01/12/2024 - 20:54
As vendas dos principais fornecedores de armas do mundo foram impulsionadas em 2023 pelas guerras na Ucrânia e em Gaza, além das tensões na Ásia, enquanto fabricantes sediados na Rússia e no Oriente Médio registraram aumentos expressivos, revelou um estudo.
As vendas de armas e serviços para uso militar das 100 maiores empresas do setor armamentista global cresceram 4,2% em 2023, totalizando US$ 632 bilhões (R$ 3,82 trilhões), segundo um relatório publicado neste domingo (1º) pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI).
Os lucros da indústria de defesa haviam caído em 2022 devido à incapacidade dos fabricantes de atender à demanda, mas muitas empresas conseguiram intensificar sua produção em 2023, conforme apontaram os autores do estudo.
Um exemplo dessa tendência é que, pela primeira vez, todas as 100 empresas dessa lista ultrapassaram o nível de US$ 1 bilhão (R$ 6 bilhões) em vendas no último ano.
“Em 2023, houve um aumento notável nos lucros com vendas de armas, e é provável que isso continue em 2024”, afirmou Lorenzo Scarazzato, pesquisador do programa sobre gastos militares e produção de armas do SIPRI, citado em comunicado.
Os lucros das 100 maiores fabricantes de armas “ainda não refletem totalmente a escala da demanda, e muitas empresas iniciaram campanhas de recrutamento, o que sugere otimismo em relação às vendas futuras”, acrescentou.
Fabricantes menores se mostraram mais eficazes em atender à demanda gerada pelas guerras em Gaza e na Ucrânia, pelas crescentes tensões no leste asiático e pelos programas de rearmamento em outras regiões, destacou o SIPRI.
Nan Tian, diretor do programa que estuda gastos militares no SIPRI, explicou que muitas empresas “são especializadas em componentes ou constroem sistemas que dependem de cadeias de suprimento específicas”, o que permite uma reação mais ágil.
Por outro lado, os dois maiores atores do mercado registraram quedas em seus lucros: Lockheed Martin teve uma redução de 1,6%, e RTX (antiga Raytheon Technologies), de 1,3%.
Os gigantes do setor “frequentemente dependem de cadeias de suprimento complexas e multilaterais”, ficando expostos às dificuldades de abastecimento persistentes em 2023.
No cenário global, destacam-se as empresas americanas (41), que registraram um aumento de vendas de 2,5% no último ano, representando metade do faturamento global do setor.
Na lista, 27 empresas europeias apresentaram um aumento médio de vendas de 0,2%.
Fabricantes de sistemas complexos na Europa estavam, em 2023, ainda cumprindo contratos antigos, por isso esses números não refletem plenamente os pedidos recentes.
Ao mesmo tempo, outros fabricantes europeus tiveram um crescimento significativo nos lucros com armamentos, impulsionado pela demanda gerada pela guerra na Ucrânia, especialmente em munições, artilharia e sistemas de defesa aérea e terrestre, destacou o SIPRI.
Os dados da Rússia – que lançou a invasão à Ucrânia em fevereiro de 2022 – estão incompletos, mas indicam que sua economia está cada vez mais voltada para a guerra.
O relatório revelou que as vendas dos dois grupos russos analisados aumentaram 40%, especialmente devido ao crescimento de 49% nas vendas do conglomerado estatal Rostec.
Fabricantes do Oriente Médio foram favorecidos tanto pela guerra na Ucrânia quanto pelos primeiros meses da ofensiva de Israel em Gaza, desencadeada após o ataque do movimento palestino Hamas em 7 de outubro de 2023, registrando um aumento médio de 18% nas vendas.
Os três fabricantes israelenses dessa lista alcançaram um recorde de vendas de US$ 13,6 bilhões (R$ 82,3 bilhões), um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Já os três grupos sediados na Turquia, como o fabricante de drones Baykar, registraram um crescimento de 24%, impulsionados pelo conflito na Ucrânia e pelos investimentos turcos em defesa.
Na Ásia, a tendência de rearmamento ficou evidente com o crescimento médio de 39% nos lucros dos quatro fabricantes sul-coreanos e de 35% nas cinco empresas japonesas do ranking.
Por outro lado, empresas chinesas tiveram um aumento de 0,7% nos lucros, alinhado ao contexto de “desaceleração econômica” local, mas ainda mantiveram suas vendas acima de US$ 103 bilhões (R$ 623,4 bilhões).
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