O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se colocou como candidato à reeleição. “Qual é o meu caminho em 2026? É continuar em São Paulo. Eu sou muito fiel àqueles que me elegeram. Tive um grande apreço da população do estado, que me acolheu, e nós temos projetos muito interessantes para entregar em 2028, 2029 e 2030”, afirmou o político no domingo, 15, em entrevista à TV Bandeirantes.
+PlatôBR: O horizonte de Caiado após ser declarado inelegível
Apesar da manifestação, Tarcísio aparece em apurações de bastidor e pesquisas de intenção de voto como um virtual presidenciável para o próximo pleito desde que Jair Bolsonaro (PL) foi declarado inelegível até 2030 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O governador é considerado um candidato com menos fontes de rejeição e, portanto, capaz de conquistar um eleitorado mais amplo do que outros nomes da direita radical que herdariam o espólio do ex-presidente. Ao mesmo tempo, busca expressar fidelidade a Bolsonaro para preservar os votos que já conquistou. Neste texto, o site IstoÉ mostra as razões políticas por trás dos movimentos públicos de Tarcísio.
Caminho (mais) seguro
Para driblar a rejeição provocada por um plano agressivo de privatizações e concessões, Tarcísio promove uma agenda de obras e expansão rodoviária que é popular entre os paulistas e se reflete em números. Em pesquisa divulgada pela Quaest na quinta-feira, 12, o ex-ministro da Infraestrutura foi aprovado por 61% dos eleitores do estado — um patamar que, historicamente, encaminha reeleições.
Os números demonstram uma superação, pela avaliação popular, da principal crise enfrentada pelo governador desde o início do mandato: entre os meses de novembro e dezembro de 2024, agentes da Polícia Militar protagonizaram uma sequência de abusos que abriram uma ferida na gestão da Segurança Pública, setor pior avaliado na administração do estado e sob uma gestão contestada do secretário Guilherme Derrite (PP).
Após a repercussão majoritariamente negativa dos casos, o mandatário disse que estava “completamente errado” sobre o uso de câmeras corporais por policiais, defendeu o trabalho de seu secretário e modulou o próprio discurso, passando a defender a legalidade e falar menos em punições violentas. Como consequência, foi respaldado por aliados no Legislativo e saiu do alvo das críticas.
No geral, o respaldo político tem sido outra fonte de certezas para Tarcísio na esfera estadual. Com um amplo arco de partidos na base do governo na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), o mandatário viu aliados conquistarem a maior parte das prefeituras do estado em outubro — 629 dos 645 municípios, de acordo com levantamento do jornal O Globo —, foi essencial para a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) na capital e tem o projeto sustentado mesmo por lideranças menos associadas à direita, como Paulo Serra, prefeito de Santo André e presidente estadual do PSDB. “Nossa relação com o governador é a melhor possível e sua decisão [sobre 2026] é fundamental para o planejamento de outros partidos, incluindo o PSDB. Caso deseje renovar o mandato, ele quase que define a eleição estadual”, disse em entrevista ao site IstoÉ.
O temor da traição
A despeito de gozar de um apoio pluripartidário no estado, Tarcísio fez questão de declarar, na mesma entrevista em que se lançou à reeleição, fidelidade a Jair Bolsonaro (PL) a nível nacional. “Temos uma grande liderança da direita, que é o Bolsonaro, e eu entendo que o candidato viável será o próprio ou aquele que ele ungir”, afirmou.
A declaração seguiu o tom habitual do mandatário em relação ao ex-chefe — quando Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, Tarcísio foi o único governador de oposição ao governo Lula (PT) a defendê-lo publicamente.
Em agenda na capital paulista durante as eleições municipais, a dupla foi questionada por repórteres a respeito de uma candidatura à próxima eleição presidencial. Antes que o ex-ministro pudesse se manifestar, Bolsonaro respondeu com seu nome do meio: “O nome é Messias”. Nas oportunidades em que outro político de direita se declara apto para o pleito, a reação do ex-presidente é nessa linha — o que Tarcísio evita, a todo custo, provocar.
“O governador esteve em manifestações contrárias ao STF (Supremo Tribunal Federal), não condenou os atos criminosos do 8 de janeiro e evita criticar o ex-presidente. Isso acontece porque ele precisa de Bolsonaro até para uma recondução ao cargo que ocupa”, disse Lilian Sendretti, cientista política e pesquisadora do CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), ao site IstoÉ.
O governador tem alguns exemplos por trás da fidelidade. Nas eleições de 2022, enquanto ele era eleito para o Executivo com apoio do ex-chefe, bolsonaristas arrependidos como os ex-deputados Joice Hasselmann (Podemos) e Alexandre Frota (PDT) não renovaram seus mandatos, e o ex-governador João Doria (PSDB) desembarcava do Palácio dos Bandeirantes com uma candidatura frustrada à Presidência da República na bagagem.
Em 2024, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), foi outro a entrar na mira de Bolsonaro e seus apoiadores após se antecipar na articulação eleitoral com o lançamento público de uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto. Em todos os casos citados, a oposição ao principal líder da direita radical custou o futuro político dos “infiéis”.
Os riscos da aposta
Para além da chance de arriscar o apoio do eleitorado e de lideranças fiéis a Bolsonaro, Tarcísio deve se deparar com uma missão laboriosa se for ungido a uma candidatura presidencial em 2026. Virtual postulante à reeleição, o presidente Lula teve 52% das intenções de voto ante 26% do governador em simulação realizada pela Quaest. No cenário em que enfrenta o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) — em uma repetição do segundo turno estadual de 2022 —, são 44% a 25% a favor do petista.
Ainda que o governo federal tenha pontos relevantes de desgaste, a avaliação difundida por políticos da base de Lula é que dados da economia, como a projeção de alta anual de 3,3% do PIB (Produto Interno Bruto) e a taxa de 6,2% de desemprego, menor já registrada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), criam um ambiente propício à continuidade da gestão.
Secretário de governo de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab usa essa linha para defender que Tarcísio caminhe para a reeleição. “Desprezar o Lula é [para] quem não conhece política”, disse em entrevista ao canal CNN Brasil. Em outro momento, o secretário afirmou ver 2030 como a disputa presidencial ideal para o aliado.
Mesmo na raia da direita, os competidores se acumulam e não há consenso. Além de Caiado, o próprio Kassab citou o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), como possível concorrente ao Planalto, mesma condição em que o governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, se apresenta. Correndo por fora, Pablo Marçal (PRTB) prometeu, depois de terminar em terceiro lugar na disputa pela prefeitura da capital paulista e ganhar o desafeto de Tarcísio, que voltará a pleitear um cargo no Executivo em 2026. “Pode ficar tranquilo que vou estar lá”, disse o ex-coach. Mais afincado à direita radical, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) declarou ao jornal Folha de S. Paulo que poderá ser o “plano B” — atrás do próprio pai – do grupo em 2026.
“A depender da conjuntura da eleição e das forças que conseguir aglutinar ao seu redor, Tarcísio poderá atrair um eleitorado que é antipetista, mas também é antibolsonarista. Ao mesmo tempo, esse processo [de conquista de apoios] pode afastar eleitores com adesão mais ideológica ao bolsonarismo”, afirmou Lilian Sendretti.