Ao comentar o aumento de 1 ponto porcentual na taxa básica de juro da economia (a Selic), para 12,25% ao ano, nesta quarta-feira, 11, os economistas de alguns dos principais bancos privados do País reforçaram que o Comitê de Política Monetária (Copom) demonstrou estar fazendo a sua parte. Porém, ainda há incerteza se essa elevação no juro, embora alta, e as próximas já sinalizadas serão suficientes para o controle da inflação.

Leia abaixo essa e outras ponderações dos economistas de cada banco:

Itaú: ‘Curiosamente, o texto não mencionou que a decisão foi unânime’

Ao economista-chefe do Banco Itaú, Mario Mesquita, ex-diretor do Banco Central, chamou a atenção o comunicado do Copom não ter destacado que a decisão foi unânime. Por isso ele levanta a possibilidade de dissenso entre os integrantes do comitê, apesar de todos terem votado pelo aumento de 1 ponto porcentual.

“Curiosamente, embora todos os membros do conselho tenham votado pelo aumento de 100 p.b. (1 ponto porcentual), o texto não mencionou que a decisão foi unânime”, afirma Mesquita, em relatório. “Isso, em nossa opinião, levanta a possibilidade de que não houve consenso sobre a sinalização.”

Segundo Mesquita, é possível, “embora menos provável”, que alguns integrantes do Copom tenham optado “por um ritmo diferente de aumento”, talvez de 0,75 ponto porcentual, “mas acabaram apoiando a maioria para minimizar ruídos”.

Para o economista, essa dúvida pode ser dirimida na ata da reunião do Copom, que sairá na terça-feira, 17, e no Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado na quinta-feira, 19.

“Por enquanto, esperamos que a taxa básica seja elevada em 100 pontos-base (1 ponto porcentual). na próxima reunião de política monetária, e muito provavelmente na seguinte também”, afirma Mesquita.

Bradesco: ‘Selic a 14,25% é maior do que nossa projeção; reavaliaremos cenário nos próximos dias’

O Bradesco avalia que a sinalização do Copom de Selic a, no mínimo, 14,25% no começo de 2025 é maior do que a projeção atual do banco, o que fará com que haja uma reavaliação do cenário nos próximos dias.

O Bradesco lembra ainda que o movimento na Selic nesta quarta-feira, 11, de alta de 1 ponto porcentual, veio em linha com o precificado na curva de juros, mas ficou acima dos 0,50 ponto porcentual estimado pelo banco.

Santander: ‘Copom deve ser bem recebido por mostrar BC tentando retomar rédeas’

A elevação da Selic em 1 ponto porcentual e o comunicado que se seguiu à decisão do Copom mostram uma política monetária “ativa” que tenta retomar as rédeas da condução de preços e da inflação, avalia o economista para a área de política monetária do Santander Brasil, Marco Antonio Caruso, em áudio divulgado à imprensa. Ele acredita que, por isso, a ação deve ser bem recebida pelo mercado financeiro.

“Deveremos ver os vértices mais longos (da curva de juro) abrindo ou, quem sabe, até cedendo contra uma curva curta que vai responder a esse choque. No final do dia, essa soma de fatores deve levar a uma leitura do mercado de que o movimento (do Copom) é correto”, detalha ele.

Caruso alerta para possíveis consequências desse choque no juro em outras áreas, como por exemplo, a política fiscal, uma vez que uma elevação tão forte na Selic tende a levar desaceleração da atividade econômica.

“Vai ser muito importante acompanhar qual é a resposta da política fiscal a um aparente tratamento de choque nos juros, tendo em vista que até agora a postura fiscal e do governo tem sido de não aceitar qualquer tipo de possibilidade de desaceleração da atividade econômica. E um tratamento de choque assim muitas vezes pode significar uma desaceleração mais forte do PIB”, explica o economista.

BTG: ‘Decisão retira sucessão no BC do holofote; até 6 de maio sabemos que Selic será 14,25%’

O comunicado do Copom, que além da alta de 1 ponto porcentual da Selic, para 12,25%, antecipa mais dois aumentos de igual magnitude, tira a troca de comando na autarquia dos holofotes, ao menos temporariamente, na avaliação do estrategista macro do BTG Pactual, Portfolio Solutions, Alvaro Frasson.

Para ele, o comunicado firme do colegiado de diretores do Banco Central (BC) é “positivo e importante” para a credibilidade da instituição, devendo afastar a desconfiança sobre a condução da política monetária no início do mandato de Gabriel Galípolo.

