PlatôBR: Vice-presidente do PT diz que, em sua cidade, ‘vagabundo vai para a vala’

Prefeito de Maricá posa com irmãos acusados de matar Marielle Franco, defende maior aproximação com Centrão e cria polêmica dentro do partido do presidente Lula

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Washington Quaquá Foto: Reprodução/ Facebook

A foto do vice-presidente nacional do PT (partido do presidente Lula), Washington Quaquá, postada na quinta-feira, 9, ao lado de parentes de Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, presos no ano passado acusados de mandar matar a vereadora do Rio Marielle Franco já havia lhe rendido duras críticas da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, além de um pedido para que o caso seja analisado na Comissão de Ética petista.

Como se não bastasse,  ele deu mais um motivo para manifestações contrárias de seus colegas de legenda: em entrevista a um podcast, ele disse que, em sua cidade, Maricá (RJ), “vagabundo vai pra vala”.

Recém-empossado prefeito da cidade e eleito com mais de 70% dos votos, Quaquá, ex-deputado federal e que já comandou Maricá em outros dois mandatos consecutivos (entre 2009 e 2016), se alinhou, na prática, à tese de que “bandido bom é bandido morto”, combatida por políticos petistas e por entidades de defesa dos direitos humanos. Quaquá, frequentemente, tem defendido posições contrárias as de seu partido.

Ao ser perguntado, na semana passada, sobre a segurança em residências do programa “Minha Casa Minha Vida” na cidade, onde há denúncias de roubos e de que pessoas exibem armas em bailes ilegais, Quaquá afirmou que, apesar de essa responsabilidade ser do estado, e não do município, não deixará de agir. “(Para) quem fizer isso, o Estado de Direito vai agir. Vai agir, vai agir com dureza e vai para pra vala, porque vagabundo que porta fuzil e rouba casa de gente pobre, o lugar dele é na vala”, disse o prefeito.

“Vai ficar ruim para a bandidagem em Maricá. Nós não vamos permitir que a bandidagem domine território de Maricá”, anunciou. “Eles vão para pqp, mas em Maricá não vão ficar não”. Quaquá disse que “na minha cidade, mando eu”, e informou que “fechará as entradas e saídas do município”. Disse já estar em contato com o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro para ajudá-lo na missão e elogiou, pelo apoio na área de segurança, o governador do Rio, Claudio Castro (PL), adversário político do PT, definindo-o como “sempre um grande parceiro”.

Tema polêmico para o PT

O PT sempre recebeu críticas de setores mais conservadores e de comandantes e de forças policiais por causa de seu posicionamento em defesa dos direitos humanos. É acusado por esses setores de não priorizar a segurança, em suas gestões. Em seminário do PT em dezembro, em Brasília, a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, perguntou “para que serve o PT” , se não for “para que garanta a todas as famílias deste país” habitação digna, saneamento, lazer e também segurança. “Temos que discutir sobre o combate ao crime organizado, o tráfico de drogas, a bandidagem violenta. Temos que fazer essa discussão, que é importante, e a sociedade brasileira quer fazê-la”, afirmou Gleisi, no final do ano passado.

Para ela, a polícia tem de ser preparada para atuar com o objetivo de proteger a sociedade e realmente prender o bandido. “Claro, em casos graves, quando há tiroteio, problema, ninguém vai ficar contra a defesa do policial se ele matar alguém”, afirmou Gleisi, depois de criticar também a violência policial. O PT admitiu dificuldades para lidar com o tema segurança, debatidas no seminário, mas se mantém inflexível na política de defesa dos direitos humanos.

Já Quaquá sempre manifestou posições contrárias à maioria dos dirigentes de seu partido. Ele defende hoje, por exemplo, que o PT se aproxime mais do Centrão. Criticou o apoio de seu partido ao deputado Guilherme Boulos (Psol-RJ) na disputa pela prefeitura de São Paulo, sugerindo que o PT se aliasse ao candidato que disputava a reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Nunes era apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, alinhado ao bolsonarismo.

Antes da eleição, Quaquá já dizia que a candidatura de Boulos em São Paulo “havia sido preparada para perder”. A outra grande polêmica criada no partido foi a foto ao lado de familiares de Domingos Brazão e Chiquinho Brazão.