Israel e Hamas: o que se sabe sobre o acordo de cessar-fogo?

Após mais de 15 meses de conflito, ambas as partes concordaram com um plano dividido em etapas para uma trégua nos combates na Faixa de Gaza. O que ele prevê — e o que ainda pode levá-lo ao fracasso?Há 468 dias, milhares de combatentes islâmicos liderados pelo Hamas invadiram Israel a partir da Faixa de Gaza, assassinaram cerca de 1,2 mil pessoas e fizeram mais de 250 reféns.

Nos 15 meses seguintes, as Forças de Defesa de Israel (IDF) bombardearam e ocuparam grande parte do território palestino. O Hamas, por sua vez, lutou contra o Exército israelense e lançou foguetes contra o vizinho. O Hamas é classificado como uma organização terrorista por Israel e seus aliados ocidentais, assim como por alguns países árabes.

De acordo com várias estimativas, o conflito entre Israel e o Hamas já matou dezenas de milhares de palestinos — entre combatentes e civis. Segundo organizações humanitárias, mais pessoas morreram como consequência dos combates: conforme a ONU, quase toda a população da Faixa de Gaza foi expulsa de suas casas. Israel, por sua vez, fala na perda de várias centenas de soldados e forças de segurança.

Na quarta-feira (15/01), o Catar anunciou um avanço nas negociações para pôr fim ao conflito armado entre Israel e o Hamas. Foi no emirado que representantes de ambos os lados, sem falar diretamente um com o outro, negociaram o acordo por meses — com a mediação dos EUA, Catar, Egito e Turquia. Agora, o plano é de um cessar-fogo de seis semanas.

O que prevê o Acordo de Gaza?

Se o acordo for confirmado, as armas deverão ser silenciadas inicialmente por seis semanas a partir do próximo domingo (19/01) às 12h15, horário local. Israel deve dar o primeiro passo retirando suas tropas da Faixa de Gaza. Ambos os lados também devem libertar reféns e prisioneiros. Além disso, deverão ser abertos para as organizações humanitárias os corredores de ajuda emergencial para a Faixa de Gaza que se encontram atualmente fechados.

Quantos prisioneiros e reféns devem ser trocados?

Na primeira fase do cessar-fogo, que deve durar 42 dias, o Hamas deve entregar 33 reféns a Israel. O acordo prevê primeiramente a liberação de todas as crianças e mulheres restantes, seguidas pelos homens com mais de 50 anos de idade. Os três primeiros reféns devem ser libertados já no domingo.

No momento, 98 dos mais de 250 reféns sequestrados ainda são mantidos pelo Hamas. Não se sabe ao certo, porém, quantos deles ainda estão vivos. Até o momento, 36 deles foram declarados mortos, enquanto mais de 110 foram soltos ou libertados com vida.

Em troca, Israel deverá libertar prisioneiros palestinos: 30 para cada refém civil; 50 para cada soldado. Entre os prisioneiros palestinos, haveria também combatentes do Hamas — nenhum, porém, que tenha participado dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023.

De quais áreas Israel deve se retirar?

Ainda não está claro de que áreas Israel deve se retirar. Até onde se sabe, as FDI deverão deixar sobretudo as áreas densamente povoadas da Faixa de Gaza. O Corredor de Netzarim, que divide a Faixa de Gaza ao sul da Cidade de Gaza em uma metade norte e outra sul, também deverá ser liberado gradualmente. Isso permitiria que os deslocados do norte voltassem para suas casas — ou para o que restou delas. Também facilitaria muito o transporte de suprimentos de socorro dentro da área.

Já o chamado Corredor Filadélfia, uma zona-tampão entre o Egito e Gaza considerada um dos obstáculos para a ajuda humanitária, provavelmente só será liberado pelas IDF numa segunda fase. No entanto, aparentemente também há planos para abrir a passagem de fronteira de Rafah. Dessa forma, seria possível trazer significativamente mais alimentos, medicamentos e outros suprimentos de ajuda para o território palestino por esse e por outros pontos.

O que acontecerá após a primeira fase do cessar-fogo?

O que acontecerá após os 42 dias da primeira fase ainda permanece em aberto. Além da continuação do cessar-fogo, uma nova retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e uma nova troca de reféns e prisioneiros continuam na mesa de negociação. Se as negociações fracassarem, é provável que os combates continuem.

Quem pode reivindicar o acordo entre Israel e Hamas — Joe Biden ou Donald Trump?

Além do anfitrião Catar, representantes do Egito, da Turquia e dos EUA atuaram como mediadores entre o governo israelense e a liderança do Hamas. Diante da iminente mudança de poder nos Estados Unidos, ambos os presidentes têm reivindicado o sucesso das negociações: o que sai, Joe Biden, e o que entra, Donald Trump.

Para o cientista político Johannes Thimm, da Fundação para Ciência e Política (SWP, na sigla em alemão), trata-se de uma "conquista compartilhada". Segundo disse em entrevista para a rádio WDR5, está claro que a equipe de Joe Biden, que ainda é presidente, fez "o trabalho principal” para os EUA durante os meses de negociações no Catar. "No entanto, o cenário ameaçador que Trump construiu também pode ter desempenhado um papel importante", avalia Thimm. Outro fator a ser considerado é provavelmente o fato de Israel ter conseguido alcançar muitos de seus objetivos militares.

Uma semana antes, Donald Trump havia ameaçado o Hamas: "Se esses reféns não estiverem de volta quando eu assumir o cargo, o inferno vai explodir no Oriente Médio. E isso não será bom para o Hamas, e não será bom para ninguém".

Onde o acordo ainda pode fracassar?

Mas antes que o acordo possa entrar em vigor, o gabinete israelense ainda precisa dar sua aprovação. Isso estava previsto para a manhã desta quinta-feira, mas a reunião foi adiada. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de rejeitar partes do acordo para "extorquir concessões no último minuto”. Um porta-voz do lado palestino negou a acusação.

No início da manhã de sexta-feira, o gabinete de Netanyahu confirmou que um acordo para libertar os reféns havia sido alcançado e que o premiê ordenou que o gabinete de segurança se reunisse para aprovar o cessar-fogo. O motivo do atraso teriam sido divergências sobre a troca de prisioneiros. Ainda é incerto se o gabinete irá aprovar o acordo. Os membros do parceiro de coalizão de extrema direita já anunciaram que votarão contra.