“Até 6 de maio, sabemos que a Selic será 14,25%”, comenta Frasson, referindo-se ao aviso de que em cada uma das próximas duas reuniões o Copom, salvo surpresas, vai subir os juros de referência em um ponto porcentual. Fica assim em aberto apenas o que o colegiado vai decidir na terceira reunião de 2025, marcada para 6 e 7 de maio.

O comunicado desta quarta-feira, avalia o estrategista macro, surpreendeu positivamente o mercado ao anunciar uma alta, parcelada em três reuniões, de 3 pontos porcentuais na Selic. “Foi a melhor decisão porque havia desconfiança se isso (um aumento desta magnitude) seria feito em momento de transição no BC”, comenta.

“O comunicado faz um trabalho positivo e importante para a credibilidade. Nisso, acerta e retira o BC dos holofotes. O debate nos próximos três ou quatro meses não é mais política monetária”, acrescenta Frasson.

Conforme o estrategista, mais do que um forward guidance – ou seja, uma sinalização dos próximos passos -, a mensagem de que o Copom antevê a repetição da alta desta quarta-feira é uma “certeza”, uma clara antecipação das decisões das próximas reuniões do comitê.

Frasson pondera que a credibilidade de Galípolo ainda terá que ser construída “reunião após reunião”, mas o comunicado já adianta um bom ambiente para os primeiros encontros do Copom.

Com a posição mais firme, o BC tem mais chance de reancorar as expectativas de inflação, mas, pondera o estrategista, será preciso também um arrefecimento da atividade econômica, ainda muito aquecida. Se esta reancoragem acontecer ao longo do primeiro trimestre de 2025, diz Frasson, talvez o BC tenha espaço para voltar a cortar os juros no fim do ano que vem, algo que o mercado vinha retirando do cenário.

Inter: ‘Há risco fiscal, mas BC está fazendo papel na política monetária’

A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, considera que o Brasil passa por um risco de dominância fiscal, em que um Banco Central (BC) mais hawkish (rigoroso), com alta significativa de juros, pode não ser suficiente para reancorar as expectativas.

“Acho que podemos ver um impacto grande (da alta expressiva de juros pelo BC) na economia sem o benefício de controlar inflação caso o cenário fiscal continue se deteriorando, impactado pelo câmbio e por impulsos fiscais. Mas, ainda assim, o BC está fazendo o seu papel na política monetária”, afirma.

Segundo ela, o Copom foi “bastante duro, mostrando desconforto muito grande com a desancoragem das expectativas”. A expectativa do Inter era de alta de 0,75 ponto porcentual da Selic nesta quarta-feira, 11, mas o BC elevou a taxa em 1 ponto porcentual e ainda indicou mais duas altas na mesma magnitude.

Em um cenário alternativo, Vitória menciona que há risco de que o governo se torne “ainda mais expansionista do lado fiscal, para contrabalançar o ajuste monetário forte”, o que geraria juros altos, inflação acelerando e crescimento da economia desacelerando.

A expectativa da economista-chefe é de que o mercado reaja ao Copom com um ajuste no câmbio, de valorização do real. Na curva de juros, Vitória vê “um ajuste nas taxas de curto prazo – porque não havia expectativa de 3 altas de 1 ponto porcentual -, acompanhada de estabilização da parte mais longa da curva”.

Vitória pondera que o câmbio depreciado é decorrente da deterioração fiscal, mas também do cenário externo. Caso o internacional se torne mais benigno, com inflação externa convergindo para a meta e abrindo espaço para mais cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), a tendência é de fluxo maior para emergentes, aponta.

C6 Bank: ‘Alta de juro sem fiscal contracionista deve manter inflação ainda elevada’

Uma Selic em 14,25% no próximo mês de março, conforme se comprometeu o Copom em seu comunicado da decisão de dezembro de elevar a Selic em 1 ponto porcentual, pode não ser suficiente para moderar a inflação no País. A avaliação é da economista do C6 Bank Claudia Moreno, que reforça que, para isso acontecer, é necessária, também, uma política fiscal contracionista.

“A nossa dúvida é em que medida essa política monetária vai ser suficiente para controlar os preços em um contexto em que a política fiscal tem sido expansionista. Na nossa visão, mesmo com alta de juros, se você não tiver uma política fiscal contracionista, a inflação deve permanecer elevada”, detalhou Moreno, em áudio enviado à imprensa.

Para ela, com a decisão desta quarta-feira, 11, não há dúvida de que o BC reconheceu que o cenário está mais adverso, e reafirmou o compromisso da autoridade monetária em cumprir com as metas de inflação. /Com Antonio Perez, Caroline Aragaki, Daniel Tozzi Mendes, Eduardo Laguna e Mateus Fagundes