O Parlamento da Coreia do Sul, com a presença de 190 de seus 300 membros, aprovou uma moção na quarta-feira (horário local) exigindo que a lei marcial declarada pelo presidente Yoon Suk Yeol fosse suspensa, segundo imagens ao vivo da TV.

Mais cedo, Yeol declarou lei marcial em um discurso surpreendente na televisão, atacando oponentes políticos internos e causando um abalo sísmico em todo país.

Yoon disse que os partidos de oposição fizeram o processo parlamentar como refém. Ele prometeu erradicar as “vergonhosas forças antiestatais pró-Coreia do Norte” e disse que não tinha escolha a não ser tomar a medida para salvaguardar a ordem constitucional.

A agência de notícias Yonhap citou os militares dizendo que as atividades do Parlamento e dos partidos políticos seriam proibidas e que a mídia e as editoras estariam sob o controle do comando da lei marcial.

Yoon não citou nenhuma ameaça específica da Coreia do Norte com armas nucleares, concentrando-se em seus oponentes políticos internos. É a primeira vez desde 1980 que a lei marcial é declarada na Coreia do Sul.

A Coreia do Sul teve uma série de líderes autoritários no início de sua história, mas tem sido considerada democrática desde a década de 1980.

O won coreano teve uma queda acentuada em relação ao dólar norte-americano. Um funcionário do banco central sul-coreano disse que estava preparando medidas para estabilizar o mercado, se necessário.

O ministro das Finanças, Choi Sang-mok, convocou uma reunião de emergência entre as principais autoridades econômicas, informou seu porta-voz em uma mensagem de texto.

O antecessor de Yoon, Moon Jae-in, do Partido Democrático, disse em um post no X que a democracia do país está em crise.

“Espero que a Assembleia Nacional aja rapidamente para proteger nossa democracia”, escreveu ele em uma postagem. “Peço às pessoas que unam forças para proteger e salvar a democracia e para ajudar a Assembleia Nacional a funcionar normalmente.”

Os Estados Unidos estão em contato com o governo sul-coreano e estão monitorando a situação de perto, disse um porta-voz da Casa Branca.

Cerca de 28.500 soldados norte-americanos estão posicionados na Coreia do Sul para protegerem o país da Coreia do Norte. Um porta-voz do comando militar dos EUA não respondeu a várias ligações telefônicas.

O gabinete do primeiro-ministro do Japão não pôde ser contactado imediatamente para um comentário fora do horário comercial.

YOON ATACA O PARLAMENTO

“Declaro a lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas norte-coreanas, para erradicar as vergonhosas forças antiestatais pró-norte-coreanas que estão saqueando a liberdade e a felicidade de nosso povo e para proteger a ordem constitucional livre”, disse Yoon.

Yoon não especificou imediatamente quem constituía as forças antiestatais pró-Coreia do Norte. Mas, no passado, ele citou essas forças como obstáculos à sua agenda e como um enfraquecimento do país.

Ele não disse no discurso quais medidas específicas serão tomadas. A Yonhap informou que a entrada do prédio do Parlamento foi bloqueada.

“Tanques, veículos blindados de transporte de pessoal e soldados com armas e facas governarão o país”, disse Lee Jae-myung, líder do Partido Democrático, da oposição, que tem a maioria no Parlamento, em uma transmissão online ao vivo.

“A economia da República da Coreia entrará em colapso irremediável. Meus concidadãos, por favor, compareçam à Assembleia Nacional”, acrescentou.

Yoon citou uma moção apresentada pelo Partido Democrático nesta semana para destituir alguns dos principais promotores do país e sua rejeição de uma proposta orçamentária do governo.

“Nosso Parlamento se tornou um antro de criminosos. Ele paralisou os sistemas administrativo e jurídico ao aprovar legislações (de oposição) e está tentando derrubar nosso sistema democrático”, disse Yoon.

Na segunda-feira, os ministros da Coreia do Sul protestaram contra a ação do partido de oposição, na semana passada, de cortar mais de 4 trilhões de wons da proposta orçamentária do governo. Yoon disse que essa ação prejudica o funcionamento essencial da administração do governo.

Os partidos de oposição da Coreia do Sul realizaram uma manifestação no sábado pedindo que Yoon aceitasse a investigação de um promotor especial sobre as alegações de fraude contra a primeira-dama, o mais recente protesto do partido e de grupos cívicos nas últimas semanas contra Yoon.

Em outubro, panfletos de propaganda norte-coreana, aparentemente transportados por balões, foram encontrados espalhados pelas ruas de Seul, incluindo alguns que faziam ataques pessoais a Yoon e à primeira-dama.