar a possibilidade de tentativa de evasão do indiciado Jair Messias Bolsonaro, para se furtar à aplicação da lei penal”, disse Moraes.

Quais artistas irão se apresentar?

Entre os artistas confirmados nos eventos da posse está a ex-vencedora do programa de televisão American Idol Carrie Underwood, que apresentará a canção America the Beautiful antes de Trump fazer o juramento de posse.

O cantor de música country Lee Greenwood e o tenor Christopher Macchio também se apresentarão nos eventos.

Já o grupo Village People se apresentará em um dos bailes. “Y.M.C.A.” (1978), principal hit da banda, se tornou um elemento básico dos comícios de Trump, que viralizou ao ensaiar uma dancinha toda vez que a música toca.

Segurança e frio

Após uma campanha eleitoral marcada pela violência e duas tentativas de assassinato contra Trump (a primeira em pleno comício), Washington vive uma mobilização do aparato de segurança sem precedentes.

Com cerca de 25 mil policiais e soldados mobilizados, 48 km de barreiras erguidas, atiradores de elite nos telhados e drones no céu, o Serviço Secreto, encarregado de proteger as personalidades, colocou em prática “um plano de segurança ligeiramente mais robusto” em relação às eleições anteriores, justificado por “um entorno mais ameaçador”.

As autoridades esperam manifestações, mas muito mais modestas que em sua primeira posse em 2017, quando centenas de milhares de pessoas se reuniram.

O ano de 2025 se perfila como o mais frio dos últimos 40 anos, com temperaturas inferiores a -10ºC e ventos gélidos.

Em 1985, o frio polar fez com que Ronald Reagan tomasse posse na Rotunda do Capitólio.

O que ocorre após a posse?

Após a posse, Donald e Melania Trump se mudarão para a Casa Branca e o novo governo começará a trabalhar. Isso incluirá a assinatura de novas ordens executivas e, muito provavelmente, o início do processo de retirada ou de renegociação de acordos e tratados por parte dos EUA junto a outras nações e organizações, como a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Imigração, tarifas para o México, Canadá e China, desregulação em questões energéticas e climáticas, e indultos para seus apoiadores condenados pela invasão ao Capitólio… A lista de promessas de Trump é extensa.

Durante a campanha, o republicano prometeu medidas impactantes já no primeiro dia de mandato.

Entre elas estão “o maior programa de deportações da história dos Estados Unidos” e o fim do que ele chamou de “delírio transgênero”.

Resta saber se ele cumprirá essas promessas com uma série de decretos já nesta segunda-feira.

* Com informações da AFP e da Deutsche Welle