13/12/2024 - 12:33
“O povo sírio está unido!”. Milhares de pessoas celebraram a queda do presidente Bashar al Assad na sexta-feira (13) na mesquita dos Omíadas em Damasco, seguindo o apelo do líder do novo governo para celebrar “a vitória da revolução” nas ruas.
“Quero parabenizar o povo sírio pela vitória da revolução e convido-o a sair às ruas para expressar sua alegria”, disse Jolani, que agora se apresenta com seu nome verdadeiro, Ahmed al Chareh.
Após uma ofensiva de 11 dias, a coalizão rebelde dominada pelo grupo islamista sunita radical Hayat Tahrir al Sham (HTS) tomou Damasco no domingo, expulsando a família Assad, que estava no poder há 50 anos.
Na capital Damasco, no norte, em Aleppo e no sul, em Sueida, milhares de homens, mulheres e crianças se reuniram nos centros de suas respectivas cidades. Em uma atmosfera festiva, muitos agitaram a bandeira com três estrelas, um símbolo do movimento pró-democracia de 2011 adotado pelas novas autoridades.
“Os Assad, pai e filho, nos oprimiram, mas nós libertamos nosso país da injustiça”, comemorou um policial de 47 anos em Aleppo.
“Nossa alegria é indescritível”, disse Haitham Hudeifa, de 54 anos, em Sueida, palco de manifestações contra Assad por um ano e meio.
“Unido, unido, unido, o povo sírio está unido”, cantavam fiéis na famosa mesquita dos Omíadas, em Damasco, onde Jolani é esperado para a oração semanal.
Mas o clima de comemoração também expôs as paredes da mesquita, onde há dezenas de fotos de pessoas que desapareceram nas mãos dos antigos serviços de segurança. O mural testemunha a dolorosa busca por seus parentes após décadas de repressão.
O país, multiétnico e dividido, tem múltiplos desafios à frente aos quais as novas autoridades tentam tranquilizar com mensagens de calma enquanto a comunidade internacional se mobiliza.
Os líderes dos países do G7, que reúne as principais potências ocidentais, disseram que apoiariam um governo “inclusivo” e exigiram o respeito dos direitos das mulheres e das minorias.
A Jordânia sediará uma cúpula sobre a situação na Síria no sábado, com a participação de ministros e diplomatas americanos, europeus, árabes e turcos.
O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajou para a Turquia e se reuniu com seu contraparte turco, Hakan Fidan, nesta sexta-feira, após uma visita à Jordânia, onde pediu uma “transição inclusiva” para um governo “responsável e representativo”.
O Bahrein, que preside a atual sessão da cúpula árabe, afirmou estar pronto para cooperar com as novas autoridades, em uma carta a Jolani.
A coalizão rebelde HTS afirma ter rompido com o jihadismo, mas permanece em uma lista que a classifica como “terrorista” por parte de vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.
Blinken disse nesta sexta-feira, durante uma visita à Turquia, que continua sendo “imperativo” combater o grupo jihadista Estado Islâmico na Síria após a queda de Assad.
No nordeste da Síria, a Turquia apoia as forças rebeldes engajadas contra as Forças Democráticas Sírias (SDF), dominadas por curdos e apoiadas pelos EUA contra o EI.
A Turquia “nunca permitirá fraqueza na luta contra” o EI, garantiu o presidente Recep Tayyip Erdogan a Blinken na quinta-feira. Mas ressaltou sua determinação em impedir que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, separatista) se aproveite da situação na Síria, referindo-se ao grupo que a Turquia considera terrorista e núcleo das SDF.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ordenou nesta sexta-feira que o Exército “se preparasse para permanecer” durante todo o inverno boreal (verão no hemisfério sul) na zona de contenção entre Israel e Síria nas Colinas de Golã, que foram parcialmente anexadas por Israel.
Nos últimos dias, o Estado israelense realizou centenas de ataques na Síria contra instalações militares estratégicas. Seu objetivo é garantir que os equipamentos do exército sírio não caiam nas “mãos erradas”, afirmou Blinken.
O primeiro-ministro da transição, Mohammed al Bashir, instou milhões de sírios no exílio a retornarem ao país, comprometendo-se a “garantir os direitos de todos”.
Cerca de seis milhões de sírios, um quarto da população, fugiram de seu país desde 2011, quando uma repressão às manifestações pró-democracia levou a uma guerra civil devastadora que deixou mais de meio milhão de mortos.
A UE anunciou nesta sexta-feira que implementará uma “ponte aérea” para entregar 50 toneladas de ajuda humanitária à Síria, a primeira operação de ajuda europeia desde a queda de Assad.
A ONU estima que mais de um milhão de pessoas tenham sido deslocadas desde o início da ofensiva rebelde.
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