As três reféns israelenses libertadas neste domingo (19/01) no primeiro dia de cessar-fogo já foram entregues à Cruz Vermelha pelas Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, confirmaram as Forças de Defesa de Israel (FDI), responsável por recebê-las em um ponto na fronteira do enclave.
São três mulheres — Emily Damari, Doron Steinbrecher e Romi Gonen — que foram libertadas após 471 dias de cativeiro, em troca de 90 prisioneiros palestinos, segundo o acordo firmado entre Israel e Hamas.
Israel anunciou na manhã deste domingo que o cessar-fogo em Gaza acordado com o Hamas começou a vigorar às 11h15 deste mesmo dia (hora local, 6h15 de Brasília), após confirmar o recebimento da lista de reféns a serem libertadas durante o dia e informar suas famílias.
“De acordo com o plano para a libertação dos reféns, a primeira fase do cessar-fogo em Gaza entra em vigor às 11h15, horário local”, disse um comunicado do gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Romi Gonen, Doron Steinbrecher e Emily Damari são civis. Gonen, 24 anos, foi sequestrada durante o ataque ao festival de música Nova, e Damari (a única refém com nacionalidade britânica, 28 anos) e Streinbrecher (31 anos) foram levadas do Kibbutz Kfar Aza. A libertação está prevista para ocorrer a partir das 16h (hora local, 11h de Brasília), em troca da liberação de cerca de 95 prisioneiros palestinos.
A trégua estava programada para começar horas antes, às 8h30, mas o Exército de Israel continuou com os ataques em Gaza mesmo após esse horário.
Ataques após as 8h30
A Defesa Civil da Faixa de Gaza anunciou no domingo 19 mortos e pelo menos 36 feridos por bombardeios israelenses no território palestino desde as 08h30, horário em que uma trégua estava inicialmente programada para começar.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alegou que ainda não havia recebido uma lista com os nomes dos três primeiros reféns a serem libertados e disse que a trégua na Faixa de Gaza não começaria até que Israel tivesse a lista.
O Hamas disse no domingo estar comprometido com o acordo e que o atraso se deveu a “razões técnicas no terreno”, sem dar mais detalhes.
No sábado, Netanyahu advertiu que Israel não iniciaria os preparativos para libertar os prisioneiros palestinos sem os nomes dos três primeiros reféns a serem libertados.
Na primeira fase do acordo, Israel e o Hamas concordaram com um cessar-fogo de seis semanas, durante o qual haverá uma troca gradual de 33 reféns israelenses por mais de 1.900 prisioneiros palestinos.
Durante essas seis semanas também ocorrerão negociações para uma segunda fase da trégua, que completaria a libertação de todos os reféns israelenses em Gaza e estabeleceria as bases para o fim da guerra.
Milhares voltam para casa
Milhares de deslocados, carregando tendas, roupas e pertences pessoais, voltaram para casa no domingo na Faixa de Gaza depois do início da trégua.
Repórteres da agência de notícias AFP viram palestinos em caminhões, carroças de burro e a pé a caminho de casa pelo território palestino devastado, especialmente nas áreas ao norte.
Os residentes palestinos começaram a voltar para suas casas em partes da Cidade de Gaza já no início do domingo, mesmo com os bombardeios de tanques continuando no leste, perto da fronteira israelense, durante a madrugadan.
“O som dos bombardeios e explosões não parava”, disse Ahmed Matter, um morador da Cidade de Gaza. Ele contou que viu muitas famílias deixando seus abrigos e voltando para suas casas. “As pessoas estão impacientes. Elas querem que essa loucura acabe”, disse ele.
Em toda a Faixa de Gaza, comemorações eclodiram no início do domingo, pois os palestinos ansiavam pela trégua, após 15 meses de guerra que matou dezenas de milhares, destruiu grandes áreas do território e deslocou a maior parte de sua população.
Militantes mascarados apareceram em algumas das comemorações, onde as multidões entoaram slogans de apoio a eles, de acordo com repórteres da agência de notícias Associated Press (AP) em Gaza.
A polícia dirigida pelo Hamas começou a se mobilizar em público depois de ter permanecido oculta devido aos ataques aéreos israelenses. Os moradores da Cidade de Gaza disseram tê-los visto operando em partes da cidade, e um repórter da AP em Khan Younis viu um pequeno número deles nas ruas.
Israelenses divididos sobre o acordo de cessar-fogo
As reações em Israel foram mais variadas, pois as pessoas esperavam o retorno seguro dos reféns, mas permaneceram divididas com relação ao acordo.
“É um novo dia”, disse Nissan Kalderon, irmão do refém Ofer Kalderon, 54 anos, ao Canal 12 de Israel. “Não parem. Tragam todos os reféns para casa”.
Asher Pizem, 35 anos, da cidade israelense de Sderot, perto de Gaza, disse que aguardava ansiosamente o retorno dos reféns. Mas ele disse que o acordo apenas adiou o próximo confronto com o Hamas e criticou Israel por permitir a entrada de ajuda em Gaza, dizendo que isso contribuiria para o renascimento do grupo militante.
“Eles aproveitarão o tempo e atacarão novamente”, disse ele enquanto observava as ruínas fumegantes em Gaza de uma colina no sul de Israel com outros israelenses que haviam se reunido no local.
O custo da guerra tem sido imenso, e novos detalhes sobre seu escopo
serão revelados agora. Mais de 46 mil palestinos foram mortos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que afirma que mulheres e crianças representam mais da metade das
mortes, mas não faz distinção entre civis e combatentes.
O ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel que desencadeou a guerra matou mais de 1.200 pessoas, a maioria civis, e os militantes sequestraram cerca de 250 pessoas. Mais de 100 reféns foram libertados durante o cessar-fogo de uma semana em novembro de 2023.
Cerca de 90% da população de Gaza foi deslocada. As Nações Unidas dizem que as casas, o sistema de saúde, as redes de estradas e outras partes da infraestrutura vital foram seriamente danificados. A reconstrução – se o cessar-fogo chegar à sua fase final – levará vários anos, no mínimo. Grandes questões importantes sobre o futuro de Gaza, políticas e outras, continuam sem solução.