Uma das mais tradicionais mostras coletivas de arte contemporânea do circuito paulista, a 54ª Anual de Arte da FAAP, pode ser vista até dia 2 de março, no Museu de Arte Brasileira, o MAB FAAP. A exposição gratuita apresenta 32 obras de 22 estudantes do Centro Universitário, nas mais variadas linguagens, meios e suportes artísticos.
Segundo Marcos Moraes, responsável pela mostra, coordenador do curso de Artes Visuais da FAAP, e diretor do MAB FAAP, a exposição traz uma amostragem das preocupações, interesses e experimentos de linguagem dos artistas durante a faculdade. Dentre os temas das obras estão questões contemporâneas ligadas a migração, etnia, religiosidade, o espaço urbano, entre outros.
Em “Pipas de Marach”, o paulistano Guilherme Kherlakian apresenta uma obra contundente em que dispõe na parede dezenas de pipas pretas com fotos históricas deste que foi considerado um genocídio contra o povo armênio, em 1915, na cidade de Marach. Guilherme apresenta ainda outras duas obras, “Antítese do paterno” e “Olhares incoerentes”.
De Olivia Albergaria, a irreverência da obra “Brasil, pois que é minha expressão tão engraçada”, com impressões de pintura digital sobre ampliações fotográficas, traz frases recortadas de jornais como “Brasil anuncia compra da Disney”, ou “estes alimentos à base de internet podem aliviar nova era de imperialismo”, trazendo tanto figuras icônicas da TV brasileira, como propagandas.
O trajeto da linha 4 do Metrô de São Paulo foi a inspiração para a obra “Linha 4 – Amarela, da série Flaneuse”, de Ana Carolina Remígio Barros, Laura Giordano e Lucia Salgado Nogueira. Elas produziram monotipias e gravuras feitas com matrizes de acetato, realizadas durante o trajeto completo do percurso feito pelo metrô. Inspiradas pelo conceito de deriva, de Guy Debord, a experiência buscou refletir a possibilidade de anonimato das mulheres quando estão em deslocamento pela cidade. A montagem da obra tem 11 colunas e três linhas, correspondendo às paradas do metrô e às três vezes em que o trajeto foi realizado.
A praça onde é localizada a Biblioteca Monteiro Lobato, na zona oeste de São Paulo, é ponto de partida para a obra “Obra Sobe ao palco o passeador de cachorros e a criança chutando bola”, de 2023, das artistas Maria Tereza Bomfim e Luiza Corá Buso.
Elas descobriram nos arquivos da biblioteca que naquele espaço havia sido demolido, sem razões aparentes, o teatro Leopoldo Fróes, em 1973. Hoje em dia, no local onde ficava o teatro, há uma quadra poliesportiva e um cachorródromo. Com stencils, as artistas pintaram alguns assentos da plateia em volta da quadra, como se o palco ainda estivesse ali. Registraram também todos os trechos de notícias que citavam a existência e a memória deste teatro e colaram em forma de lambe-lambe em muretas, postes e bebedouros no entorno da praça. O registro dessas ações pode ser visto na exposição, em projeções de fotografias, moldes de stencil e lambe-lambes.
Artistas convidados
Esta edição conta ainda com a presença de artistas convidados – Fernanda Galvão e Pepi Lemes – que participaram do programa da Residência Artística FAAP, realizado em Paris. O programa seleciona um premiado a cada semestre -escolhido entre estudantes, artistas formados pela instituição ou professores- para ocupar o estúdio 1422, que a instituição mantém desde 1997 na Cité Internationale des Arts, uma residência internacional localizada às margens do Rio Sena.
A Anual de Arte acontece desde 1964 e tem como princípio incentivar a produção artística e cultural dos alunos, além de criar um espaço de reflexão a partir de novas ideias e percepções sobre a arte. “A Anual de Arte se tornou uma referência muito significativa para o campo das artes visuais contemporâneas. Ela tem muitas dimensões e uma delas é a preocupação com o projeto expográfico, com a produção de catálogo, a museologia. Muitos artistas que estão em galerias foram vistos pela primeira vez aqui, no espaço da Anual”, conta Marcos Moraes.
O edital para a exposição – com foco na produção visual – é aberto a todos os alunos. As obras foram selecionadas por uma comissão formada pelos professores dos cursos de artes visuais, Aline Van Langendonck, Marcos Moraes, Nancy Betts e Thiago Honório, a partir de 128 inscrições feitas pelos estudantes. Os critérios de seleção levam em consideração a qualidade das obras, o caráter experimental, o domínio das linguagens utilizadas e a coerência com os referenciais da contemporaneidade.
A mostra já lançou artistas como Ana Mazzei, Anaisa Franco, André Komatsu, Chiara Banfi, Flavia Junqueira, Graziela Kunsch, Guilherme Peters, Leticia Ramos, Lia Chaia, Marcela Tiboni, Marcelo Cidade, Marcius Galan, Mariana Palma, Marina Rheingantz, Maurício Ianês, Mauro Piva, Paula Garcia, Rafael Assef, Regina Parra, Renata Haar, Rodolpho Parigi e Rodrigo Sassi, entre tantos outros.
Artistas
- Ana Carolina Remígio Bastos (SP)
- Francisco Jose Pistelli Canto Porto (SP)
- Gabriel Amaral (SP)
- Giovanna Freire Ferrante Mussolin (SP)
- Guilherme Bacan Kherlakian (SP)
- Ir. Claudete de Lima Benitez (Assunción – Paraguai)
- Joana de Fatima (SP)
- João Victor Silva Lima de Souza Lapenta (SP)
- Laura Martins Ferreira Giordano (SP)
- Lucia Salgado Nogueira (Assis – SP)
- Laura Garjulli Agresti (SP)
- Lev Conehero (Araçatuba – SP)
- Luiza Corá Buso (Brasília – DF)
- Maria Tereza Thomaz Bomfim (RJ)
- Marina Faria Rodrilla (SP)
- Marina Kehl (SP)
- Olívia Albergaria (SP)
- Rayane Gomes Borges (São Sebastião do Paraíso – MG)
- Rodrigo Lahoud (SP)
- Sophia Lopes Lima (Brasília – DF)
- Thomas Yassuda Braeckman (SP)
- Tomás Hernandez (SP)
Serviço
Exposição 54ª Anual de Arte – Sala Annie Alvares Penteado
Até 2 de março de 2025
Entrada gratuita
Classificação etária: livre para todas as idades
MAB FAAP
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
Horário de funcionamento:
De terça a domingo, das 10h às 18h
Fechado às segundas-feiras
Local acessível para cadeirantes.